Tudo Sobre a Mostra de Cinema de Tiradentes 2021
Mostra que aconteceria em formato híbrido muda para integralmente online, com temática Cinema em Transição
Por Vitor Velloso
A Mostra de Cinema de Tiradentes 2022, que ia acontecer de maneira presencial e online, entre os dias 21 e 29 de janeiro, no formato híbrido que vem sendo utilizado por outros festivais e mostras, sofreu uma mudança de última hora e será 100% online pela plataforma virtual da Mostra (para acessar, clique AQUI). Em nota oficial, a Universo Produção teve de abrir mão do evento na cidade, por conta do aumento de contaminação devido à COVID-19.
“Sendo assim, a Universo Produção, em diálogo com o Governo de Minas Gerais, com a Prefeitura Municipal de Tiradentes, patrocinadores, parceiros, profissionais do audiovisual, fornecedores, equipes e curadores, conclui que o melhor a ser feito neste momento é transferir as atividades presenciais da 25ª Mostra de Cinema de Tiradentes para o formato online, mantendo o mesmo propósito conceitual do evento.”
Desta forma, toda a programação se mantém e o Vertentes do Cinema irá cobrir a Mostra de maneira remota.
A temática da atual edição é “Cinema em Transição”:
“É fato que a atividade cinematográfica – entre recuos e novos arranjos – passa por mudanças intensas. Nos últimos anos, em virtude do contexto político e das mudanças de paradigma da indústria e do mercado, os produtos de televisão e de plataformas de streaming ganharam uma centralidade inédita. Por outro lado, a produção independente que contou com parcos recursos do Estado ou que se fez sem auxílio de editais, pode indicar um outro modo de criar, trabalhar e fazer circular obras audiovisuais. O cinema atravessa uma transição complexa em três dimensões: econômica, técnica e estética. É na relação mutável dessa trinca que a atividade profissional e a própria cultura tradicional do cinema se reconfiguram, desenhando um novo cenário para os próximos anos. A temática CINEMA EM TRANSIÇÃO investiga o que se afigura no presente de futuros possíveis no cinema brasileiro.”

No texto de apresentação Francis Vogner dos Reis (coordenador curatorial), Felipe André Silva, Lila Foster e Tatiana Carvalho Costa, definem as “transições” a partir de faces distintas da atividade cinematográfica.
Uma transição técnica e econômica
Dentro dessa nova configuração profissional e das circunstâncias extraordinárias de isolamento na pandemia nos últimos dois anos, vivemos o aceleramento de um processo de transição da difusão de filmes no seu formato tradicional – a sala de cinema e a televisão -, para as plataformas digitais, trazem desafios para as salas do circuito exibidor, para distribuidores e festivais de cinema. Essa mudança não é uma transição “lenta, gradual e segura”, mas são novos arranjos profissionais e artísticos tendo em vista uma realidade econômica e criativa complexa e uma movimentação cultural que não pode se restringir mais aos antigos modelos de produção e circulação de obras.
Do ponto de vista econômico, a suspensão – provisória, parcial e/ou definitiva – das políticas públicas para o audiovisual afetou diretamente o cinema independente, que nos últimos anos vinha produzindo com mais dinheiro e estrutura, permitindo a existência e a manutenção de um mercado do cinema independente entendido aqui não somente como a produção de filmes, mas a manutenção de um campo profissional que permitiu que técnicos e profissionais de toda a cadeia audiovisual pudessem viver de cinema, incluindo nesse processo uma crescente presença de produções distantes do eixo Rio-SP, pessoas negras, mulheres, cineastas de condição social fora do espectro da classe média e alta e, em número mais tímido, pessoas trans.
Hoje, a ocupação de espaços de produção, antes pouco acessíveis, ampliaram a noção de público para uma produção audiovisual que estava restrita ao circuito de cinema independente (sobretudo o de festivais), trazendo novas possibilidades para o trabalho criativo de equipes de cinema que passam a produzir em outros moldes e atingir novos públicos. Se por um lado esses novos vetores de mercado absorveram alguns profissionais, por outro muita gente tem pensado e atuado no possível das circunstâncias seja por meio do dinheiro disponível por leis de emergência (como a Aldir Blanc), seja na reorganização do modo de trabalho. Ninguém quer e nem pode parar. Se existe muita constrição, precarização e recuos nesse processo, no aspecto criativo lidamos com um cenário em que os intentos, as ideias e as práticas a partir do audiovisual são fortes em outros territórios de experimentação. Territórios que não são novos e já estão ai há um tempo, mas que nos chama atenção por serem paradigmas exemplares de um processo de produção audiovisual e criativa foram do mainstream e que se afiguram como paradigmas interessantes desse processo de transformações do cinema.
Uma transição cultural
O trabalho com imagens e sons que entendem as telas como instrumento de investigação expressiva na música, no teatro e nas artes visuais e performativas não aproveitam só o aspecto tecnológico da difusão de suas plataformas, mas também relacionam suas matérias e pressupostos particulares às possibilidades de invenção nas dimensões visuais da tela e na sua dinâmica de tempo, som e imagem entre o campo e o extracampo. O audiovisual é parte fundamental de “cenas” alternativas ligadas à música e ao cenário midiático das redes sociais e internet que promovem intercâmbios com diferentes áreas de experimentação como o audiovisual e a performance, juntando artistas em uma dinâmica colaborativa e experimental.
A dinâmica dos coletivos também ampliam sua atuação para cenas culturais que ultrapassam a fruição convencional dos filmes e lançam suas criações diretamente no Youtube ou projetados em ambiente clubber ou conjugados a projetos, por exemplo, teatrais. Os filmes, aqui no caso desses coletivos, fazem parte de uma cena mais ampla, que envolve teatro, performance, moda e mesmo o material da vida cotidiana transfigurado em estéticas, como por exemplo a queer (de coletivos como Chorumex, Translebixa e Anarca Filmes) e em um modo de recepção distante do tradicional, ou seja: filmes projetados na rua, em festas, não em salas escuras com cadeiras e espectadores silencioso. Esses trabalhos desafiam as definições básicas do que nos acostumamos a chamar de cinema enquanto fruição, mas também, muitas vezes enquanto divisão de trabalho dentro da hierarquia de set.
As mudanças não são, portanto, somente na cultura do cinema e na sua economia e desenvolvimento tecnológico, mas também na transformação do seu regime de percepção e de sensibilidade, no experimento estético de quem faz e na experiência estética de quem vê (e ouve). Se pensarmos o cinema menos como um objeto formatado e delimitado por sua identidade tradicional (a sala e a grande tela, os formatos tradicionais de curta e longa-metragem), e mais como um terreno de imagens e sons que conta com instrumentos diferentes – ciência, televisão, internet, cinema tradicional, apropriação do audiovisual por outras artes – nos deparamos, na verdade, com algo que não é novo: uma atividade técnica e estética que não é específica ou apartada de um amplo contexto artístico, midiático, social e político. E, em certos momentos, as transformações de suas bases se veem desafiadas e transformadas de forma mais intensa.
Hoje, o cinema brasileiro brasileiro, tão frágil em sua estrutura, mas resistente e persistente, está em transição, a maior desde a popularização do aparelho televisor. E o que seria uma transição? Uma pesquisa rápida sobre o conceito de transição nos diz: “a transição é uma espécie de etapa não permanente entre dois estados”.
Entender que o cinema (o audiovisual) passa por uma reconfiguração é a ideia lançada pela temática da Mostra de Tiradentes 2022, um evento que também se situa em um intenso período de transição. Entre o online e o presencial, buscamos trazer esse cenário intenso de transformações para o centro das nossas discussões, sem querer delimitá-las por conceitos, mas trazendo essa intensidade para o centro de nossa vivências e debates.
MOSTRA HOMENAGEM
A curador da Mostra Homenagem, Francis Vogner dos Reis, explica que a escolha da presente edição:
Adirley Queirós e a Ceicine (Coletivo de Cinema da Ceilândia) tomam parte historicamente em um panorama de obras e cineastas brasileiros contemporâneos que nos últimos dezesseis anos se fizeram entre a independência radical dos coletivos e o estímulo das políticas públicas para o audiovisual em nível federal e estadual. Em nível federal nos governos Lula e Dilma, a descentralização, e em nível estadual e municipal de fomento às pequenas produções e aos coletivos.

De “Rap, o Canto da Ceilândia” (2005), passando por “Dias de Greve” (2009), “Fora de Campo” (2010), “A Cidade é Uma Só” (2012) e chegando à “Branco Sai, Preto Fica” (2014) e “Era Uma Vez Brasília” (2017), é possível traçar uma trajetória que reflete um processo político que parte de um passado de violência traumática que determina o presente e influencia os rumos do futuro. Não é a violência positivista, o mito fundador da nação, mas uma violência determinada pelo negativo: “aqui não verá país nenhum”. Por outro lado, é desse território que reconhece personagens, músicas e narrativas fascinantes. Bem demarcado, o espaço de criação é a Ceilândia, território de vivência e construção do que Adirley chama de etnografia da ficção, um princípio prático e estético que situa não somente o corpo do cineasta, mas o corpo de uma equipe inteira, uma imersão de onde emerge a ficção. A afirmação desse lugar é também a formulação de uma contradição explicitada sem maniqueísmos desse espaço denominado Brasília, capital do país, sede do poder, futuro projetado de uma nação que se funda e permanece situada num regime de violência.
