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Editorial da Semana | 23 de janeiro de 2020

1917

Editorial da Semana | 23 de janeiro de 2020

Estreias e Dicas desta quinta-feira

Por Redação

Cada vez as semanas conjugam mais novidades e emoções. E nós precisamos estar atentos. Após os indicados ao Oscar, domingo foi dia dos vencedores do SAG Awards 2020, com matéria especial aqui em tempo real. E os indicados ao prêmio Framboesa de Ouro deste ano. A temporada de premiações obriga que grandes estreias sejam antecipadas e disputem espaço no circuito distribuidor. O filme “Antologia da Cidade Fantasma” precisou ser postergado por falta de salas. A semana também contou com aniversários ilustres. De Federico Fellini que recebeu um Especial Vertentes. De David Lynch que completou 74 anos e comemorou com um suspeito macaquinho falante na Netflix. De São Sebastião, padroeiro da cidade do Rio de Janeiro, eternizado polemicamente nas lentes de Derek Jarman. Sim, tudo no mesmo dia, 20 de janeiro de 2020, data mais que cabalística. A lista de filmes novos é extensa. Da pré com Judy e seu arco-íris a um animal espião, passando pela estética da violência policial, Tom Hanks sendo Tom Hanks, planos sequências, músico icônico, o melhor verão, possessão, humor português. Leia todos as críticas aqui! Tem gênero para todo gosto. Há também o curta-metragem da semana.

PRÉ-ESTREIA

Judy: Muito Além do Arco-Íris

Há algo em JUDY: MUITO ALÉM DO ARCO-ÍRIS, muito na maneira como Zellweger performa a protagonista, que nos remete à saga da decadência da Norma Desmond vivida por Gloria Swanson em “Crepúsculo dos Deuses” (1950). Principalmente essa não-aceitação da condição delicada na qual se encontra, mantendo em alta seu entendimento como grande estrela de cinema. Nesse aspecto o ritmo do longa-metragem ajuda muito na sensação de ótimo trabalho de Renée Zelwegger. São longas sequências em que a personagem pode ser dissecada por quem a interpreta. Quem está pela casa dos trinta anos vai lembrar de dois episódios bem representativos de como nada mudou em relação ao trato com os artistas. A Judy dessa obra encontra os mesmos problemas relacionados à retirada de poder familiar sofrido por Britney Spears provocado por seu pai e à espetacularização vivenciada por Amy Winehouse quando subia ao palco sem condições físicas de trabalho. Até hoje a indústria do entretenimento dos Estados Unidos segue fazendo suas vítimas. Leia a crítica completa aqui!

O mais edificante em “COM AMOR, VAN GOGH: O SONHO IMPOSSÍVEL”  é como Kobiela conseguiu superar a desconfiança sobre algo que, no papel, parecia irrealizável. Ela mesma menciona que o ceticismo envolvendo a produção foi ampliado pelo fato de ser iniciante e, sobretudo, mulher. Mesmo com a sensação de que estava criando, ao lado do produtor Hugh Welchman algo jamais visto, não há registro de muitas imagens dos bastidores. Por isso, o documentário usa em excesso os depoimentos colhidos a posteriori. É bem pouco técnico, priorizando objetos como a relação da cineasta com o pintor ainda no Ensino Médio e um panorama sobre a vida de Van Gogh que é quase um verbete do Wikipedia animado. Contudo, mesmo em questões mais afetivas, a exploração é rasa. A diretora, por exemplo, se disse incentivada por ter – no momento em que colocava a por em prática o projeto – os mesmos 29 anos do holandês quando este começou a pintar. Fator pouco explorado pelo roteiro, creditado ao próprio Welchman.

Uma vez pensado para exibição na televisão, o longa-metragem tem alguns deslizes técnicos que chamam a atenção. Um depoimento, por exemplo, foi gravado sem a utilização de microfones, gerando uma diferença de percepção considerável. Ao focar no apoio recebido pelo Instituto Polonês de Cinema, preenche essa passagem com vídeos institucionais que destoam do registro menos comercial do produto. No mais, nada que torne a experiência e assisti-lo desagradável. Leia a crítica completa AQUI!

