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Crítica: Promessa ao Amanhecer

Uma epopeia através do amor de mãe

Por Vitor Velloso


Relatar a vida de alguém através do cinema, é uma tarefa bastante árdua. Isso porque cinebiografias tendem sempre a fetichizar a personalidade de seus personagens, romantizar demais ou venerar suas atitudes num tom de agonia coreografada. “Promessas ao Amanhecer” dirigido por Eric Barbier, consegue ir por um caminho um tanto quanto diferente, ele raciona esta centralização da figura do protagonista entre, o mesmo, e sua mãe.

A trama irá contar a história de Ramain Gary, desde de sua infância (Pawel Puchalski), adolescência (Nemo Schiffman) e fase adulta (Pierre Niney), e a relação com sua mãe (Charlote Gainsbourg). Narrativamente não há para onde fugir da própria biografia do autor, mas manterei a curiosidade da trajetória do mesmo, para a surpresa do público.

Muitas vezes nossas metas e motivações de vida, são profundamente enraizadas em nossas relações familiares, independente da forma como essas influências se manifestam, é nítido que elas ocorrem com base num peso de expectativa que vêm de um dos dois lados, ou de ambos. A frustração de não ser apoiado, ou de não ter sido limitador o suficiente para que “sua cria” siga o caminho que você escolheu para ele, resulta em lacunas irreparáveis na progressão da harmonia da relação. Em muitos casos a figura do pai se mantém heróica até o fim da vida, como um modelo a ser seguido, gerando um orgulho paterno extremamente intenso, mas muitas vezes tóxico. Em outros momentos, pode-se acontecer da maior força motriz, vir da resistência que um dos responsáveis ao sonho do filho(a). Lembro-me de um filme frágil mais que possui uma cena interessante de ser dita, em “Homens de Honra”, de George Tillman, Jr., o personagem de Cuba Gooding Jr. diz ao seu pai, ao sair da vida rural para se alistar na marinha “Eu vou voltar”, seu pai lhe responde “Não, não volte”. Trata-se de uma aceitação dolorosa, mas necessária para o progresso.

Aqui, vemos uma mãe que é o centro de gravidade das emoções do protagonista, sendo uma forte figura ambígua, conseguindo ser amável e carinhosa, ao mesmo tempo, extremamente rígida quanto a resultados na grandiloquência de seu filho. O que claro, pressiona o limite do protagonista à exaustão por falta de compreensão de suas próprias fronteiras. A atuação de Charlote está sólida, mas pequenos maneirismos na personagem enfraquecem sua tentativa e quase a banaliza durante alguns minutos.

A fotografia é aquele padrão de longa melodramático ocidental, os contrastes são fortes em cenas mais decisivas e mais suaves, quase imperceptíveis em seu meio. Pequenas linhas de luz que atravessam os cômodos buscam essa intimidade com a trama, mas que só é alcançada pelo roteiro. Pois a direção de Barbier é bastante formuláica, o esquema é não errar, apenas. Pois a história se conta sozinha. Alguns planos que acompanham os personagens numa ponte, ou outra, chamam mais atenção em geral, o diretor compreende a construção histórica do filme como um ponto crucial para que o contexto seja revelado durante a filmagem. Logo, a passagem do protagonista pela aviação está no projeto. A guerra possui uma influência muito intensa na sua carreira, não só através de sua escrita, mas também de sua forma de agir. Essa urgência que lhe foi experienciada no confronto, ele traz para a literatura e para suas relações familiares, o que vemos de forma relativamente diluída aqui na versão cinematográfica. Ainda que haja esse sentimento mais agudo, fruto da guerra, é possível sentir que o diretor opta por fortalecer deixar ainda mais ambíguo este relacionamento com a mãe.

Alguns clichês de cinebiografias estão presentes, como um trem partindo em tom de despedida e aquele sentimento de desolação aumentando, ou diálogos expositivos feitos mais no início da projeção que tentam se justificar quando o filme se aproxima do fim, fazendo a conexão de forma ainda mais expositiva. O que é uma pena, já que havia material para ser feito um diálogo menos prolixo e mais delicado.

“Promessas ao Amanhecer” é um eficiente retrato de um grande escritor, cai em alguns senso-comuns que fragiliza um pouco a obra, mas consegue compensar o espectador com sua emoção melodramática com verve britânica. Sem dúvida uma das poucas coisas que salvava a programação do Festival Varilux de 2018.

3 Nota do Crítico 5 1

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