Muito dentro do seu lugar, mas sempre denunciando as fronteiras, essa disputa será central em seu cinema. “A Cidade é uma Só”, recorre ao passado para traçar a origem da Ceilândia e o projeto de expulsão daqueles que construíram uma cidade que não podia lhes pertencer. O filme venceu a Aurora na Mostra de Cinema de Tiradentes, em 2012, e foi representante de algumas linhas de força do cinema daquele momento, sobretudo na relação dinâmica de documentário e ficção. Tal paradigma gerou forte influência em uma geração de cineastas em um momento em que a visada política dos filmes ganhava tônus. “Branco Sai, Preto Fica” estreou em Tiradentes em 2014 na mostra Aurora em um ano importante em que teve “Batguano”, de Tavinho Teixeira e venceu “A Vizinhança do Tigre”, de Affonso Uchoa. “Branco Sai, Preto Fica” com seu final apoteótico ligou o passado e o futuro em um gesto simbólico radical que nos diz muito do que viria a seguir no país.
O nosso homenageado Adirley Queirós é um dos cineastas que marcaram a história recente da Mostra de Cinema Tiradentes e o cinema brasileiro que traz em sua obra características que ajudam a elaborar o que foi o cinema da última década e nos dá elementos para pensar o futuro.
“De Rap, o Canto da Ceilândia” (2005)
“Dias de Greve” (2009)
“Fora de Campo” (2010)
“A Cidade é Uma Só” (2012)
“Branco Sai, Preto Fica” (2014)
“Era Uma Vez Brasília” (2017)
“Meu Nome é Maninho” (2014).
MOSTRA OLHOS LIVRES
Texto dos curadores Francis Vogner dos Reis e Lila Foster.
VARIAÇÕES POÉTICAS
Neste ano três dos seis integrantes da Mostra Olhos Livres já passaram pela Mostra Aurora: Allan Ribeiro (“Mais do que Eu Possa me Reconhecer“, vencedor do Aurora em 2015) chega com “O Dia da Posse” (RJ); Caetano Gotardo (“Seus Ossos, seus Olhos“, 2019), com “Você nos Queima” (SP); e Rodrigo de Oliveira (“As Horas Vulgares”, 2012, e “Teobaldo Morto, Romeu Exilado”, 2015) com “Os Primeiros Soldados” (ES). A seleção da Mostra Olhos Livres ainda conta com Germino Pétalas no Asfalto, de Coraci Ruiz e Julio Matos (SP), “Manguebit“, de Jura Capela (PE, SP e RJ) e “Avá – Até que os Ventos Aterrem”, de Camila Mota (SP).

Em “O Dia da Posse” (RJ), Brendo Washington sonha em ser presidente do Brasil, estuda Direito, discursa e performa como se estivesse em um reality show. A construção de uma performance na imagem em um cotidiano/intimidade que se tornou produção ininterrupta de imagens, ainda mais em um contexto de pandemia, não toma forma de mero registro, mas dá a ver os mecanismos das encenações, mesmo aquelas que parecem cenas da “vida real”. O filme também nos permite escapes poéticos, quando a mão no mar e a poesia recitada é respiro diante das desafiadoras restrições dos últimos anos.
Assim como o filme de Allan Ribeiro, “Você nos Queima” (SP) é um filme que nos expande, nos faz respirar, que abre espaços no corpo, no tempo e no tecido da cidade. Através de coreografia dos corpos, das palavras e das coisas, a observação poética da cidade é um desdobramento das pesquisas de coreografia e teatralidade de Caetano Gotardo. As pedras e a circunvoluções das águas, as pernas no metrô, a coreografia do próprio diretor no quarto, o jogo dialético entre palavra e imagem, tudo isso tem uma sinuosidade raramente vista no cinema.
Documentário que também vai ser atravessado pelas rupturas da ordem da vida e do cotidiano que vivenciamos nos últimos anos, Germino Pétalas no Asfalto (SP) acompanha e testemunha mudanças da vida de Jack e de outros jovens que vivenciam a transição sexual. A câmera “observadora” tem estratégias de aproximação que redimensionam a noção de personagem por ter, por um lado, uma clara adesão, e por outro uma relativa distância para preservar a força própria das circunstâncias e situações filmadas. Um arco temporal e um arco de vida politicamente muito intensos.
“Manguebit” é um filme que faz um inventário do mangue beat a partir de fascinantes imagens de arquivo e narrativas que nos localizam em Recife e no restante do Brasil nos anos 1990. A forma do documentário, seu ritmo de montagem e seu entusiasmo metabolizam a intensidade das sonoridades do mangue beat, tangencia as polêmicas com os tradicionalistas, a reedição particularíssima e sob outra esfera de influência da modernidade antropófaga da arte brasileira e suas polêmicas com os tradicionalistas do movimento armorial, mais precisamente Ariano Suassuna. Os arquivos também dão a ver uma cena musical riquíssima – Cumadre Florzinha, Karina Buhr, Eddie, Mundo Livre S.A., Devotos, entre outros – e ampliam o imaginário do movimento para além da figura central e icônica de Chico Science. Atriz e diretora importante do Teatro Oficina, Camila Mota é diretora de “Avá – Até que os Ventos Aterrem”, que mobiliza uma cosmogonia ao mesmo tempo originária e derradeira para agenciar o caos do mundo desde a perspectiva dos trópicos. Avá cruza o teatro, imagens audiovisuais em um trabalho de montagem e som que experimenta tempos e texturas que não estão distantes do cinema e do vídeo que herdou a antropofagia dos modernos nos anos 1970 e 1980.
Esses seis títulos são exemplares da diversidade de enfoques da Mostra Olhos Livres, que tem revelado a cada ano uma variação de olhares de cineastas que em sua maioria já possuem um percurso mais ou menos consolidado e outros que fazem proposições de experimento, abordagem e estilo que consideramos que devem ser vistos e colocados em debate por sua singularidade ou radicalidade.
“Avá – Até que os Ventos Aterrem”, de Camila Mota
Sinopse: 53.000 anos antes ou depois de ninguém. há três dias o eixo da terra está parado. O sol e a lua habitam o horizonte da terra ao mesmo tempo, alinhados. As vibrações sobre a superfície reduziram consideravelmente, estamos agora muito próximos do marco zero vital. As células das plantas e a hemoglobina humana precisam se encontrar. Só há um momento para a fotossíntese. O horror dos trópicos corroeu todos os olhos. Libertem a partícula condensada de tudo.
“Germino Pétalas no Asfalto”, de Coraci Ruiz e Julio Matos
Sinopse: Quando Jack inicia seu processo de transição de gênero, o Brasil mergulha em uma onda de extremo conservadorismo. O filme acompanha as transformações em sua vida e no país, atravessados por um governo de extrema direita e por uma pandemia devastadora. Através de um relato íntimo do cotidiano de Jack e seus amigos, vemos florescer uma rede de afeto e solidariedade que se constitui em meio a um contexto adverso.

“Manguebit“, de Jura Capela
Sinopse: O mangue beat, movimento musical e estético que nasceu em Pernambuco nos anos 90, mudou a visibilidade das periferias e das manifestações culturais da Região Metropolitana de Recife e colocou o estado na rota do mercado musical mundial, após o lançamento de bandas como Chico Science e Nação Zumbi e Mundo Livre S.A. O filme experimenta a liberdade do pensar do mangue por meio de uma linguagem multifacetada, que reúne ideias e ideais, refletindo a ousadia que deu vazão ao grande símbolo do movimento: uma antena parabólica enfiada na lama dos estuários.
“O Dia da Posse“, de Allan Ribeiro
Sinopse: Brendo quer ser presidente do Brasil. Enquanto esse dia não chega, ele estuda Direito, faz vídeos para as redes, sonha com novas conquistas e se imagina em um reality show, durante a pandemia.
“Os Primeiros Soldados”, de Rodrigo de Oliveira
Sinopse: Em Vitória, na virada de 1983, um grupo de jovens LGBTQIA+ celebra o réveillon sem ideia do que se avizinha. O biólogo Suzano sabe que algo de muito terrível começa a transtornar seu corpo. O desespero diante da falta de informação e do futuro incerto aproxima Suzano da artista transexual Rose e do videomaker Humberto, igualmente doentes. Juntos eles tentarão sobreviver à primeira onda da epidemia de Aids.
“Você Nos Queima“, de Caetano Gotardo
Sinopse: Uma pessoa narra uma intensa experiência amorosa interrompida logo em seu início. O mergulho na subjetividade desse narrador, assim como alguns fragmentos de poemas quase perdidos de Safo e de Lucrécio e alguns caminhos musicais, nos conduzem por imagens de diversos corpos de outras pessoas em constante movimento nas ruas, em festas, em casa ou dentro do metrô. Corpos que se deslocam de algum lugar indefinido a outro, numa mistura entre a concretude mais cotidiana do gesto e a abstração possível da dança.
MOSTRA AURORA
Texto dos Curadores Francis Vogner dos Reis e Lila Foster.
UMA ABERTURA PARA O MUNDO
Desde a sua criação, em 2008, a Mostra Aurora teve como o seu guia principal a atenção para realizadoras e realizadores que iniciavam suas carreiras no longa-metragem. No decorrer dos anos, os critérios se ampliaram e passaram a incorporar trabalhos de artistas com até três longas no currículo. Dessa forma, passamos a acompanhar não somente a estreia de diretoras e diretores, mas um percurso artístico, a forja de um estilo, as mudanças a partir de cada desafio de criação. Nos últimos anos a Aurora foi, portanto, um espaço de estreias, mas também de visibilidade de certos percursos artísticos.
