Os Vencedores e o balanço da Mostra de Tiradentes 2021
Anúncio dos premiados aconteceu online neste sábado (30/01) com “Volta” e “Amor Marginal” de Johnny Hooker
Por Redação
Pode ter sido difícil, mas a Mostra de Cinema de Tiradentes 2021, pela Universo Produção, conseguiu a façanha de trazer ao online toda a experiência de amor pelo cinema brasileiro presente e sentida nas edições presenciais. Não só pelos filmes, exibidos de forma inclusiva e gratuita, mas especialmente pelos debates que debateram e expandiram nossos olhares sobre as obras, em destaque para as mesas com o cineasta brasiliense Adirley Queirós e a montadora-cineasta paulista Cristina Amaral (assista aqui ao vídeo-encontro na íntegra) com Sara Antunes, de “De Doa, Por Sara”; com Kevin, entre outros tantos e tão plurais. E a homenagem à cineasta Paula Gaitán não poderia ser mais acertada e necessária.
Tudo Sobre a Mostra de Cinema de Tiradentes 2021
Tudo o que aconteceu na Cerimônia de 24ª Abertura da Mostra de Tiradentes
A edição 24 da Mostra de Cinema de Tiradentes também apresentou shows memoráveis: Arrigo Barnabé, Chico César, Fernanda Abreu e Johnny Hooker (que encerrou a noite de premiação). Foram mais de 550 Mil acessos de 92 países no site da programação e mais de 2 milhões de alcance nas redes sociais, com uma seleção de 114 filmes brasileiros (31 longas, 2 médias e 81 curtas-metragens) de 19 estados, em pré-estreias mundiais, nacionais e mostras temáticas.
A cobertura do Vertentes do Cinema foi realizada pelo vertenteiro Vitor Velloso, que fez um balanço do que aconteceu.
A 24ª Mostra de Tiradentes, em versão online, chegou ao fim após ser anunciados os premiados da atual edição. A Mostra Aurora seguiu a cartilha bastante previsível, exibiu e premiou o padrão estético estabelecido há alguns anos com “Açucena“. Existe aqui uma clara iniciativa de tornar parte da produção nacional, uma demanda particular, enquanto se fala da exibição plural da cinematografia. Não é bem o que vemos ultimamente, há uma retroalimentação constante de medidas que são mantidas como um norte para a própria Mostra. Obras como “Eu, Empresa” seguem esnobadas por não se alinharem à demanda formalizada pelo Júri.
Entretanto, a Olhos Livres, comumente a competição mais criativa da Mostra de Tiradentes, segue como um destaque constante. “Subterrânea” de Pedro Urano, “Voltei!” de Ary Rosa e Glenda Nicácio e “Nũhũ yãg mũ yõg hãm: essa terra é nossa!” de Isael Maxakali, Sueli Maxakali, Carolina Canguçu e Roberto Romero são obras que mostram que parte da construção cinematográfica nacional que procura movimentos distintos ao consenso, encontram-se no campo da regionalização do cinema, mas procurando no registro um movimento dialético de revisão crítica do cenário brasileiro contemporâneo.
A Mostra Temática, que este ano encontra base na “Vertentes da Criação” que possui síntese em “…agregando filmes que dão a ver os diversos processos criativos e formas de engajamento no tempo presente…” buscou algumas representações de Brasil a partir de diferentes processos criativos à tônica do engajamento político, na produção e nessa representação em si. “Pajeú” de Pedro Diógenes, “#eagoraoque” de Jean-Claude Bernardet e “Agora” de Dea Ferraz, mostrou o frágil momento político que a cinematografia nacional vive em suas articulações de representação do real, da luta política e do corpo político. A discussão segue em suspensão para que seja formalizada uma consciência que finda o debate para a representação da burocracia burguesa.
Porém, “Filme de Domingo” de Lincoln Péricles e “República” de Grace Passô tornaram-se destaques mais diretos, sem representações que dialoguem com a forma mais diluída, partiram para uma imediatez da vida e contornaram a inocuidade de um processo entre o classicismo e a “transgressão da burguesia cinematográfica”.
A Mostra Foco, Foco em Minas e Panorama e Formação, mostrou a pluralidade da produção de curta-metragens no cinema contemporâneo e abarcou uma diversidade de obras que dialogam apenas a partir de Brasil. Entre lambadas e alienígenas, carnavais e futebol, mostrou que a seleção de curtas contava com um universo menos burocrático e cilício que a Aurora.
