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Um Sonho de Liberdade

Muito além das grades

Por Bê Oliveira

Um Sonho de Liberdade

“Um Sonho de Liberdade” (1994), dirigido por Frank Darabont, não é um filme trivial: é uma obra que traduz o que é fazer cinema. Baseado em um conto de Stephen King, o filme ganha vida com as performances de Tim Robbins e Morgan Freeman como os prisioneiros Andy Dufresne e Ellis Redding. As atuações concisas dão alma aos personagens já profundamente retratados nas páginas de King. Este filme não é apenas sobre prisão; é uma celebração do espírito humano, de perseverança e de encontrar a luz onde só há trevas, tal qual disse o cantor Mano Brown: “até no lixão nasce flor”. Assim, a narrativa de amizade entre Andy e Red é desenvolvida de forma sutil. Duas figuras que nunca passariam mais do que alguns minutos juntas na sociedade são obrigadas a conviver atrás do muros da prisão onde se tornam melhores amigos inseparáveis, isso é apresentado em cada pequeno detalhe de interação e entendimento entre eles.

“Um Sonho de Liberdade” carrega em seus diálogos reflexões atemporais e a clareza da essência humana que se fazem mais do que presentes e se tornam uma personagem da obra. Andy, sem pudor ou cinismo, afirma que “esperança é uma coisa boa, provavelmente a melhor coisa e as coisas boas nunca morrem”. Essa linha de diálogo arroja um paradigma de desesperança versus perseverança tão intenso que jamais se esperaria de alguém que foi condenado a uma vida inteira de reclusão. As personagens parecem falar em versículos filosofais: “Estas paredes são engraçadas. Primeiro você as odeia, depois se acostuma com elas. E, com o tempo, começa a depender delas”, Red fazendo uma metáfora sobre como nos adaptamos para atender às situações mais opressivas e degradantes.

Em “Um Sonho de Liberdade”, a jornada de Andy reflete o caminho árduo que muitos enfrentam ao buscar propósito em meio à monotonia e aos desafios diários. Sua capacidade de transformar pequenas ações em conquistas maiores, como a criação da biblioteca na prisão, inspira a ideia de que, mesmo em um ambiente restrito, é possível fazer a diferença e melhorar a vida ao redor. Outro ponto marcante é a persistência de Andy ao longo de duas décadas, enfrentando cada dia como uma etapa para alcançar algo maior. Essa paciência silenciosa ecoa na vida de todos que lidam com desafios aparentemente intermináveis, mas sem perder o foco e a certeza que a recompensa virá no final. Red, por sua vez, é o coração do filme, Com simplicidade e um senso de comunidade traz através de sua narração o aspecto emocional dessa jornada, aqueles homens que são tratados como números apenas se tornam seres complexos com vontades e medos, mas acima de tudo, humanos e não menos. A voz de Red faz com que o filme ganhe uma gravidade única, que ressoa até muito depois dos créditos finais.

Frank Darabont constrói uma narrativa que toca o espectador, combinando a trilha de Thomas Newman que desempenha um papel essencial na construção da atmosfera emocional do filme com seu estilo minimalista e evocativo, carrega a emoção no ponto ideal para que o espectador, torça, chore, ria e se emocione na medida exata. Diálogos que não expõem apenas opiniões objetivas a fim de serem apenas ferramentas narrativas, mas sim, nos mostrar a essência dessas personagens. A cinematografia de Roger Deakins, que é um capítulo à parte, a escolha mais do que acertada em realizar as gravações dentro de uma antiga prisão de verdade, captura a opressão de Shawshank com uma estética crua, mas impregnada de beleza com seus enquadramentos simétricos e poéticos, cada um deles escolhido com cuidado para contar uma história intimista.

“Um Sonho de Liberdade” completou sua terceira década este ano (2024), Embora não tenha sido um grande sucesso de bilheteria em seu lançamento (16 milhões arrecadados e 25 milhões foi o custo total da produção), o filme ganhou reconhecimento ao longo dos anos e é amplamente considerado um clássico. Ele foi indicado a sete Oscars, incluindo Melhor Filme, Melhor Ator (Morgan Freeman) e Melhor Roteiro Adaptado, mas não venceu nenhuma categoria. “Um Sonho de Liberdade” não é apenas um filme, mas uma experiência transformadora que permanece com você. É o tipo de obra que vale a pena reassistir em fases diferentes da vida e garanto que cada uma dessas vezes será uma nova experiência.

5 Nota do Crítico 5 1

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Pix Vertentes do Cinema

  • Não sabia que foi gravado em uma prisão de verdade! É uma pena que hoje muitas produções audiovisuais estão perdendo um pouco disso, por facilidade de gravar, por orçamento, enfim, vários motivos. Mas eu como atriz entendo que essa vivência, mesmo que seja anterior às gravações, traz uma potência inigualável ao filme.

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