A Mostra Aurora de 2022 talvez sinalize para um ponto de retorno à sua primeira configuração. Todas as diretoras e diretores farão a sua estreia no longa-metragem e muitos passaram os seus curtas-metragens em Tiradentes. Existe um trajeto a ser pensado a partir dessas primeiras experiências com o cinema e o trabalho realizado no longa-metragem, caminhos que apontam para uma continuidade de pesquisa ou a abertura para outras formulações estéticas.
Indo aos filmes, “Bem-Vindos de Novo” (SP), de Marcos Yoshi, é um documentário autobiográfico que, se valendo da força dos arquivos pessoais e de filmes de família em VHS, vai mergulhar na história familiar do próprio diretor, uma que está atrelada a percursos de migração entre o Brasil e o Japão. Tal pesquisa se inicia com o curta-metragem “Aos Cuidados dela” (2020),que integrou a Mostra Foco de 2020, curta-metragem dedicado à história de sua avó, filha de imigrantes japoneses, e os esforços na constituição de uma história comum entre gerações. Nesse mergulho na história familiar, o pessoal ultrapassa a fronteira da mera biografia e da intensidade das dinâmicas familiares para apontar para a história de trabalhadores e trabalhadoras que atravessam fronteiras e têm a sua narrativa de vida atrelada ao mundo do trabalho.
Também numa chave autobiográfica, mas com outros contornos estéticos, “Seguindo Todos os Protocolos” (PE), de Fábio Leal, coloca o diretor-ator no centro de uma trama de sobrevivência física e amorosa na pandemia, com um gesto que flerta com a autobiografia, sem deixar de também compor um registro do estado das coisas — do flerte, das relações, dos índices de contaminação da COVID, das paranoias pandêmicas. Se pensarmos nos outros filmes do diretor como “Reforma”, que integrou a Mostra Panorama em 2018, seu trabalho vai dar forma ao erotismo e à neurose nossa de cada dia, afetos misturados e resolvidos, nunca plenamente, na intensidade do sexo e da troca amorosa. Nas modulações dos dramas representados, tem performance, tem dramaturgia, tem autorretrato, tem documentário sobre a geografia dos corpos.

“Sessão Bruta” (MG), do coletivo independente As Talavistas – com Pink Molotov, Darlene Valentim, Marli Ferreira, Cafézin – e ela.ltda (Gabrela Luíza) intensifica a performance em uma casa transformada em cenário e palco para dança, conversas, ensaios em cena. Na banda sonora, as cenas são entremeadas por falas, depoimentos que surgem em meio aarranjos cênicos, mostrando também o imaginário, as lutas e as intensidades da vida de um grupo de artistas de Belo Horizonte. Como em Pietá, produzidopor As Talavistas e ela.ltda, e Drama Queen, de ela.ltda, curtas que também passaram por outras edições de Tiradentes, a mídia também performa, a textura do vídeo sendo desmanchada, as cores esgarçam o esquema RGB e o cenário de mídia contemporâneo – redes sociais, memes, posts, confessionários em sinal aberto – é matéria e meio de criação.
No pêndulo entre fabulação e documentário, entre observação e intervenção na ordem do mundo visível, “Grade” (MG), de Lucas Andrade, acompanha a vida de detentos em uma prisão com um esquema de reclusão alternativa. O gesto de conhecer o espaço, conhecer os detentos e a dinâmica de trabalho em um espaço de autogestão, se dá pelo olhar atento às dinâmicas de um espaço, mas também por um olhar colado a seus personagens. Desta forma, o que se dá a ver e o que se cria é também uma abertura, um olhar pela fresta de desejos, imaginários e criações audiovisuais que interrompem o fluxo usual da observação para dar vazão a um outro tipo de imagem/imaginário.
“A Colônia” (CE), de Virgínia Pinho e Mozart Freire, também entrelaça observação e gestos ficcionais ao registrar a dinâmica do bairro de Colônia, em Maracanaú (CE), zona estabelecida nos anos 1940 como área restrita aos portadores de hanseníase. A segregação do passado vai se tornando um outro tipo de segregação no cenário contemporâneo, uma que vai esquecendo das pessoas e suas histórias, onde o poder público chega somente com a força da expulsão. Com uma história que caminha em paralelo, uma personagem busca um lugar para morar, ao mesmo tempo que nos convida a conhecer pessoas que ali habitam, reconstruindo aquele por meio de conversas, passeios pela cidade, na visita pelas casas. A ideia de reconstrução e observação também marca o trabalho anterior dos diretores, que também passaram por Tiradentes. Miragem, de Virgínia Pinho, cria uma narrativa de vida através do arquivo, imagens e dispositivos encontrados em feiras, e Cinemão, de Mozart Freire, que observa a intensidade de um antigo cinema pornô. Ambos foram produzidos pela Escola Pública de Audiovisual Vila das Artes.
Alexandre Wahrhaftig, ganhador de Melhor Curta com “E”, na 17ª Mostra de Tiradentes, feito em codireção com Miguel Antunes Ramos e Helena Ungaretti, volta a sua atenção novamente à dinâmica espaço social da cidade de São Paulo. Em “Panorama” (SP), o diretor mergulha no passado e no futuro incerto da comunidade do Jardim Panorama, favela que vai sendo demolida com a invasão de vultosos projetos imobiliários. A memória do lugar, o mapa das suas ruas e as histórias de resistência vão sendo construídos pelos depoimentos, imagens de arquivo, caminhadas que reconstroem os antigos limites da comunidade, as casas que se foram, as moradias que permanecem. Os arquivos, os filmes amadores, as fotografias, são peças-chaves nesse mapeamento, dando a ver também a força do trabalho comunitário de outras micro-histórias ali presentes, como a história do rap na cidade de São Paulo, as mutações dos bairros, as formas do transitar pela precariedade dessa cidade em eterno movimento de construção e destruição.
Também atenta à geografia, Ariadine Zampaulo, em “Maputo Nakurandza” (RJ), faz uma crônica, uma incursão poética pelas ruas de Maputo, Moçambique, com uma modernidade narrativa (intensa e fragmentária) como raramente vemos no cinema atual. A câmera vai mapeando a cidade e criando vínculos com os personagens que atravessam o filme, criando sutis narrativas, nesse filme que se faz em um gesto de conhecer um lugar e suas pessoas, sua luz e seus sons, sua ordenação possível e seu caos. O seu trabalho documental-narrativo é uma fina linha que vai sendo tecida entre diferentes núcleos de interesse, as ondas do rádio que conectam seus personagens imersos em um cotidiano fabular, espectral e poético. Nessa miríade narrativa a diretora faz intervenções performáticas que evocam a ancestralidade como a dimensão do invisível que sustenta o imaginário daquele lugar ainda em embate com a violência colonial.
Uma abertura para o mundo que observa e fabula, registra e cria espaços, os filmes da Mostra Aurora apontam para essas linhas borradas entre, por falta de melhores palavras, a documentação e a ficcionalização, entre o registro e a fabulação, entre a biografia e o estado das coisas do mundo no qual os seus personagens habitam. São estreias em um Brasil que, se não podemos de forma alguma chamar de novo diante de uma situação marcada por enorme devastação, de alguma forma nos sentimos renovados por trazer a reafirmação de que a força do cinema está aqui e permanece, agora novamente com a possibilidade do encontro entre nós, o público, o vigoroso trabalho das realizadoras e realizadores aqui presentes.
“A Colônia”, de Mozart Freire e Virginia Pinho – CE
Sinopse: O bairro Antônio Justa, em Maracanaú (CE), surge a partir de uma colônia fundada em 1942 para o isolamento de pessoas com hanseníase. Hoje os novos moradores e os descendentes dos primeiros pacientes convivem num território marcado pela ocupação irregular e a especulação imobiliária, atravessado pelo estigma da doença no passado e a realidade precária atual.
“Bem-vindos de novo”, de Marcos Yoshi – SP
Sinopse: Pais e filhos se reencontram depois de 13 anos separados. Este é o ponto de partida do filme, que acompanha o processo de reconstrução afetiva da família do diretor Marcos Yoshi, atravessada pelo fluxo de migrações entre o Brasil e o Japão, conhecido como fenômeno dekassegui. A história de uma família de descendentes de japoneses dividida entre a necessidade de garantir o sustento e o desejo de permanecerem juntos.
“Grade”, de Lucas Andrade – SP/MG
Sinopse: O filme acompanha as experiências diárias e os sonhos dos moradores de um tipo específico de reclusão de liberdade em que os apenados assumem a manutenção do espaço, o controle das próprias atividades e de sua segurança. Com uma abordagem multifacetada, propõe a reflexão sobre o potencial criativo das pessoas encarceradas, do próprio gênero do documentário e de sua verdade.
“Maputo Nakuzandza”, de Ariadino Zampaulo – RJ/SP
Sinopse: Amanhece na capital de Moçambique. Jovens saem de uma festa e nos quintais senhoras iniciam o dia. Um homem corre, uma mulher chega de viagem, um turista passeia, um trabalhador apanha o transporte público e a rádio Maputo Nakuzandza anuncia o desaparecimento de uma noiva.
“Panorama”, de Alexandre Wahrhafitg – SP
Sinopse: Entre as cicatrizes do passado e as incertezas do futuro, o Jardim Panorama resiste. Há pouco mais de dez anos, a favela foi rasgada ao meio por um monstro. Hoje, o mostro dorme. Até quando? Um filme sobre os sonhos, as memórias e o cotidiano de quem mora em uma comunidade cercada pelos muros de um bairro nobre de São Paulo.
“Seguindo todos os protocolos”, de Fábio Leal – PE
Sinopse: Após ficar 10 meses sozinho em quarentena, Francisco quer transar.
