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Peréio, Eu Te Odeio!

Um turbilhão

Por Vitor Velloso

Festival do Rio 2023; Fest Aruanda 2023; CineOP 2024

Peréio, Eu Te Odeio!

O projeto, que todos aguardavam ansiosamente, acabou perdendo seu personagem recentemente, deixando “Peréio, Eu Te Odeio!” com uma camada melancólica que combina pouco com o documentário. O longa dirigido por Allan Sieber e Tasso Dourado, é uma obra preocupada em traduzir o profundo desgosto de algumas histórias envolvendo protagonista, polêmico, louco, irascível e impossível de definir. 

Dividido de forma capitular, o documentário não faz grande esforço para o espectador gostar de Peréio, admirar talvez seja quase inerente, aliás a carreira do ator é de invejar qualquer um, mas o foco aqui está mais em algumas histórias de bastidores e absurdos cometidos, desde destruir o carro da Cissa Guimarães (história amplamente conhecida) até aborrecer tanto um policial com sua falação que o mesmo desiste de prendê-lo, mesmo que Peréio tenha cheirado cocaína na sua frente. Assim, os noventa e três minutos de projeção, são divertidos e engraçados, realmente descontraídos, inserindo uma história atrás da outra, justificando cada vez mais o porque as pessoas odeiam o Peréio, chegando ao ponto de um dos entrevistados afirmar que nem se pagassem milhões para ele trabalhar com o ator, ele aceitaria.

Essa estrutura de “Peréio, Eu Te Odeio!”  funciona muito bem para dinamizar a experiência e consolidar um clima canastrão, mas não justifica muito duas escolhas de Allan Sieber e Tasso Dourado: a divisão em “capítulos” e a utilização frequente de animações. Os capítulos não significam muita coisa na estrutura do filme, e não acrescentam separações que adicionem algum sentido prático durante a projeção, sendo mais uma forma de transicionar para uma outra história, ainda que o conteúdo delas seja relativamente semelhante ou possua um desfecho quase igual. 

Por outro lado, as animações servem para ilustrar alguma passagem que não possui registro oficial, tendo uma justificativa mais estruturante no projeto, ainda que por vezes a oralidade seja mais que o suficiente para contextualizar o espectador. Esses dois recursos acabam engessando a experiência e deslocando o espectador para algumas interrupções das imagens de arquivo do longa-metragem, que são particularmente bem articuladas com cenas de filmes, entrevistas de Peréio e depoimentos de pessoas que tiveram o desprazer (segundo suas palavras) de conviver com o ator. Contudo, se essas escolhas não parecem funcionar tão bem, o mesmo não pode ser dito quanto às inúmeras risadas provocadas pelos depoimentos, que são o grande ponto alto do filme. Nesse sentido, é impressionante como um longa consegue funcionar em uma monotemática tão profunda e interessante ao mesmo tempo, pois apesar de suas semelhanças, o Peréio consegue surpreender a todo momento, com casos mais absurdos.

Desta forma, a montagem precisa encontrar meios de ligar os registros de maneira eficiente, sem tornar esse fluxo aleatório, mas não encontra muito sucesso nesse sentido, pois apesar de compreensível a decisão de transformar os capítulos nesse ponto de divisão, parece um tanto arbitrário que esse seja o único caminho adotado. Os melhores momentos de transição de “Peréio, Eu Te Odeio!”  normalmente são situações “mortas”, onde o entrevistado se ajeita, acende um cigarro ou parece pensativo. Isso acontece também porque existe um certo excesso de trilha sonora para firmar a obra nesse espírito descompromissado e caótico, que acaba poluindo um pouco a estrutura de um filme que já é abarrotado de excessos, confusões e loucuras que se não fossem narradas por pessoas que estiveram no convívio de Peréio, seriam facilmente rotuladas como mentirosas ou exageradas. 

Essa articulação de uma estética sobrecarregada, acaba prejudicando o filme, tornando-o repetitivo e cansativo em determinado momento, mas particularmente eficiente em justificar um título tão agressivo quanto autoexplicativo, que poderia ser a sinopse oficial. 

“Peréio, Eu Te Odeio!” é uma obra que não está preocupada em traçar a carreira do ator de forma didática, seu talento indiscutível, as grandes obras em que trabalhou, mas sim na construção de uma imagem caótica e turbulenta que Peréio possui. Esse turbilhão exposto intencionalmente no filme de maneira sobrecarregada contrasta com seu fim, que possui uma melancolia inevitável, sua ida para o retiro dos artistas, a pandemia da Covid-19, o recente falecimento do ator e por vermos que parte da energia de sua juventude se perdeu. Mas apesar de ser eterno, Peréio continua sendo odiado por muita gente, temos poucas dúvidas de que uma parte dele está feliz por isso.    

3 Nota do Crítico 5 1

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