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The Square – A Arte da Discórdia

A utopia diplomática do ajudar

Por Fabricio Duque

Durante o Festival de Cannes 2017

The Square – A Arte da Discórdia

“The Square – A Arte da Discórdia”, do diretor Ruben Östlund (de “Força Maior“), que concorre a Palma de Ouro no Festival de Cannes 2017, é o típico filme que atordoa o espectador pela quantidade de camadas críticas a nossa “moderna” sociedade contemporânea, que mergulha e se esconde no próprio individualismo tecnológico, complicando em muito um maior de síntese destas linhas analíticas. Em uma narrativa que desenvolve a complexidade pela simples naturalidade da contemplação de seus personagens e as reviravoltas em suas existências. Impossível não referenciarmos outras cinematografias como seu próprio filme anterior “Força Maior”; “A Grande Beleza”, de Paolo Sorrentino; e “Toni Erdmann”, de Maren Ade.

A narrativa utiliza-se do humor estranho, desconfortável e hipócrita para confrontar educação social com abusos vitimados. Aqui, o longa-metragem é uma parábola realista e cruel da sociedade com o intuito de transformar amabilidade e solidariedade politicamente corretas  em descaso agressivo. “The Square – A Arte da Discórdia” é um surreal conto-estudo de caso sobre a metáfora dos imigrantes (refugiados no termo correto) transformados em “animais” invisíveis sociais (os pedintes, entregadores de papel e ou deitados no chão, que atrapalham o “trânsito”, assim como a música “Construção”, de Chico Buarque) pelas próprias pessoas que alimentam tabus, silêncios, preconceitos, auto-mentiras e que fútil e enganosamente realiza trabalhos sociais.

A trama parte da premissa de um curador de um Museu, que durante o processo de construção da exposição é acordado pela questão social e vivencia todas as injustiças sociais, aprendendo e se modificando por pequenas tragédias cotidianas, ser enganado por um casal enquanto ajuda uma mulher histérica e ter seu celular e carteira roubados. Este acontecimento golpe desencadeia situações inusitadas, que vencem a hesitação e que o obriga a aprender dizer não (o fazendo “sentir-se vivo”), como a repórter (a atriz Elisabeth Moss, do seriado “Mad Men”), despreparada, pretensiosa, incompetente, louca e carente.

Nosso protagonista (o ator excelente Dominic West) retroalimenta-se dos bastidores e ambiente blasé do trabalho que precisa ter “inovação e criatividade”, conceitual e arrogante aos olhos do grande público. O filme deturpa sua própria condução que escolheu ao inserir música clássica mixada, soando como uma suavização mais inocente para que nós tenhamos um mínimo de resguardo. Tudo para ser arte precisa ser estético, moderno, “viajar demais na batatinha” e não ser compreensível, apenas inferido. Sua estrutura busca a observação documental (porém editada) de micro-ações que se conectam.

“The Square – A Arte da Discórdia” é sobre a utopia diplomática do ajudar em um mundo em que todos só olham para a tela do celular, como este que vos escreve. Até que um, descontrolado, obriga a atenção alheia. Como foi dito, é um filme de momentos que causam outros instantes, que por sua vez são repetidos. “Não seja só sueco”, diz-se. As ideias de vingança por diversão, sem se importar com consequências, criam a tensão à música de “Genesis”, do grupo Justice, o “calvário Beat” e um caminho “ladeira à baixo”, enquanto continuam zombando dos menos favorecidos.

A esmola dada ajuda nossa sensação de culpa por não ajudar. O filme critica estas mesmas vítimas que se comportam de forma abusada por perceber nosso medo de perder nossos “vazios” ao estarem à margem sem nada a perder. Considerados animais. O abuso cansa e causa descaso. Na exposição, mais uma hipocrisia. Busca-se a ideia das sensações de pessoas em relação à arte, mas se incomodam com interferências em uma coletiva de imprensa. O que perturba logo precisa ser tachado com alguma síndrome. Constrangedor. “Arte para quem?”.

E sozinhos, surtam em festas e catarses-transe das danças. Outra crítica é debatida. De que os animais são mais educados e menos instintivos que nós humanos que possuímos conhecimento e inteligência para mudar e melhorar o mundo. O medo do outro é explícito. A defesa objetiva, robótica e apenas fisiológica, uma proteção. Melhor escolher sexo ao amor. Mais pratico, menos trabalhoso. A situação torna-se tão incomum, o deixando maluco, tão no limite, que ele precisa agir: ser enérgico, agressivo, seco, altivo e um pai autoritário e ditador. Pensamos que ajudar alguém pode bagunçar sua vida.

A cena da performance do homem macaco (a fera que precisa ser domada ou atacada – a escolha fica por conta de quem assiste ou participa) é simplesmente uma das mais incríveis da história do cinema, por confrontar, pela teoria do choque, a arte que encontra a vida e a morte e que precisa “transcender todos os tipos de tabus”. Para a salvação ao constrangimento, “ninguém pode mover um músculo”. O mundo não muda, porque uma “andorinha digna só não faz verão”. A futilidade é potencializa, a alienação massificada e seu trabalho humanizado fica mais difícil, enquanto a câmera roda, nos atordoando e aprisionando esta família em uma bola de neve.

5 Nota do Crítico 5 1

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