“Sessão Bruta”, de As Talavistas e ela.ltda – MG
Sinopse: Rodado a quente com uma câmera Mini-DV, em 2018, sem grandes preparativos, mas com muito suor e cerveja, o filme se apresenta como uma sucessão de prólogos de um filme sempre por fazer. O que une todos é o desejo de pegar para si uma fatia do mundo.
MOSTRA CINEMA EM TRANSIÇÃO
Texto dos curadores Francis Vogner dos Reis e Lila Foster.
DUAS FRONTEIRAS DA CRIAÇÃO AUDIOVISUAL
Em uma visada geral, a percepção é de que muitos filmes que compõem a programação poderiam estar presentes da Mostra Temática deste ano. A experimentação do cinema com outras artes e a difusão por atuais plataformas digitais os qualificariam para trazer uma discussão nova como sobre a imagem e o ofício criativo. Essa percepção nos moveu a fazer um recorte mais preciso e no qual os filmes fossem mais diretamente ao cerne da questão. Este ano a Temática Cinema em Transição elabora sobre as fronteiras do cinema e as práticas que não são novas, mas que no lastro desse nosso processo histórico dos últimos anos, em especial o episódio da pandemia, ganham outra dimensão.
“Diário Dentro da Noite” é obra total de Chico Díaz. É dele o roteiro, a direção e a atuação; filme realizado durante a pandemia em que testemunhamos o ensaio dos textos de “A lua vem da Ásia”, de Campos de Carvalho, peça que posteriormente foi encenada em transmissão online. Mas aqui não temos o espetáculo teatral, mas uma mise-en-scène de cinema, enquadramento, profundidade e a modulação de tempo. O cenário é seu espaço de intimidade com as pinturas que faz, os afazeres domésticos e o laboratório de seu personagem nas leituras e declamações dos textos. Performance da palavra: corpo e palavra nele parecem uma coisa só. O processo e o esboço elaboram a figura. Um feliz encontro entre os procedimentos de um ator na construção de um personagem e o aparato cinematográfico.
Se o laboratório doméstico de Díaz sugere um tom mais sereno na realização do esboço de sua peça, a série “Hit Parade”, criada por André Barcinski e dirigida por Marcelo Caetano, desenvolve uma ficção em ritmo célere que se passa nos bastidores da indústria fonográfica e da televisão nos 1980, que primava pela fabricação em série de artistas e discos. A série se passa em Belo Horizonte, com equipe e elenco da cidade, e investe na figura da precariedade da indústria cultural no Brasil à época. Mais do que os filmes brasileiros de longa-metragem, em “Hit Parade” (episódios 1 e 2) temos o parentesco com tradições cinematográficas do moderno: os interiores extravagantes e modestos dos musicais de Watson Macedo, o temperamento queer do cinema de José Antônio Garcia e o melodrama da crueldade fassbinderiano e uma pontinha de folhetim. A série é uma soma sofisticada e galhofeira com uma comunicação que raramente o cinema brasileiro contemporâneo de longa-metragem possui. Entre o experimento artesanal teatral e a série autorreflexiva sobre a indústria cultural, o audiovisual adota caminhos alternativos de criação de imagens. É preciso olhar para essas experiências e entender o que elas nos indicam.
“Diário Dentro da Noite”, de Chico Diaz – RJ
Sinopse: Durante a noite vivida em 2020 com pandemia e negacionismo, ator em ensaio mescla confinamentos, o seu e do personagem que ensaia, um dos mil oferecidos pelo romance “A lua vem da Ásia” de Campos de Carvalho. Como burlar os limites impostos pelo espaço, pelo tempo e corpo? Narrativa e linguagem são dispositivos estruturantes nessas condições. Qual a saída? A memória? O afeto? O imaginário? A libertação se dá através do caminho singular, o da autoralidade, imaginação e poesia.
“Ficções Sônicas #2”, de Grace Passô – SP
Sinopse: FICÇÕES SÔNICAS #2 é uma peça-filme realizada no centro de São Paulo, durante a pandemia. Na história, artistas ocupam o Theatro Municipal e ensaiam uma peça sem público, em busca de um caminho que o despertem da inação e da automação da sensibilidade. A peça-filme faz parte do Projeto Ficções Sônicas, idealizado por Grace Passô, onde uma série de criações artísticas são feitas para experimentar sons e agir a partir das vidas negras em diáspora.
“Hit Parade, Episódios 1 e 2”, de Marcelo Caetano – SP
Sinopse: Sem trabalho e sem sucesso, o cantor Simão procura o produtor musical Missiê Jack que o convida para escrever uma canção para um cantor brega. A música bomba nas paradas musicais, mas Missiê dá um golpe inesperado em Simão. Revoltado, o cantor abre uma gravadora para rivalizar com seu desafeto. Se valendo de trapaças e mentiras, os dois iniciam uma guerra para ver quem emplaca mais hits no topo das paradas.
Texto dos curadores das Séries de curtas: Camila Vieira, Felipe André Silva e Tatiana Carvalho Costa
O VIGOR INVENTIVO DE UM CINEMA EM TRANSIÇÃO
A Mostra Temática reúne, em duas sessões, curtas-metragens que articulam sensibilidades em experimentos narrativos que endereçam questões contemporâneas –políticas, econômicas e sobretudo estéticas –de um cinema em transição. A fragilidade, o risco, as complexidades e alguns caminhos possíveis para existência das imagens e sons que se endereçam a nós e a um futuro incerto se apresentam nestes nove filmes.
As sessões trazem linhas de força que nos possibilitam refletir sobre a condição de existência desses e de tantos outros filmes no atual paradoxo de um cinema brasileiro –e de todo o campo da cultura no país –ameaçado, fragilizado e que ainda assim mantém seu vigor inventivo. Sem romantizar a precariedade dessa condição, os filmes aqui reunidos se constroem por vários caminhos: seja na aproximação do cinema com outras artes (cênicas, visuais), na organização em torno da própria impossibilidade de se fazer cinema, de existir, enfim, com dignidade neste momento, revisitando memórias ou questionando e fabulando existências possíveis. Encaram o abismo e tiram de lá nossos traumas, nossas entranhas e algumas centelhas de esperança.
“Do Amazonas, 521 Anos | Siia Ara”, de Adanilo, é uma videoperformance em que o corpo do artista indígena agoniza acamado no meio de uma floresta cercada por objetos que simbolizam a história da colonização no Brasil.
“O documentário Voz na Escuridão”, de José Hélio Neto, é uma conversa franca e afetuosa na perspectiva de um jovem realizador sobre questões que ficam à margem dos debates sobre cinema: o apoio familiar que muitas vezes é tão importante quanto o fomento à produção. O filme é realizado a partir de Hortolândia, em São Paulo.
“Qual é a Grandeza?”, do diretor baiano Marcus Curvelo, é um documentário performático e imaginativo onde são colocados em discussão o valor, material e artístico da produção audiovisual, e a autoridade da figura do realizador perante o mundo que retrata.
Realizado no sul da Bahia, “Tenho Receio de Teorias que Não Dançam”, de Gau Saraiva, evoca a fragilidade e a potência da existência travesti e, por meio da performance de Dodi Leal, inscreve na paisagem instável do mangue e num horizonte de imagens possíveis a inevitável posicionalidade do pensamento e do imaginário, desconstruindo a ficção do sujeito universal do conhecimento.
“Centelha”, documentário vindo do Acre e dirigido por Renato Vallone, aborda o contexto pandêmico através do delírio de um homem que ritualiza e somatiza no corpo as dores da fome, do desespero, da história de um país abandonado à própria sorte.
Já em “Mutirão – O Filme”, o cineasta paulista Lincoln Péricles dá continuidade a seu projeto de cinema nas áreas do Capão Redondo, ativando a memória das construções dos espaços urbanos através de um diálogo solene praticado entre o realizador e sua sobrinha, unindo o gesto da infância a uma história praticada pelo dispositivo.
No delicado e poderoso experimento “Rua Ataleia”, o cineasta mineiro André Novais Oliveira retoma de forma criativa o princípio básico do claro e escuro, utilizando imagens de sua própria família, para falar sobre afeto, intimidade, a tentativa de manutenção e inevitável perda da memória.
A concepção, criação e performance “Camboa”, de Bruno Moreno, coloca um corpo a descansar em uma rede armada sobre um braço de mar frequentado por pescadores no Piauí e onde a maré enche em dia de lua cheia.
“Indução ao Processo de Autodesconhecimento00001”, da multiartista pernambucana Aoruaura, investiga as diferentes deformações da imagem de um corpo, por meio do espaço dilatado e da reflexão sobre o tempo da memória.
Por fim, “Yãy Tu NũnãhãPayexop: Encontro de Pajés”, dirigido por Sueli Maxakali, abre um novo caminho em suas imagens através da frontalidade com que expõe um momento tão ímpar vivenciado pelas tribos indígenas aos olhos nus do espectador, intensificando o poder de seu discurso e reavaliando constantemente os códigos de um cinema que se apresenta em constante mudança e alteração.