 

ESTREIAS

O que mais chama a atenção nos primeiros minutos de 1917 é a maneira como o cinema ianque (dessa vez em parceria com o britânico) insiste em trazer uma limpeza, um asseio estranho a um ambiente como uma trincheira de guerra. Escolha estética feita para mostrar quão puros aqueles homens são dentro da segurança pré-combate. A maneira com a qual Mendes passeia a câmera é quase como se as modernas técnicas de captação de imagens fossem mastigadas para o melhor deleite do cidadão-médio. Há firmeza e foco, ao contrário do ambiente desesperador, tremidamente vibrante de um conflito dessa magnitude. O susto e o choque que possam causar decorrem da valorização da morte a partir da potencialização do sangue – sensação de sujeira feita por contraste.Há um toque de escatologia reverberada com a mesma crueza das obras de Mel Gibson, mas equilibrada a ponto de não perder potenciais fãs do produto. Leia a crítica completa AQUI

Fred Rogers (Tom Hanks, que pode ser indicado ao Oscar novamente após quase vinte anos – ele foi ignorando por obras como “Capitão Phillips“, por exemplo) era uma espécie de mistura de Ana Maria Baga, Bia Bedran e algum religioso menos agressivo. Seu programa foi produzido por mais de três décadas nos Estados Unidos e formou gerações de espectadores com uma linguagem educativa muito semelhante ao que a TV Cultura faz no Brasil. Um típico cidadão de seu país, que alia o sucesso profissional com o bom mocismo de um longo casamento e a quase unanimidade de carinho do público. Hanks sempre foi um pouco Fred Rogers em sua carreira que completa em 2020 quarenta anos. Talvez por isso é provável que boa parte da plateia de “UM LINDO DIA NA VIZINHANÇA” assista aos primeiros minutos do filme preocupada em mergulhar no personagem. O que os jovens roteiristas Micah Fitzerman-Blue e Noah Harpster encontram como solução para tirar a estrela de Hollywood do pedestal é gastar quase o primeiro ato inteiro formatando a obra como se fosse uma edição do programa do biografado. Leia a crítica completa AQUI!

Adoniran: Meu Nome é João Rubinato

“ADONIRAN: MEU NOME É JOÃO RUBINATO” bebe em duas fontes nos seus primeiros momentos. Há vezes em que utiliza o biografado, resgatando arquivos de áudio, para que o mesmo conte sua história em primeira pessoa. Uma maneira de trato com vida e obra que não deixa espaço para debates acerca da abordagem, tal qual as escolhas da equioe de Humberto Mauro. Em outras passagens, fica nítido o objetivo de absolver o protagonista dos motivos de sua morte. Esse “bode na sala” que outro documentário, Cássia, sobre a cantora Cássia Eller, deixa pastando até a parte final, o longa-metragem escrito e dirigido por Pedro Soffer Serrano afasta na primeira oportunidade. Tira o foco e a sensação de que o julgamento moral acerca do fato de Adoniran Barbosa ser boêmio supera tudo o que foi produzido pelo artista, cortando de forma seca essa demanda logo na largada. Serrano, em seu primeiro trabalho, construiu uma obra de ficção que recria o universo pensado pelo compositor no curta-metragem “Dá Licença de Contar” (que pode ser assistido na plataforma Vimeo, canal do próprio realizador, clicando aqui). Leia a crítica completa AQUI!

A Divisão

O retorno aos mesmos paradigmas ganha novos ares com “Central do Brasil”, de Walter Salles Jr, “Baile Perfumado”, de Lírio Ferreira e até com os documentários “Santo Forte”, de Eduardo Coutinho e o que faz mais relação direta com o A DIVISÃO: “Notícias de Uma Guerra Particular”, de João Moreira Salles. Aqui temos uma mudança primordial de sujeito, os olhos se voltam novamente para o favelado, mas com narrativas contundentes das relações entre tráfico e polícia, que desaguou posteriormente em filmes aclamados e de grande alcance popular como “Cidade de Deus”, de Fernando Meirelles, “Ônibus 174”, “Tropa de Elite 1 e 2“, de José Padilha. No que Ivana Bentes chama de “cosmética da fome”, por justamente apresentar a realidade brasileira da favela e do sertão com inocência, pureza e utilização de técnicas do cinema-internacional, diferenciando-se, portanto, da estética violenta simbólica proposta pelo cinema-novo dos anos 1960. Aqui vale mais a glamourização, o espetáculo de belas imagens e técnica, criando um folclore midiático das histórias de crimes, massacres por meio de uma pobreza consumível. Leia a crítica completa AQUI!