A 24ª Mostra de Tiradentes seguiu sua padronização clássica, levantou a moral da produção a partir da idealização, mas fez um movimento de exposição aos registros, algo que fortalece o laço dessa luta política que o cinema enfrenta, fomentando a verve de embate com proposições reacionárias e conservadoras no campo cultural brasileiro. Repetiu algumas fragilidades e fortaleceu alguns méritos individuais e coletivos das últimas produções que fogem a representação, mas registram na objetiva um Brasil que respira independente do quanto tentam sufocar. Com oxigênio em auxílio ou indo atrás da história que canalizou a geopolítica vulcânica e violenta dos últimos anos, Tiradentes, em pixels e conexões de internet, mostrou porque ainda é um dos eventos mais importantes do calendário do Cinema Brasileiro.
O evento realizou também o 24o Seminário do Cinema Brasileiro que contou com a participação de 112 profissionais no centro de 24 debates e rodas de conversa. Os debates e rodas de conversa estão disponíveis no Canal do Youtube da Universo Produção, o que amplia as possibilidades de acesso e troca de conhecimento para além dos dias do evento, uma das principais vantagens de se realizar o evento no formato online.
A 24a Mostra Tiradentes promoveu também o Programa de Formação Audiovisual que ofereceu 10 oficinas e certificou 225 alunos. O público ainda curtiu a programação artística do evento com a realização da performance audiovisual, exposição e cinco shows com artistas da cena musical contemporânea.
OS VENCEDORES DA MOSTRA DE TIRADENTES 2021
Melhor curta-metragem pelo Júri Oficial, Mostra Foco
Abjetas 288 (SE), direção de Júlia da Costa e Renata Mourão.
Troféu Barroco. Da Ciario/Naymar: R$ 5 mil em locação de equipamentos de iluminação, acessórios e maquinaria. Do CTAV: Empréstimo de câmera Black Magic por duas semanas. Da Mistika: R$ 6.000,00 (seis mil reais) em serviços de finalização. Da DOT Cine: 2 (duas) diárias de correção de cor; master DCP para curta até 30 minutos.
Prêmio Canal Brasil de Curtas
4 Bilhões de Infinitos (MG), de Marco Antônio Pereira. Prêmio de R$ 15 mil.
Prêmio Helena Ignez para destaque feminino
Ana Johann, diretora e roteirista de “A Mesma Parte de um Homem” (PR).
Melhor longa-metragem pelo Júri Jovem, da Mostra Olhos Livres, Prêmio Carlos Reichenbach
Nũhũ yãg mũ yõg hãm: essa terra é nossa!, de Isael Maxakali, Sueli Maxakali, Carolina Canguçu e Roberto Romero.
Troféu Barroco. Da Mistika: R$ 15.000,00 (quinze mil reais) em serviços de finalização. Da Ciario: R$ 10 mil em locação de equipamentos de iluminação, acessórios e maquinaria da Naymar. Da Cinecolor: 5 diárias de correção de cor. Da Dotcine: master DCP para longa de até 120 minutos. Do CTAV: Empréstimo de câmera Black Magic por quatro semanas.
Melhor longa-metragem da Mostra Aurora, pelo Júri Oficial
Açucena (BA), de Isaac Donato.
Troféu Barroco. Da The End: R$ 40.000,00 (quarenta mil reais) em serviços de pós-produção (laboratório digital, sync, dailies, conform, correção de cor, animação, composição, 3D e masterização). Da Ciario: R$ 10 mil em locação de equipamentos de iluminação, acessórios e maquinaria da Naymar. Da Cinecolor: 5 (cinco) diárias de correção de cor. Da DOT Cine: master DCP para longa até 120 minutos.
JÚRI OFICIAL
Graciela Guarani, produtora cultural, comunicadora, cineasta, curadora de cinema e formadora em audiovisual; Ivone Margulies, escreve sobre cinema francês, teatralidade e realismo no cinema e acaba de publicar Filmes de Plastico’splural realism, no dossiê sobre cinema brasileirona Film Quarterly (inverno 2021); Leonardo Bomfim, programador da Cinemateca Capitólio, em Porto Alegre; Mariana Souto, professora do curso de Audiovisual da UnB; Soraya Martins, atriz, pesquisadora, crítica teatral e curadora.
JÚRI JOVEM
Ana Julia Silvino, 20 anos, estudante 3º período de Rádio, TV e Internetda Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF); Anália Alencar, 25 anos, estudante 9° período de Comunicação Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN); Lorenna Rocha, 24 anos, estudante 10º período da Licenciatura em História da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE); Manu ZIlveti, 24 anos, estudante do 5° período de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal de Pelotas (Ufpel); Rodrigo Sampaio Cauhi, 20 anos, estudante 6º período do curso de Cinema e Audiovisualda PUC Minas.
As próximas mostras já têm data. De 23 a 28 de junho de 2021, acontece a 16ª CINE OP, Festival de Cinema de Ouro Preto. E a 25ª Mostra de Cinema de Tiradentes 2022 também. De 21 a 29 de janeiro. Nos vemos então nos próximos festivais. Muito obrigado pelo carinho e presença! Acompanhe a cobertura completa no site do Vertentes do Cinema.