Curtas – Séries 1
“Camboa”, de Bruno Moreno – PI
“Indução ao Processo de Autodesconhecimento 00001”, de Aoruara – PE
“Rua Ataléia”, de André Novais Oliveira – MG
“YÃY TU NŨNÃHÃ PAYEXOP: ENCONTRO DE PAJÉS”, de Sueli Maxakali – MG
Curtas – Séries 2
“521 Anos | Siia Ara”, de adanilo – AM
“Centelha”, de Renato Vallone – AC
“Mutirão”, de Lincol Péricles – SP
“Qual é a Grandeza?”, de Marcus Curvelo – BA
“Tenho Receio de Teorias que Não Dançam”, de Gau Saraiva – BA
“Voz na Escuridão”, de José Hélio Neto – SP
MOSTRA À MEIA-NOITE LEVAREI SUA ALMA
Texto de Francis Vogner dos Reis (Coordenador curatorial) e de Maria Trika (Assistente de Curadoria)
MOSTRA À MEIA-NOITE LEVAREI SUA ALMA
A Mostra À Meia-Noite Levarei a sua Alma, dentro da Mostra de Cinema de Tiradentes, exibirá no fim de noite sessões de filmes do gênero fantástico ou extremo. O título sugerido pela assistente de curadoria, Maria Trika, é uma homenagem ao cineasta José Mojica Marins e pretende abrir espaço na Mostra para experiências radicais em expressões que Mojica Marins exerceu durante sua carreira, mais precisamente o fantástico no terror e o gênero erótico. A ideia é que a Mostra tenha continuidade nos próximos anos e que o público do cinema fantástico aporte em Tiradentes. Ela abre com o filme inédito de José Mojica Marins, “A Praga”, realizado em 1980, restaurado e finalizado recentemente, inédito até hoje. Tem 51 minutos e será antecedido por um curta atual que explica “A Praga”, chamado “A Última Praga de Mojica”, de 17 minutos, dirigido por Eugenio Puppo, também responsável pela finalização de A Praga. O curta relata o processo de recuperação do filme de Mojica, considerado perdido desde sua realização, com imagens do acervo pessoal do cineasta, relatos de profissionais envolvidos e parceiros dele de longa data. Já o filme de Mojica narra a trajetória do fim de um fotógrafo amaldiçoado por uma bruxa ao tentar capturar sua imagem. O feitiço tira o sono do jovem e o conduz a sua perdição, atordoado pela a imagem da feiticeira e o poder da praga rogada pela imagem e que atormenta o personagem justamente com as imagens. Propositalmente ou não, o último filme do mestre Mojica é quase uma metáfora desse pesadelo e delírio fatal que é fazer (e ser devorado pelo) cinema. Essa eterna tormenta pelas imagens que não se revelam, aquelas alcançadas apenas em um mundo outro, as imagens que como ideias fixas nos fazem perder a cabeça, aquelas que nos perseguem ao fechar os olhos e romper com a realidade. As imagens que nos devoram de dentro para fora.

Outro filme que estreia no À Meia-Noite Levarei sua Alma é “Extremo Ocidente”, do carioca João Pedro Faro. Uma espécie de ensaio pop e gore em uma estética que mistura texturas de som e imagem pop e analógicas (FM, TV) a partir de uma crueza estética programática, quase caseira. É um experimento de som e imagem entre o horror e o cinema de invenção brasileiro. O que o difere do cinema marginal é o barato tautológico, é o hedonismo sem desespero em uma ficção em que um soldado solitário em um mundo pós-apocalíptico parece à espera de algo enquanto um canibal barbariza em meio às ruínas. Faro é um cineasta com gosto pelo horror e o experimental e tem ideias sobre a imagem e som. É um cineasta jovem que já conta alguns filmes e possui uma sensibilidade singular no cinema contemporâneo.
“A Praga”, de José Mojica Marins – SP
“A Última Praga de Mojica”, de Cédric Fanti, Eugenio Puppo, Matheus Sundfeld, Pedro Junqueira – SP
“Extremo Ocidente”, de João Pedro Faro – RJ
MOSTRA AUTORIAS
Texto dos curadores Francis Vogner dos Reis e Lila Foster
A ARTE E SEUS REFLEXOS
A Mostra Autorias é retomada nesta 25ª Mostra de Cinema de Tiradentes e programa dois filmes que, para além das assinaturas de diretores com obras reconhecidas, ambos se fazem a partir do trabalho de outros dois autores: Machado de Assis, em “Capitu e o Capítulo“, de Júlio Bressane, e o fotógrafo Carlos Filho em “Cafi“, de Lírio Ferreira.
Em “Capitu e o Capítulo”, Bressane faz a sua tradução intertextual não da trama, mas da forma do romance de Machado não a partir da totalidade, mas do capítulo. As imagens existem como reminiscências da obra de Machado aproximando as imagens criadas pelo texto ao exercício das pinturas de ateliê. O personagem narrador evoca a percepção da personagem Capitu elaborada como patologia, algo pregnante em que cabe não um esforço interpretativo, mas uma imagem.
“Cafi”, de Lírio Ferreira, encontra o fotógrafo Carlos Filho e sua obra, sua reflexão e sua prática fotográfica pregnantes sobre a cultura popular, mais precisamente dança, teatro e música brasileira. Uma obra que lança um olhar original sobre outras obras ou que, nos casos mais significativos, tomam parte do imaginário desses trabalhos. Um exemplo são as dezenas de capas de disco que criou, com destaque para a que fez para o álbum Clube da Esquina, de Milton Nascimento e Lô Borges.
A Mostra Autorias, portanto, vai além da assinatura pessoal do artista para refletir o olhar do criador que tem a arte como objeto, mas que também se mescla às obras investigadas. São variações sobre imagens e evocações que se sedimentaram no imaginário a partir de suas próprias regras, aqui revisitadas.
“Capitu e o Capítulo”, de Julio Bressane – RJ
Sinopse: Se os vermes não sabem nada sobre os textos que roem, Júlio Bressane tem intimidade com os seus sabores e faz da obra de Machado de Assis uma companheira inesgotável. Não se trata, como podem sugerir os primeiros respiros, de uma adaptação de Dom Casmurro, mas de uma dança ensaística ritmada por uma singularidade de estilo: a brevidade de capítulos que expandem a figura do narrador e apresentam, na personalidade incisiva de Capitu e nas respostas titubeantes de Bentinho, uma redefinição dos duos habituais da filmografia do eterno abre-alas do cinema de invenção.
“Cafi, de Lírio Ferreira e Natara Ney” – PE
Sinopse: O filme tem a arte como tema principal. Retrata a obra do fotógrafo recifense Carlos Filho, o Cafi, que durante mais de 40 anos se dedicou a registrar grande parte dos acontecimentos da dança, teatro e da música popular brasileira. Gravações, shows, turnês e ensaios de importantes artistas passaram pelas lentes de Cafi. Tudo registrado de maneira intimista e poética. Cafi também assinou imagens que ilustram mais de 300 capas de discos e encartes, para artistas importantes do Brasil, começando com o icônico Clube da Esquina. CAFI é um tributo à arte, ao talento e ao amor pela vida.
MOSTRA FOCO
Texto dos curadores Camila Vieira, Felipe André Silva e Tatiana Carvalho Costa.
CONSTRUÇÃO DE CENA, PERCURSOS E AFETIVIDADES
A Mostra Foco abre com a produção paulista “A Morte de Lázaro”, dirigida por Bertô, uma encenação da história bíblica de Lázaro contada com forte rigor formal e estético, que surge como uma interessante provocação no atual panorama do cinema. Também paulista, o curta “Ingra!”, realizado por Nicolas Thomé Zetune, é outro ousado experimento maneirista que combina e reimagina os universos do filme de assalto e da distopia fantástica numa mistura hipnotizante. Também de caráter experimental, o carioca “Bicho Azul”, de Rafael Spínola, é um monólogo direto e cortante, porém bastante afetuoso, sobre memória, imagem e o mistério que envolve o luto.
No também carioca “Iceberg”, o diretor Will Domingos, propõe pensar a realidade pandêmica através de outros códigos e, a partir do mal-estar que assombra uma cooperativa de costura para pessoas LGBT+, faz um comentário contundente sobre nosso tempo. A sessão é concluída com o curta “Prosopopeia”, um surpreendente jogo de cores, vozes e vidas realizado pela cearense Andreia Pires, que flerta com o teatro e o musical para pintar o panorama de um grupo mambembe tão heterogêneo quanto unido.
A segunda sessão da Foco abre com “Madrugada”, de Leonardo da Rosa e Gianluca Cozza. Feito na Universidade Federal de Pelotas (UFPel), no Rio Grande do Sul, o documentário acompanha o percurso de homens que trabalham seguindo as linhas férreas antes do amanhecer. O ensaio cearense “Rumo ao Desvio”, de Linga Acácio, pensa a noção de desvio por meio de um corpo que se desloca em uma paisagem alterada pela transposição das águas do Rio São Francisco.
Produzido no curso de Realização em Audiovisual da Vila das Artes, em Fortaleza, e com recursos da Lei Aldir Blanc, “Na Estrada sem Fim Há Lampejos de Esplendor”, de Liv Costa e Sunny Maia, é atravessado por encontros entre jovens em uma viagem de noite de lua cheia por Jaguaretama, no Ceará. A sessão finaliza com Prata, de Lucas Melo, realizado na AIC do Rio de Janeiro. A trama parte dos anseios de um grupo de garotos que vivem no bairro que dá título ao curta, localizado em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.
Dirigido por Anália Alencar, “Bege Euforia” foi filmado em três municípios no interior do Rio Grande do Norte. No experimento ficcional, territórios escorregadios da experiência do feminino e do amor se reorganizam com o retorno do sagrado de um passado e de uma missão que precisa ser cumprida. Numa deriva sobre a experiência do êxodo, Eu te Amo É no Solé realizado em Minas Gerais, tem direção de Yasmin Guimarães e traz o reencontro de namoradas que precisam lidar com as (im)possibilidades de reconexões.
“O Nascimento de Helena”, também do Rio Grande do Norte, tem direção de Rodrigo Almeida (“Surto&Deslumbramento”). Em parte novelesco, o experimento caricato elabora uma fantasia de destruição. A sessão é encerrada com o filme-tese de Érica Sarmet, Uma Paciência Selvagem me Trouxe até Aqui. A produção de São Paulo articula vivências intergeracionais de mulheres sob um “gaze” lésbico que imprime um senso de liberdade às modulações de corpos e desejos.