Brincando constantemente com as possibilidades que a linguagem audiovisual tende a oferecer, O FILME DO BRUNO ALEIXOse revela uma experiência formalmente divertida, ao menos, durante sua metade inicial, já que o tempo todo parece disposto a surpreender o espectador, por exemplo, ao pausar a narrativa para adicionar um intervalo comercial (como se isto fosse um product placement comum) e ao subitamente “congelar” o frame para mudar as vozes dos atores que se encontram em cena, dublando-os a fim de tornar o filme naturalmente acessível para o público brasileiro (o quê?). Além disso, o conceito por trás dos personagens é tão absurdo que, em alguns momentos, confesso que me peguei rindo não do que eles falavam, mas do simples fato de estar diante de composições como aquelas (como não achar graça de um polvo de brinquedo que conversa com um busto enquanto faz uma vozinha fina?). Leia a crítica completa AQUI!

Spies in Disguise

UM ESPIÃO ANIMAL segue a cartilha de animações da Fox iniciada com a bem sucedida franquia “Era do Gelo“. Tramas envolvendo animais falantes e longas-metragens que esteticamente dialogam entre si. A pomba dublada por Will Smith, por exemplo, parece sobra de elenco dos filmes Rio e “Rio 2“. Inspirado livremente no curta-metragem Pigeon: Impossible, o resultado é um filme que não parece nunca decolar. Toda a trama é centrada apenas na dupla de protagonistas. Walter (Tom Holland) nos é apresentado ainda criança, como um menino que não quer ir para a escola por conta de eventuais bullyings sofridos. Filho de uma policial, ele se revela um inventor prodígio, ainda que suas criações pareçam não fazerem sentido. Animações no estilo de “Um Espião Animal” parece que sabem que precisam de alguns elementos externos para chamar a atenção. Um dos expedientes muito utilizado é a reciclagem de canções populares das últimas décadas. Leia a crítica completa AQUI! 

Mary

A POSSESSÃO DE MARY não é o primeiro e nem será o último filme que gerará decepção sobre a carreira de um recém-vencedor do Oscar de atuação. Gary Oldman, que há menos de dois anos levantava sua estatueta por O Destino de uma Nação é um daqueles astros que merecia ser obrigado a devolver o careca. O motivo? A total falta de senso ao aceitar distribuir seu talento em um longa-metragem que faz questão repetir ao máximo chavões de uma produção do gênero. Não tem como não esboçar um sorriso ao ler as notas de produção e descobrir que Oldman, na verdade, substituiu o titular do papel de David, esposo e pai de duas meninas que se encanta com a possibilidade de ter um veleiro chamado Mary. Quem deveria ocupar o constrangedor posto de protagonista do longa-metragem era Nicolas Cage. Esse sim seria coerente caso estrelasse este enlatado indigesto. A tradução do título no Brasil já tira boa parte da graça do filme. Mary é o nome tanto do barco adquirido pela família quanto da filha mais nova do casal David e Sarah (Emily Mortimer). Leia a crítica completa AQUI!

O Melhor Verão das Nossas Vidas

O MELHOR VERÃO DE NOSSAS VIDAS é um filme para fãs. Feito com desleixo, principalmente com a direção de atores. O texto parece forçar uma naturalidade inexistente, mesmo quando tenta arrancar risos ao elucidar casos da cultura pop, como a rixa entre Taylor Swift e Kanye West. O longa tenta entrar em contato com a cultura das redes sociais com nenhuma discrição a começar na, talvez, melhor cena do filme, os créditos iniciais montados como uma timeline do Facebook. A montagem é cansativa ao esgotar a rolagem de um touchscreen para transições, assim como as múltiplas telas em momentos de ação e os slow motion em pré-planos de beijo. O ponto positivo fica a cargo da atriz Bela Fernandes, ao interpretar uma deficiente auditiva, com o frescor necessário para o tema. As músicas de maior sucesso do grupo também são tocadas, confirmando o caráter da produção de agradar o seu público sem ao menos tentar agregar novos. As BFF girls funcionam em alguns momentos de cumplicidade entre elas, é possível enxergar química e o mínimo de naturalidade ao conversarem sobre seus desejos.

