Tudo Sobre a Seleção Oficial do Festival de Cannes 2022
Do russo Kirill Serebrennikov ao blockbuster “Top Gun: Maverick”, conheça os escolhidos do festival francês mais famoso do mundo e que chega a sua edição número 75
Por Fabricio Duque
Nesta quinta-feira (14) foi anunciada a seleção oficial do Festival de Cannes 2022, apresentado por Pierre Lescure e Thierry Frémaux, direto de Paris, no cinema UGC Normandie, situado na Champs Elysées, e na mesma sala que está sendo exibido o filme blockbuster “Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore”. Será uma metáfora da retomada pós-pandemia? Deixemos por enquanto a pergunta retórica de lado. Como de costume, o anúncio seguiu sua simplicidade. Sem artifícios midiáticos de projetar os escolhidos em tela, totalmente contrário do Oscar. Pierre Lescure foi o responsável pela abertura, informando a parceria com Tik Tok. Será uma metáfora da retomada pós-pandemia? Já Thierry Frémaux, apenas com papéis-oficio nas mãos, informou filme a filme de cada mostra e explicou com breves palavras o que cada um representava, com sinopse e obras famosas de cada realizador. Uma contradição incompatível, visto que “Top Gun: Maverick”, de Joseph Kosinski, terá exibição hors-concours? Nisso não. O Festival de Cannes sempre buscou conectar os dois mundos, querendo agradar gregos, troianos, imprensa e público, porque a organização do festival acredita que todas as formas e cinefilia(s) são possíveis e nunca excluídas.
Em entrevista a revista Variety em 7 de abril deste ano a Elsa Keslassy, Thierry Frémaux disse que sua “rotina é assistir filmes, assistir filmes, assistir filmes”. Sim, um curador de festival “sofre”. “No início de março, achávamos que teríamos menos filmes por causa da pandemia e, de repente, tudo acelerou. A partir de hoje, achamos que vamos ultrapassar o número habitual de filmes inscritos. Sem dúvida, teremos recebido mais de 2.000 longas-metragens. A pandemia não se tornou um tema nos filmes. Como em nossas vidas, está presente em alguns filmes, mas sem estar no centro das histórias que estão sendo contadas. Durante vários anos, os filmes refletiram uma saúde artística vibrante e Cannes é uma testemunha, como com “Drive My Car” de Ryūsuke Hamaguchi. Antes da pandemia, 2019 foi um ano formidável que reuniu autores e mestres emergentes. E isso levou a grandes números teatrais. Você sabe, o triunfo de “Parasita” também foi o triunfo de um grande país para o cinema: a Coreia do Sul. O surgimento de Im Kwon-taek, Park Chan-wook e Hong Sang-soo no início dos anos 2000 – que Cannes chamou a atenção – forneceu a Bong Joon-ho um terreno fértil para crescer. 2021 foi mais um grande ano. A preocupação não é com a criatividade”, disse sobre “Cannes não ser apenas uma competição”.
Sobre a parceria com Tik Tok com o Festival de Cannes 2022, Thierry Frémaux explicou: “O DNA de Cannes é se adaptar. Os parceiros que juntamos este ano estão sintonizados com a evolução da mídia. É um passo natural. A parceria com a France Televisions permitirá também que o festival tenha grande visibilidade no nosso país. É uma emissora pública que coproduz muitos filmes e também apoia o cinema através dos programas que apresenta. A Brut, por sua vez, é uma nova empresa de mídia com um sucesso inigualável e se inclina para um público mais jovem. No que diz respeito ao TikTok, falávamos sobre isso há algum tempo e estamos felizes por ter essa parceria em 2022 porque corresponde ao mundo de hoje. Não se trata de tornar o festival “mais jovem”, trata-se de acolher os jovens enquanto cuida dos “nossos” mais velhos. Há muitos anos que temos vindo a introduzir inúmeras iniciativas nesse sentido, como a Palma de Ouro para a curta-metragem, o concurso das escolas de cinema, o Short Film Corner no Marché du Film, o programa de residência em Paris, bem como como o programa 3 Dias em Cannes.”