“A Morte de Lázaro”, de Bertô – SP
“Bege Euforia”, de Anália Alencar – RN
“Bicho Azul”, de Rafael Spínola – RJ
“Eu te Amo é no Sol”, de Yasmin Guimarães – MG
“Ingra!”, de Nicolas Thomé Zetune – SP
“Iceberg”, de Will Domingos – RJ
“Madrugada”, de Leonardo da Rosa e Gianluca Cozza – RS
“Prata”, de Lucas Melo – RJ
“O Nascimento de Helena”, de Rodrigo Almeida – RN
“Na Estrada Sem Fim Há Lampejos de Esplendor”, de Liv Costa e Sunny Maia – CE
“Prosopopeia”, de Andreia Pires – CE
“Rumo ao Desvio”, de Linga Acácio – CE
“Um Paciência Selvagem Me Trouxe Até aqui”, de Érica Sarmet – RJ
MOSTRA FOCO MINAS
Texto dos curadores Camila Vieira, Felipe André Silva e Tatiana Carvalho Costa.
REALISMO, NARRATIVAS E EXPERIMENTAÇÕES MINEIRAS
Com 11 curtas-metragens distribuídos em duas sessões, a Foco Minas apresenta realizações audiovisuais criadas e produzidas em território mineiro. Curtas experimentais, ficcionais, documentais e de animação estão contemplados na grade, que desenha um panorama do cinema feito em Minas Gerais e por realizadores do estado.
A imagem impactante da sala de um cinema de rua abandonado abre a primeira sessão com “Ácaros”, de Samuel Marotta, um ensaio em torno da relação entre cinema e ruínas. Ao misturar o registro do documentário com uma narração que se serve dos códigos da ficção científica, “Trabalho É Campo de Guerra”, de Pedro Carcereri, reflete sobre a precarização do trabalho contemporâneo e como isso afeta os corpos de entregadores de aplicativo, vigias e porteiros, domésticas, produtores rurais e ambulantes.
A animação “Dinheiro”, de Arthur B. Senra e Sávio Leite, pensa a origem da circulação das moedas na sociedade. Filmado no início da pandemia, “Corre de Marmita”, de Luiz Pretti& Philippe Urvoy, acompanha as ações comunitárias de um coletivo que prepara e distribui marmitas para pessoas em situação de rua no Centro de Belo Horizonte.
A memória, a ruína e a morte são ideias que atravessam o documentário “O Resto”, de Pedro Gonçalves Ribeiro. O curta tem como ponto de partida o drama de uma senhora declarada morta por engano e que busca recuperar na justiça seus registros oficiais. Na periferia de Belo Horizonte, um homem deseja mudar de vida e recuperar sua visão em “Serrão”, de Marcelo Lin.
A segunda sessão começa com a ficção “Forrando a Vastidão”, de Higor Gomes, que traz como protagonista uma senhora em treinamento e preparação para um momento importante no futuro. Por meio da técnica do teatro de sombras, “Olho Além do Ouvido”, de Bruna Schelb Corrêa e Luís Bocchino, narra a história de uma menina que viaja para uma terra onde todos permanecem de olhos fechados.
Com imagens registradas em celular, “AzulScuro”, de Evandro Caixeta e João Gilberto, é uma ficção de horror sobre uma jovem assombrada pelo fantasma de sua irmã morta. Vovó, de Franco Dafon, encena o reencontro de vários parentes na casa de Dona Albertina, em um final de semana relembrado de forma trágica. A sessão encerra com a ficção “O Dia em que Helena Matou o Presidente”, de Fernanda Estevam. O curta imagina uma mulher que deseja seguir com seu plano de matar o presidente, após um grande desastre.
“Ácaros”, de Samuel Marotta – MG
“AzulScuro”, de Evandro Caixeta e João Gilberto – MG
“Corre de Marmita”, de Luiz Pretti e Philippe Urvoy – MG
“Dinheiro”, de Arthur B.Senra e Sávio Leite – MG
“Forrando a Vastidão”, de Higor Gomes – MG
“O Dia Em Que Helena Matou o Presidente”, de Fernanda Estevam – MG
“O Resto”, de Pedro Gonçalves Ribeiro – MG
“Olho Além do Ouvido.”, de Bruna Shcleb Corrêa e Luis Bocchino – MG
“Serrão”, de Marcelo Lin – MG
“Trabalho é Campo de Guerra”, de Pedro Carcereri – MG
“Vovó”, de Franco Dafon – MG
MOSTRA REGIONAL
Texto dos curadores: Camila Vieira, Felipe André Silva e Tatiana Carvalho Costa.
LUTAS COMUNITÁRIAS E DEMANDAS REGIONAIS
De volta à programação da Mostra de Cinema de Tiradentes, a Mostra Regional apresenta seis curtas-metragens realizados em cidades do interior de Minas Gerais, seja em regiões próximas de Tiradentes ou em municípios mais distantes. As produções abordam temáticas pertinentes às comunidades locais e personagens que exercem influência nos territórios regionais.
Produzido durante um curso de audiovisual para apenados em regime fechado da Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (Apac) de São João del-Rei, “Noites Traiçoeiras” narra a história de um grupo de homens que se encontram à espera de um trem para Águas Negras e acabam se hospedando em um hotel misterioso, que é ocupado por fantasmas. O curta é dirigido por Felipe Quintiliano, Renato Loureiro e Wilmar Guilherme, que também participa do elenco.
De Leopoldina e Cataguases, que fazem parte do polo audiovisual mineiro da Zona da Mata, “O que Eu Gosto de Fazer É Ter Nascido no Mundo” é um documentário sobre Maria da Conceição Rangel, avó da diretora do curta, Monique Rangel. Popularmente conhecida na comunidade como Maria da Paixão, a personagem foi rainha de um terreiro de umbanda que foi desativado, mas que integra a tradição da família de Monique, desde sua bisavó, que deixou de herança imagens de santos e várias histórias para contar.
Produção rodada em Curvelo por meio do campus Diamantina do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais, “Alziras” experimenta sua forma documental com ações performativas e ensaísticas em torno da maternidade, o cuidado e a espera no ambiente doméstico. Em codireção com Helbert Rodrigues, Regiane Farias performa Alzira, que simboliza todas as mulheres que cuidam da casa enquanto os maridos não retornam.
Com recursos da Lei Aldir Blanc de Viçosa, “Taxa de Retorno”, de Matheus Vieira, acompanha a rotina dos moradores da comunidade São Pedro, na zona rural de Teixeiras. Após o início da extração de magnetita em 2019, o povoado esperava melhorias no entorno, no entanto nada foi feito como contrapartida para o vilarejo que sofre com os danos da mineração.
O distrito de São Sebastião do Soberbo, em Santa Cruz do Escalvado, também teve sua paisagem modificada com a construção da hidrelétrica Candonga, que há 21 anos abriga rejeitos de minério da região. O documentário “Santo Rio”, de Lucas de P. Oliveira e Guilherme Nascimento, investiga o modo como a população da região foi afetada pelo empreendimento que polui o encontro do Rio Piranga com o Rio do Carmo.
A Mostra Regional finaliza com “Bulha”, de Daniel Couto, realizado em Juiz de Fora. O ruído da passagem do trem acumula-se aos protestos dos moradores da cidade, que estão insatisfeitos com a passagem interditada sobre a linha férrea no bairro Poço Rico.
“Alziras”, de Helt Rodrigues e Regiane Farias – MG
“Bulha”, de Daniel Couto – MG
“Noites Traiçoeiras”, de Felipe Quintiliano, Renato Loureiro e Wilmar Guilherme
“O Que eu Gosto de Fazer é Ter Nascido no Mundo”, de Mongique Rangel – MG
“Santo Rio”, de Lucas de P.Oliveira e Guilherme Nascimento – MG
“Taxa de Retorno”, de Matheus Vieira – MG
MOSTRA PRAÇA
Texto dos curadores Francis Vogner dos Reis e Lila Foster.
DIVERSA E POPULAR, A MOSTRA PRAÇA REFLETE O BRASIL
A pandemia trouxe grandes desafios para os festivais. Na última edição da Mostra de Tiradentes, realizada toda de forma online, a sessão Praça esteve presente, trazendo filmes mais populares e que dialogavam com um público mais amplo. Esse perfil de programação retorna este ano ao seu formato e energia original, com filmes de apelo para o público, complementado com um bate-papo ao final da sessão.
“A Felicidade das Coisas” (SP), de Thais Fujinaga, acompanha uma família de férias no litoral de São Paulo, um filme que se assenta nas sutilezas. O seu modo de observar a dinâmica de uma família e, principalmente, de uma mãe em plena gestão e seus dois filhos dá a ver o drama individual de cada personagem, ao mesmo tempo que constrói os elos profundos que unem mães e filhos.
“Carro Rei” (PE), de Renata Pinheiro, é também um investimento ficcional voltado para as conexões familiares, aqui pontuado pelo fantástico, por um carro tornado gente. A dimensão cotidiana-futurista de sua estética transforma esse mundo de intenso contato entre humanos e máquinas em um comentário incisivo sobre o nosso atual estado das coisas.
Três documentários complementam a programação. “As Faces do Mao” (SP), de Dellani Lima e Lucas Barbi, faz um apaixonante registro sobre a trajetória e vida de Mao, historiador, professor e vocalista da banda Garotos Podres, banda punk que retratou a vida do trabalhador, marcadamente a dinâmica fabril do ABC Paulista, também um enfrentamento direto à ditadura militar e à repressão de seu tempo.