CURTA-METRAGEM DA SEMANA

DESTINO” (Destiny, França, 2012, Animação, de Fabien Weibel, Sandrine Wurster, Manuel Alligné e Victor Debatisse). O curta conta a história de um cara que ama relógios e é super pontual. Tão focado no tempo que acaba não prestando no que acontece a sua volta. Então ele sofre um acidente e passa por uma experiência inesperada. Assista na página principal!

ESPECIAL CENTENÁRIO FELLINI

Nosso especial crítico inicia-se agora às 20h da noite. O leitor-cinéfilo (os verrtenteiros e as vertenteiras) já pode conferir tudo sobre o diretor:  perfil, podcasts, eventos e nossas análises de “Amarcord“, “E La Nave La“,  “Julieta dos Espíritos“, “Oito e Meio“, “Os Boas Vidas” e “Os Palhaços“, e, até o final de fevereiro, serão produzidas as outras críticas de todos os seus filmes. Época de carnaval, que por sinal, é propícia e altamente casada com a vida livre e fluída de Fellini. Comece agora e curta o barco à fantasia! Confira tudo AQUI!

ANIVERSÁRIO DAVID LYNCH

What Did Jack Do

Para comemorar seus setenta e quatro anos de existência, o cineasta David Lynch, o mais independente dos realizadores, lançou na plataforma Netflix seu mais novo e inédito curta-metragem. Uma surpresa que os fãs puderam conferir no dia vinte de janeiro, mesma data de aniversário do diretor italiano Federico Fellini (que comemora centenário póstumo) e de São Sebastião, padroeiro da cidade do Rio de Janeiro. WHAT DID JACK DO?, com seus dezessete minutos, comporta-se como uma experiência extra-sensorial ao conjugar realismo fantástico e surrealismo. O tom, absurdo, estranho e quase bizarro, corrobora a característica principal de Lynch, diretor de “Veludo Azul”, “Twin Peaks” e “Cidade dos Sonhos”. É uma imersão em um sonho projetado como condução etérea. Uma epifania personificada do universo desconstruído e sem sentido que adentramos durante o estágio em que nossa consciência adormece para dar lugar ao subconsciente. Leia a crítica completa AQUI!

DIA DE SÃO SEBASTIÃO DO RIO DE JANEIRO

SEBASTIANE” integra a filmografia do britânico Derek Jarman, que divide a direção com Paul Humfress. O longa-metragem de 1976 aborda a visão do diretor sobre o cristão (canonizado mais tarde) Sebastiane, ou Sebastião, o padroeiro do Rio de Janeiro. Há quase trinta e oito anos, Derek experimentava referências ao novo realismo italiano (pela estrutura narrativa de passionalidade exacerbada) e ao cinema do chileno Alejandro Jodorowsky (pelo contato com a natureza – animais, que representam a metáfora da religião como o porco para os judeus, e os insetos, que são induzidos a representar papéis humanos). Explicitamente, uma “exposição” futurista de instalação (visto que a última cena é traduzida pela lente olho de peixe). Leia mais AQUI!

VENCEDORES SAG 2020

(confira a lista completa no link da foto)

EM CARTAZ

Muitos filmes imperdíveis ainda estão em cartaz. Uma última chance de poder conferir obras que receberam nota máxima de nosso site e no escurinho da tela grande. Confira a lista completa AQUI

CINCO CÂMERAS
O Paraíso Deve Ser Aqui
Parasita
Uma Mulher Alta

QUATRO CÂMERAS
A Vida Invisível
Ameaça Profunda
Aqueles que Ficaram
O Farol
Os Miseráveis
Retrato de uma Jovem em Chamas

TRÊS CÂMERAS
Adam
Adoráveis Mulheres
Bacurau
O Caso Richard Jewell
Entre Facas e Segredos
O Escândalo
Instinto
Mama Colonel
Meu Amigo Fela
Minha Irmã da Paris

DUAS CÂMERAS
Frozen II
Jumanji: Próxima Fase
Kursk: A Última Missão
Minha Mãe é uma Peça 3
Synonymes
Um dia de chuva em NY

UMA CÂMERA
Playmobil – O Filme
Star Wars: A Ascensão Skywalker

Pix Vertentes do Cinema

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