Enquanto o Festival de Cannes não chega, relembre AQUI nossa cobertura dos anos anteriores
Em 2022, o Festival de Cannes apresenta a edição 75 (uma comemoração de Bodas de Brilhante – melhor palavra impossível para definir a aura de cinefilia e pop que o festival proporciona) que acontecerá de 17 a 28 de maio. “Z”, do francês Michel Hazanavicius, fora de competição (será um Jim Jarmush “Os Mortos Não Morrem” em versão francesa?), abrirá o festival. E para quem gosta de estatísticas, três cineastas mulheres participam da competição pela Palma de Ouro: Claire Denis, com “Stars at Noon”; Valeria Bruni Tedeschi, com “Les Amandiers”; e Kelly Reichardt, com “Showing up” (esta que já causa ansiedade por causa da repercussão de seu último filme “First Cow”).
Desta vez, não há nenhuma obra brasileira, mas podemos destacar a presença do produtor Rodrigo Teixeira pelo filme “Armageddon Time”, do realizador americano (ame ou odeie) James Gray.
E de novo, finalmente, após dois anos impedidos por um vírus que parece não gostar de arte, retorno com cobertura diária e presencial in-loco. É só acompanhar tudo aqui no Vertentes do Cinema. E ainda há o novo filme de Marco Bellocchio, o de Sergei Loznitsa, o de Ethan Coen (assinando sozinho a direção), o de George Miller e o de Baz Luhrmann com “Elvis”.
A seguir, a lista completa da seleção oficial do Festival de Cannes 2022 com nossas informações extras que ajudam a nortear o que está vindo por aí.
LISTA COMPLETA DOS FIMES DA SELEÇÃO OFICIAL DO FESTIVAL DE CANNES 2022
FILME DE ABERTURA
“Z”, de Michel Hazanavicius
(Comme Z, 2022, França, de Michel Hazanavicius – realizador de “O Artista“, “O Formidável“). Com Matilda Anna Ingrid Lutz, Bérénice Bejo, Romain Duris. As coisas vão mal para uma pequena equipe de filmagem de um filme de zumbis de baixo orçamento quando são atacados por zumbis reais.
COMPETIÇÃO OFICIAL
“Holy Spider”, de Ali Abbasi
(2022, França, Alemanha, Suécia, Dinamarca, 115 minutos, de Ali Abbasi – realizador de “Border“). Em “Holy Spider”, acompanhamos o homem de família Saeed enquanto ele embarca em sua própria busca religiosa – para “limpar” a sagrada cidade iraniana de Mashhad de prostitutas de rua imorais e corruptas. Depois de assassinar várias mulheres, ele fica cada vez mais desesperado com a falta de interesse público em sua missão divina.
“Les Amandiers”, de Valeria Bruni Tedeschi
(2022, França, de Valeria Bruni Tedeschi – realizadora de “A Casa de Veraneio” e atriz de “A Fratura”). Com Sofiane Bennacer, Clara Bretheau, Baptiste Carrion-Weiss, Louis Garrel. No final da década de 1980, Stella, Victor, Adèle e Etienne completam 20 anos. Eles fazem o exame de admissão para a famosa escola de atuação criada por Patrice Chéreau e Pierre Romans no Théâtre des Amandiers em Nanterre. Lançados a toda velocidade na vida, paixão e amor, juntos eles experimentarão o ponto de virada de suas vidas, mas também sua primeira tragédia.
“Crimes of the Future”, de David Cronenberg
(2022, Estados Unidos, 107 minutos, de David Cronenberg – realizador de “Um Método Perigoso“, “Mapas Para as Estrelas“, “Cosmópolis“). Com Kristen Stewart, Léa Seydoux, Viggo Mortensen. Um mergulho profundo no futuro não tão distante em que a humanidade está aprendendo a se adaptar ao seu ambiente sintético. Essa evolução move os humanos para além de seu estado natural e para uma metamorfose, que altera sua composição biológica.
