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Crítica: Kon-Tiki
A Aventura Antropológica de Um Tiki Norueguês

Por Fabricio Duque
“Kon-Tiki” é a escolha da Noruega para concorrer a estatueta de Melhor Filme Estrangeiro no Oscar deste ano. Apresenta-se como a versão ficcional da aventura verídica do antropólogo norueguês Thor, que ao estudar a cultura local da Polinésia, descobre que os Tikis (os verdadeiros ancestrais) vieram do Peru. “Tudo veio do Leste”, diz-se. Assim, resolve fazer o mesmo caminho de 1500 anos atrás, a fim de provar esta tese “recusada a novas ideias antropológicas”, em 1937. “Os oceanos não são barreiras, mas estradas”, complementa. “Kon-Tiki” representa o “deus do sol”. A narrativa navega por camadas cinematográficas, ora personificando a natureza, ora buscando o gênero comercial, ora criando elipses temporais, tudo retratado por uma fotografia naturalista, extremamente iluminada, de cenários exuberantes, com enquadramentos plácidos e simétricos. Uma das características da narrativa é a estranheza, principalmente nas relações interpessoais. Os atores atuam com um certo distanciamento, expondo embates verborrágicos ingênuos, infantis e diretos, sem tempo ao silêncio, por causa da música que pulula todo tempo, embalando o que não se diz. Por incrível que pareça, os coadjuvantes “dão um banho” no protagonista que usa o mesmo olhar para expressar a maioria dos sentimentos emocionais. Quem disse que o cinema também não pode ser só aventura? Pois é, este é um típico exemplar. “Kon-Tiki”, assim como “As Aventuras de Pi”, procura a crença espiritual, neste caso, a natureza, que conduz os seus “tripulantes”. No filme de Ang Lee, o personagem principal não tem escolha, precisando vencer os medos por necessidade da sobrevivência. Aqui, estes exploradores “modernos” optaram pelo “perrengue”, só com a utilização de material daquela época, em jangada idêntica conduzida apenas pelas marés, correntes e força do vento, que é quase constante, na direção leste-oeste ao longo do Equador. Eles precisavam transpor percalços como tempestades, tubarões, e outras adversidades naturais. Thor incluiu na tripulação um etnográfico, que sabia operar uma câmera, para que pudessem documentar imagens. A referência que se diz no filme: “Podemos ganhar muito dinheiro com esse documentário”, pode ser claramente aludida ao documentário não-ficcional, “Kon-Tiki”, que o próprio Thor (o verdadeiro) ganhou no Oscar de 1950 (com a preparação da viagem, incluindo a construção da jangada e a saída em 1947 à la “Titanic” – pelos cumprimentos da população peruana).  É compreensível, que um filme deste gênero, use câmera lenta em algumas cenas, como forma de traduzir medos, anseios, nervosismos, fisiologismos, dúvidas, tédios, aflição, tensão natural, em um pouco mais de três meses de duração.  É estritamente perdoável, mas a quantidade de reviravoltas resolvidas em um curto espaço de tempo prejudica a credibilidade dos acontecimentos. Mas quem disse que não se pode ter liberdade poética no meio cinematográfico também? Pois é, reitero o que já disse. É um filme aventura, meio “Xingú”, meio “Náufrago”. Digressionando, penso filosoficamente com os meus botões. Estes exploradores do novo tempo não se deram conta de que o conhecimento de agora atrapalha o acaso do passado. Na época em que os Tikis chegaram a Polinésia, provavelmente, não sabiam para onde iam, apenas acreditavam na necessidade da sobrevivência, ou não. Talvez, o personagem que mais acreditasse em toda esta jornada programada fosse o caranguejo peruano. Talvez fosse Kon-Tiki em espírito. Talvez a chamada da natureza. Quanto mais penso, mas sinto que a racionalidade não leva a lugar algum. Precisa-se acreditar. Concluindo, um filme aventura de uma jornada egocêntrica de autoconfiança que procura no espectador a crença cúmplice para que o longa-metragem aconteça. No final, há cenas reais do documentário de 1950, com a conclusão de cada vida que passou por ali naquela incrível experiência. 

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