“Lavra” (MG), de Lucas Bambozzi, une o desejo de documentação da devastação causada pela presença da indústria da mineração em Minas Gerais e o encontro de uma personagem com o seu lugar de origem, transformação e destruição da geografia humana e da natureza de um lugar.

“Lutar, Lutar, Lutar” (MG), de Sergio Borges e Helvécio Marins, conta a história do Clube Atlético Mineiro, o Galo, da sua fundação até a conquista da Taça Libertadores da América, em 2013. É um filme que garante um espetáculo sob medida para a Mostra Praça, pois tem o caráter ecumênico do futebol, o fascínio da camisa, a popularidade do clube e um histórico importante de preocupação com as questões da sociedade para além dos campos.
“A Felicidade das Coisas”, de Thais Fujinaga – MG/SP
Sinopse: Paula, 40 anos, está esperando seu terceiro filho, enquanto passa seu tempo entre uma praia feia e uma recém-adquirida e modesta casa de veraneio no litoral paulista, onde ela pretende construir uma piscina para seus filhos. Quando seus planos se desfazem por conta de problemas financeiros, ela se torna cada vez mais sufocada pelo peso de suas responsabilidades. Deixada sozinha pelo marido e lidando com as constantes demandas de seu filho adolescente, que está conhecendo um novo mundo, Paula precisa confrontar suas próprias expectativas e frustrações, o que nos revela uma associação profunda entre amor e perda.
“As Faces de Mao”, de Dellani Lima e Lucas Barbi – SP
Sinopse: A trajetória e o cotidiano de José Rodrigues Mao Jr., professor de História, sindicalista, vocalista e fundador dos Garotos Podres, uma icônica banda punk brasileira dos anos 80.
“Carro Rei”, de Renata Pinheiro – CE
Sinopse: Uno tem um dom fantástico: ele fala com carros. Quando uma lei proíbe a circulação de carros velhos, Uno e seu tio armam um plano, eles transformam o velho táxi da família em “novo”. Seu amigo de infância agora pode falar, ouvir e até se apaixonar. Ele é o carro Rei, um carro que tem planos para todos.
“Lavra”, de Lucas Bambozzi
Sinopse: Camila, geógrafa, retorna para sua terra natal depois que o rio de sua cidade foi contaminado pelo maior crime ambiental do Brasil, provocado por uma mineradora transnacional. Ela segue o caminho da lama que atingiu o rio, varreu povoados, tirou vidas e deixou um rastro de morte e destruição, e começa a repensar seu estilo de vida. Decide fazer um mapeamento dos impactos da mineração em Minas Gerais e se envolve com ativistas e movimentos de resistência, saindo do individualismo para a coletividade. O filme é um road movie sobre perder um mundo e tentar recuperá-lo, sobre pertencimento e identidade, na guerra em curso entre capitalismo e a natureza.
“Lutar, Lutar, Lutar”, de Sérgio Borges e Helvécio Marins – MG
Sinopse: Documentário que conta a história centenária do Clube Atlético Mineiro, desde sua fundação, em 1908, até o título da Copa do Brasil de 2014, passando pela épica conquista da Libertadores de 2013. Um time que nasce da utopia de unir o branco e o preto, o pobre e o rico, e que resiste ao infortúnio e às injustiças dentro e fora de campo. Um documentário que transcende o futebol, e revela o DNA de uma das torcidas mais fiéis e singulares do futebol mundial.
MOSTRA VALORES
“Chico Curió: Vocês fazem Parte do meu Show”, de Daniel Schwarz e Theo Guarnieri – MG
“Um Talvez em Tiradentes”, Amaury Bassi – MG
MOSTRA JOVEM
Texto dos curadores: Camila Vieira, Felipe André Silva e Tatiana Carvalho Costa.
SOBRE PERDAS, AMORES, DESCOBERTAS E RESISTÊNCIAS
A Mostra Jovem reúne experimentos e narrativas sobre e com adolescentes e jovens adultos que lidam com o cotidiano e inventam possibilidades de (re)existência. Em “Luazul”, dirigido por Letícia Batista e Vitoria Liz, Riva volta da Europa e precisa dar conta de seu passado recente enquanto Flávia lida com sua rotina cheia de responsabilidades. Em Campo Limpo, periferia de São Paulo, futebol, família e amor unem as duas. Realizado pelo coletivo Cidade Baixa, o curta “A Realidade Não Tira Férias” traz a volta às aulas de adolescentes que, em primeira pessoa, relatam seus cotidianos e sonhos atravessados pelos efeitos da pandemia e das desigualdades sociais em Salvador.
O documentário “Ladeira Não É Rampa” é apresentado como “um filme belfor-roxense”. Antônio Ribeiro e Sandro Garcia assinam a direção, mas a criação é coletiva e traz o olhar de jovens que, depois de perderem as pistas de skate públicas –e as salas de cinema –, inventam espaços e um filme possíveis para suas existências. Realizado nas cidades de Santa Cruz do Sul e Cruzeiro do Sul (RS), “Cacicus” cria momentos de leveza para a vida de Laura, que vive com o pai religioso e trabalha na lavanderia da família em uma vida dura e cheia de incertezas. O curta tem direção de Bruno Cabral e Gabriela Dullius. A sessão termina com o “Ano 2020”, do coletivo Olhares (Im)Possíveis, que reúne a energia e inventividade da quebrada, do funk e do “grau” num experimento documental sobre a rotina de adolescentes da periferia de Ouro Preto durante a quarentena.
Curtas
“A Realidade Não Tira Férias”, de Coletivo Cidade Baixa – BA
“Ano 2020”, de Coletivo Olhares (Im)Possíveis – MG
“Cacicus”, de Bruno Cabral e Gabriel Dullius – RS
“Ladeira não é rampa”, de Antônio Ribeiro e Sandro Garcia – RJ
“Luazul”, de Letícia Batista e Vitoria Liz – SP

Texto do Coordenador Curatorial, Francis Vogner dos Reis.
VIAGENS E IMAGINÁRIOS
“Os Dragões” é baseado em conto homônimo do escrito mineiro Murilo Rubião. No filme os dragões são um grupo de cinco adolescentes da cidade de Cotiporã, no interior do Rio Grande do Sul, que estão às voltas com os ensaios de um grupo de teatro da cidade, no qual se sentem hostilizados. Proscritos, começam a desenvolver no corpo a condição de “diferença” dentro de uma comunidade conservadora: ganham capacidades de dragão no fogo que soltam pela boca, um rapaz desenvolve pequenos chifres e uma menina ganha escamas. O conto de Rubião começa com uma frase que pode ser entendida como uma síntese do filme, mas também do Brasil contemporâneo: “Os primeiros dragões que apareceram na cidade muito sofreram com o atraso dos nossos costumes”. O filme tem uma concepção visual ao mesmo tempo hipergráfica e sutil e conta com atores de um grupo de teatro da própria cidade de Cotiporã, onde anos atrás Spolidoro filmou Morro do Céu.
Longas
Os Dragões é uma oportunidade não só das crianças e adolescentes, mas também dos adultos entrarem em contato com as belezas, as diferenças e o imaginários de dois extremos do Brasil. Se fosse só por essas características já valeria uma olhada, mas o filme elabora a partir de suas condições poéticas muito particulares. É aí que a experiência rica que pode oferecer tem a sua força junto ao público.
“Os Dragões”, de Gustavo Spolidoro – RS
Sinopse: Em uma conservadora comunidade, cinco adolescentes são provocados a encenar uma peça baseada em um conto fantástico. O novo desafio e o medo da vida adulta geram transformações assustadoras em seus corpos e personalidade. Diante da repulsa da cidade eles devem escolher se aceitam seu lado Dragão ou se rendem ao tédio e às regras locais.
“São Dragões! Não precisam de nome nem de batismo!” – Murilo Rubião.
Sinopse: Os Dragões é um mergulho no universo fantástico do escritor Murilo Rubião. O elenco é formado por 23 integrantes de um grupo de teatro amador de Cotiporã, cidade de apenas 4500 habitantes, onde nasceu a avó do Diretor e onde foi rodado o longa anterior “Morro do Céu”.
MOSTRA FORMAÇÃO
Texto dos curadores Camila Vieira, Felipe André Silva e Tatiana Carvalho Costa
A NOVA CARA DA PRODUÇÃO UNIVERSITÁRIA
Retrato de um longo período em que o ensino se viu prejudicado pela distância imposta pela pandemia, os oito filmes selecionados para a Mostra Formação exibem coletivamente um tremendo esforço para burlar as limitações espaciais e criativas que se impuseram como desafio no último ano.
A primeira de duas sessões é aberta pelo curta “Idioma”, de Leonardo Gelio. Vindo da PUC-RJ, o filme acompanha, de forma pausada e misteriosa, a jornada de uma mãe solo para ajudar seu filho a se comunicar. Em “A Sentença”, filme realizado pela Faap e dirigido por Laura Coggiola, o universo onírico dos sonhos contamina a realidade e transforma o relacionamento de duas garotas em sua exploração da cidade de São Paulo. “Noêmia e Laura”, realizado na UFJF por Danielle Menezes e Iago de Medeiros, também usa o terreno propositivo dos sonhos para observar atentamente a rotina de duas mulheres dividindo uma casa e se perdendo em suas ilusões. A sessão é concluída com “Cidade Sempre Nova”, de Jefferson Cabral. Vindo da UFRN, o filme é um experimento ousado que utiliza uma colagem de filmes realizados na cidade de Natal para refletir sobre suas histórias, contradições e celebrar uma produção audiovisual pouco reconhecida.