“The Stars at Noon”, de Claire Denis
(2022, Estados Unidos, de Claire Denis – realizadora de “Desejo e Ambição“, “Deixe a Luz do Sol Entrar“, “Bastardos“, “35 Doses de Rum“, “Minha Terra, África“). Com Margaret Qualley, Joe Alwyn, Danny Ramirez. Situada na Nicarágua em 1984, a história de paixão, medo e traição conta a voz de uma americana cuja missão na América Central é tão sombria quanto o ambiente.
“Frère et Soeur”, de Arnaud Desplechin
(2022, França, de Arnaud Desplechin – realizador de “Crime em Roubaix“, “Os Fantasmas de Ismael“, “Três Lembranças da Minha Juventude“). Com Marion Cotillard, Golshifteh Farahani, Melvil Poupaud. A história gira em torno de um irmão e uma irmã que estão chegando aos cinquenta anos – Alice é atriz, Louis era professor e poeta. Eles não se falam mais e se evitam há mais de vinte anos, mas a morte de seus pais os forçará a se cruzar.
“Tori and Lokita”, de Jean-Pierre & Luc Dardenne
(2022, França, dos Irmãos Dardenne – realizadores de “O Jovem Ahmed“, “A Garota Desconhecida“, “O Garoto de Bicicleta“). Com Marc Zinga, Claire Bodson, Baptiste Sornin. Na Bélgica de hoje, um menino e uma adolescente que viajaram sozinhos da África colocam sua amizade invencível contra as condições cruéis de seu exílio.
“Close”, de Lukas Dhont
(2022, Bélgica, Holanda, França, de Lukas Dhont – segunda longa-metragem do realizador de “Girl”). Com Léa Drucker, Émilie Dequenne, Kevin Janssens. A intensa amizade entre dois meninos de treze anos, Leo e Remi, de repente é interrompida. Lutando para entender o que aconteceu, Léo se aproxima de Sophie, mãe de Rémi. “Close” é um filme sobre amizade e responsabilidade.
“Armageddon Time”, de James Gray
(2022, Estados Unidos, de James Gray – realizador de “Ad Astra: Rumo às Estrelas“, “Z: A Cidade Perdida“, “Era uma Vez em Nova York“). Com Anne Hathaway, Anthony Hopkins, Jeremy Strong, Domenick Lombardozzi. Uma história de amadurecimento sobre crescer no Queens na década de 1980.
“Broker”, de Hirokazu Kore-eda
(2022, Japão, de Hirokazu Kore-eda – realizador de “Assunto de Família“, “O Terceiro Assassinato“, “Pais e Filhos“, “Nossa Irmã mais Nova“). O filme conta a história de caixas que são deixadas para as pessoas deixarem anonimamente seus bebês indesejados.
“Nostalgia”, de Mario Martone
(2022, Itália, de Mario Martone – realizador de ” Leopardi: Um Jovem Fabuloso”). Com Pierfrancesco Favino, Sofia Essaïdi, Francesco Di Leva, Tommaso Ragno. Um filme íntimo que conta a história do regresso de Felice a sua casa, ao distrito sanitário, depois de 40 anos longe da sua Nápoles.
“R.M.N.”, de Cristian Mungiu
(2022, Romênia, de Cristian Mungiu). Sinopse não divulgada ainda. Cristian Mungiu nasceu em 27 de abril de 1968 em Iasi, Romênia. É produtor e escritor, conhecido por “4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias” (2007), “Um Conto de Natal” (2009), “Além das Montanhas” (2012) e “Graduação” (2016).
“Triangle of Sadness”, de Ruben Östlund
(2022, Suécia, Reino Unido, Estados Unidos, França, Grécia, de Ruben Östlund – realizador de “Força Maior“, “The Square: A Arte da Discórdia“). Com Woody Harrelson, Harris Dickinson, Zlatko Buric, Oliver Ford Davies. Um par de modelos encontra-se em uma encruzilhada em suas carreiras.