A segunda sessão inicia com “Um Certo Mal-Estar”, experimento visual realizado na UFPE por Tiago Calmon, que propõe uma breve e intensa representação visual da sensação de viver na incerteza midiática dos tempos pandêmicos. Vindo da USP, o curta “Como Respirar Fora d’Água”, de Júlia Fávero e Victoria Negreiros, é uma narrativa potente que observa o choque entre uma jovem preta, vítima de violência policial, e seu pai, um policial militar que se recusa a enxergar a realidade. Já “Interiores”, realizado na UFF por Matheus Bizarrias, observa as contradições sociais a partir da ótica de um menino de nove anos, que trabalha na praia como vendedor ambulante ao lado de sua avó e compreende o mundo a sua volta a partir de interações com clientes que vêm até ele. A Mostra é encerrada com “Não Vim no Mundo para Ser Pedra”, de Fabio Rodrigues Filho, advindo da UFMG. O filme-ensaio propõe uma colagem de imagens e falas do ator Grande Otelo.

Série 1
“A Sentença”, de Laura Coggiola – SP
“Cidade Sempre Nova”, de Jefferson Cabral – RN
“Idioma”, de Leonardo Gelio – RJ
“Noêmia e Laura”, de Danielle Menezes e Iago de Medeiros – MG/RJ
Série 2
“Como Respirar Fora D’água”, de Júlia Fávero e Victoria Negreiros – SP
“Interiores”, de Matheus Bizarrias – RJ
“Não Vim no Mundo Para Ser Pedra”, de Fabio Rodrigues Filho – BA/MG
“Um Certo Mal-Estar”, de Tiago Calmon – PE
MOSTRINHA
Texto dos curadores Camila Vieira, Felipe André Silva e Tatiana Carvalho Costa.
SOBRE PERDAS, AMORES, DESCOBERTAS E RESISTÊNCIAS
Logo no início da Mostrinha, encontramos a alegria de uma criança de quatro anos, Raone, que brinca, canta e fala de seu futuro. Dirigido por Camila Santana, o documentário – que leva seu nome – tem uma doce narrativa em primeira pessoa. Logo na sequência, temos um experimento assinado pela diretora e atriz Inês Peixoto e produzido pelo Grupo Galpão: “A Primeira Perda da minha Vida”. O curta reúne os relatos de uma boneca perdida, numa fabulação inspirada em Franz Kafka que mistura teatro e cinema para, como a própria narradora afirma, “curar nossas dores” para nos fazer “alçar voos como nas asas de um pássaro”.
A animação “Nonna”, dirigida por Maria Augusta V. Nunes, também lida poeticamente com perda, com o crescimento e com a tomada de consciência, numa história que aborda um problema ambiental que nos afeta na contemporaneidade: o excesso de agrotóxicos. Dirigido por Letícia Leão, a ficção “O Fundo dos nossos Corações” reúne crianças curiosas numa aula online que buscam entender como nascem os seres humanos. Entre elas está Joana, que vai descobrir de onde veio em uma conversa cheia de encantamento com suas duas mães. Encerrando a sessão, “Rua Dinorá”, dirigido por Natália Maia e Samuel Brasileiro, traz o percurso de uma menina – a Dinorá – pela história de seu bairro numa descoberta sobre o que e sobre quem é importante para sua vida e para a vida das pessoas ao seu redor.

Curtas
“A Primeira Perda da Minha Vida”, de Inês Peixoto – MG
“Nonna”, de Maria Augusta V. Nunes – SC
“O Fundo dos Nossos Corações”, de Letícia Leão – RJ
“Raone”, de Camila Santana – SP
“Rua Dinorá”, de Natália Maia e Samuel Brasileiro – CE
Longas
“Pequenos Guerreiros”, de Bárbara Cariry – CE
Sinopse: Cosme e Maria, acompanhados do filho Benedito e dos sobrinhos Matheuzinho e Bruna, fazem uma viagem onde vão pagar uma promessa. A viagem é cheia de aventuras e de descobertas. As três crianças vivem um processo de encantamento e afetividade e depois da aventura, Bruna, Mateuzinho e Benedito serão sempre grandes amigos.
“Poropopó”, de Luís Antônio Igreja – RJ
Sinopse: Julieta é uma palhacinha adolescente que vive com sua família peculiar: um grupo circense nômade. A vida da garota muda drasticamente quando seus pais decidem deixar o circo e tentar a sorte em uma cidade próxima. Vestindo sempre seus trajes típicos e usando uma linguagem universal que dispensa palavras, a família enfrenta, com humor e alegria, uma série de dificuldades durante a adaptação a essa nova vida.
“Tromba Trem – O Filme”, de Zé Brandão – RJ
Sinopse: Gajah, um elefante sem memória, é alçado ao status de celebridade do dia para a noite, e acaba se afastando de seus velhos companheiros de viagem no Tromba Trem. O estrelato dura pouco pois ele acaba se tornando o principal suspeito de misteriosos raptos. Desvendar o mistério só será possível com a ajuda dos amigos pré-fama: um grupo de obstinados cupins moradores de uma colônia e Duda, uma empolgada e inocente tamanduá vegetariana.
MOSTRA PANORAMA
“Abonimável”, de Cris Lyra e Larissa Ballarotti – SP
“Alágbedé”, de Safira Moreira – BA
“Angue Recheado de Senzala”, de Stanley Albano – MG
“Bicho Solto”, de Dayse Barreto – SP/CE
“Cabocolino”, de João Marcelo – PE
“Colmeia”, de Maurício Chades – DF
“Coração Sozinho”, de Leon Reis – CE
“Curió”, de Priscila Smiths e P.H. Diaz – CE
“Curupira e a Máquina do Destino”, de Janaina Wagner – SP/AM
“Dois Bois”, de Perseu Azul – MT
“Dois Garotos que se afastaram demais do Sol”, de Cibele Appes e Lucelia Sergio – SP
“JIB”, de Lira Kim – SP
“Labirinto”, de Henrique Zanoni – SP
“Manhã de Domingo”, de Bruno Ribeiro – RJ
“Os Demônios Menores”, de Iuri Minfroy – RS
“Possa Poder”, Victor Di Marco e Márcio Picoli – RS
“Sangue Por Sangue”, de Ian Abé e Rodolpho de Barros – PB
“Sad Faggots + Angry Dykes Club”, de Viq Viç Vic – PE
“Romance”, de Karine Teles – RJ/MG
“Quarentena”, de Adriel Nzier e Nando Sturmer – PR
“Uma Escola no Marajó”, de Camila Kzan – PA
“Transviar”, de Maíra Tristão – ES
“Tito”, Uma Videópera Pop Do Cerrado Mineiro em Chamas, de Fernando Barcellos – MG
“Tereza Joséfa de Jesus”, de Samuel Costa – SP
“Usina-Desejo Contra a Indústria do Medo”, de Clarissa Ribeira, Lorran Dias e Amanda Seraphico – RJ
“Viver Distrai”, de Ayla de Oliveira – PE
MOSTRA 25 ANOS
“A Fuga, A Raiva, A Dança, A Bunda, A Calma, A Vida da Mulher Gorila”, de Marina Meliande e Felipe Bragança – RJ
“A Vizinhança do Tigre”, de Affonso Uchoa – MG
“Aliança”, de Gabriel Martins, João Toleto e Leonardo Amaral – MG
“Aracati”, de Portugal e Julia de Simone – RJ/CE
“Baronesa,” de Juliana Antunes – MG
“Batguano”, de Tavinho Teixeira – PB
“Branco Sai, Preto Fica”, de Adirley Queirós – DF
“Cartola”, de Lírio Ferreira e Hilton Lacerda – RJ
“Conceição – Autor Bom é Autor Morto”, de André Sampaio, Cynthia Sims, Daniel Caetano, Guilherme Sarmiento e Samantha Ribeiro – RJ
“Corpo Presente”, de Marcelo Toledo e Paolo Gregori – SP
“Crítico”, de Kleber Mendonça Filho – PE
“Estrada para Ythaca”, de Guto Parente, Luiz Pretti, Pedro Diógenes e Ricardo Pretti – CE
“Ferrolho”, de Taciano Valério – PE
“Filme de Aborto”, de Lincol Péricles – SP
“História que Nosso Cinema (Não) Contava”, Fernanda Pessoa – SP
“Jovens Infeliz ou um Homem que Grita Não é Um Urso que Dança”, de Thiago B. Mendonça – SP
“O Céu Está Azul Com Nuvens Vermelhas”, de Dellani Lima – MG
“Ressurgentes: Um filme de Ação Direta”, de Dácia Ibiapina – DF
“Os Dias Com Ele”, de Maria Clara Escobar – SP
“O Quadrado de Joana”, de Tiago Mata Machado – MG
“Sábado à Noite”, de Ivo Lopes Araujo – CE
“Sem Raiz”, de Renan Rovida – SP
“Subybaya”, de Leo Pyrata – MG
“Taego Ãwa”, de Henroque Borela e Marcela Borela – GO
“Teobaldo Morto”, Romeu Exilado, de Rodrigo de Oliveira – ES
“Ventos de Valls”, de Pablo Lobato – MG
SERVIÇO
A 25ª Mostra de Tiradentes possui uma programação online gratuita via plataforma da Mostra, com filmes, debates e oficinas oferecidas pela Universo Produção.
A cobertura do Vertentes do Cinema vai acontecer diariamente, com crítica e materiais especiais durante o período da Mostra, entre 21 e 29 de Janeiro de 2022.
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