“Decisions to Leave”, de Park Chan-Wook
(2022, Coreia do Sul, de Park Chan-Wook – realizador de “Oldboy”, “Sede de Sangue“, “A Criada“). Com Tang Wei, Go Kyung-Pyo, Park Hae-il, Yong-woo Park. Um detetive investigando a morte de um homem nas montanhas encontra a misteriosa esposa do homem morto no curso de sua investigação obstinada.
“Showing Up”, de Kelly Reichardt
(2022, Estados Unidos, de Kelly Reichardt – realizadora de “Frist Cow – A Primeira Vaca da América“, “O Atalho“, “Wendy e Lucy”). Com Michelle Williams, Amanda Plummer, John Magaro, James Le Gros. Uma escultora equilibra sua vida criativa com os dramas diários da família e dos amigos.
“Leila’s Brother”, de Saeed Roustayi
(2022, Irã, de Saeed Roustayi). Sinopse e informações do filme ainda não foram divulgadas.
“Boy from Heaven”, de Tarik Saleh
(2022, Suécia, de Tarik Saleh – realizador dos filmes “Tommy” e “The Contractor”, este também de 2022, e diretor dos seriados “Ray Donovan” e “Westworld”). No primeiro dia de volta após as férias de verão, o grande imã desmaia e morre na frente de seus alunos em uma universidade de prestígio no Cairo. Isso marca o início de uma batalha implacável para que a influência tome seu lugar.
“Tchaikovsky’s Wife”, de Kirill Serebrennikov
(2022, Rússia, de Kirill Serebrennikov – realizador de “Verão“, “Traição“, “O Estudante”). Com Philipp Avdeev, Odin Lund Biron, Nikita Elenev. Relacionamento tumultuado entre Pyotr Tchaikovsky, o compositor russo mais famoso de todos os tempos, e sua esposa Antonina Miliukova.
“Hi-Han (Eo)”, de Jerzy Skolimowski
(2022, Polônia, de Jerzy Skolimowski – realizador de “11 Minutos” e está escrevendo o novo roteiro “The Palace”, de Roman Polanski). Sinopse e informações do filme ainda não foram divulgadas.
UN CERTAIN REGARD
“Les Pires”, de Lise Akoka & Romane Gueret
“Burning Days”, de Emin Alper
“Metronom”, de Alexandru Belc
“Retour a Seoul”, de Davy Chou
“Sick of Myself”, de Kristoffer Borgli
“Domingo y La Niebla”, de Ariel Escalante Meza
“Plan 75”, de Hayakawa Chie
“Beast”, de Riley Keough & Gina Gammell
“Corsage”, de Marie Kreutzer
“Butterfly Vision”, de Maksym Nakonechnyi
“Volada Land”, de Hlynur Palmason
“Rodeo”, de Lola Quivoron
“Joyland”, de Saim Sadiq
“The Stranger”, de Thomas M. Wright
“The Silent Twins”, de Agnieszka Smoczynska
CANNES PREMIÈRE
“Outside Night”, de Marco Bellocchio
“Nos Frangins”, de Rachid Bouchareb
“Irma Vep”, de Olivier Assayas
“Dodo”, de Panos H. Koutras
EXIBIÇÕES ESPECIAIS
“The Natural History of Destruction”, de Sergei Loznitsa
“Jerry Lee Lewis: Trouble in Mind”, de Ethan Coen
“All That Breathes”, de Shaunak Sen
SESSÕES DA MEIA-NOITE
“Moonage Daydream”, de Brett Morgen
“Smoking Makes You Cough”, de Quentin Dupieux
“Hunt”, de Lee Jung-Jae
FORA DA COMPETIÇÃO
“Top Gun: Maverick”, de Joseph Kosinski
“Elvis”, de Baz Luhrmann
“Three Thousand Years of Longing”, de George Miller
“November”, de Cédric Jimenez
“Masquerade”, de Nicolas Bedos