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Cidade Sob Ameaça

A moral branca do gênero

Por Vitor Velloso

Cinema Virtual

Cidade Sob Ameaça

Candidato forte aos piores do ano, “Cidade Sob Ameaça” chega no streaming brasileiro para nos lembrar que o nacionalismo conservador norte-americano é tacanho, medíocre, brega e racista.

Dirigido por York Alec Shackleton, autor do tenebroso “211”, o filme é uma tentativa de modulação do western clássico, com pitadas de Rob Zombie e filme dos piores graduandos da pior universidade. 

Assistir na íntegra é um exercício de mutilação completa, que não vale os noventa minutos que nos toma. Desde o primeiro plano o espectador se pergunta se está assistindo à uma paródia. Uma perseguição acontece, pessoas atravessam o quadro, o som dos passos são assombrosamente mal finalizados, uma cena de refém, caras e bocas, um tiro, dois, três, uma reação cômica de Guy Pearce ao disparar cada bala, corta, um corpo com sangue à la Ketchup. Já nesses primeiros 70 segundos, é possível entender como tudo vai caminhar. 

Está claro que a trama é absolutamente preguiçosa em desenvolver algo além da cafonice ultrapassada, arcaica e reacionária do western, aqui levado à uma pequena cidade contemporânea, mas se a estrutura fosse utilizada de maneira minimamente consciente da decadência inerente ao material, poderia haver algum grau de crítica ao gênero. Porém “Cidade Sob Ameaça” incorpora tudo aquilo que é mais caro à este processo imperialista e eleva. Os policiais são os únicos homens em forma, fisicamente, da cidade, todas as mulheres desejadas são loiras e repletas de plástica, a primeira vítima feminina do filme é uma mulher com sobrepeso, o político tem uma voz mais aguda etc. Ah, tem até vilão cuspindo café no chão. 

Cenas de luta sem algum sentido, como a moça da cafeteria que entra em uma briga com um dos bandidos, quase como um duelo dos filmes imperialistas. É tudo tão artificial, pois quer ser enquadrado no gênero e em seus arquétipos, que a viabilidade do projeto é impossibilitada. 

A moral branca norte-americana aparece aqui inabalada, o dever está acima de tudo. O policial branco, interpretado pelo Guy Pearce encarna o clássico herói estadunidense, com resquícios de embriaguez constante. Outro policial, da rede privada, faz uma piada racista sobre “tacos”, o latino denuncia o racismo, mas volta atrás que de fato utilizaria alguns milhões para comer tacos. E o comentário acima seccionando a rede privada do “dever público” é a covardia do longa em não assumir essas questões racistas para a moral norte-americana pública, logo, ele transporta isso para um cidadão comum. 

Além disso, os vilões com nomes caricaturais: Pyro, Diablo etc. apenas reforçam o tom vagabundo do filme. É claro que pode se argumentar que o adjetivo utilizado pode soar ofensivo, pejorativo…e é. Não há nada para se salvar em “Cidade Sob Ameaça”, que apenas comprova que a carreira de Guy Pearce está em uma derrocada, aparentemente, irreversível. 

O cinema estadunidense não consegue mais conceber novas estruturas, não sabem de quem roubar, mas se recusam a apreciação de outras nacionalidades. A “Era Trump” não é a maior decadência moral, econômica, política e cultural dos EUA, ela apenas expôs tudo aquilo que construiu a História desse país do capital central, virtual e assassino. E além do óbvio, a indústria de cinema norte-americana dá continuidade à esse conservadorismo reacionário latente da cultura dos mesmos. 

Agora vamos aguardar as críticas dos reacionários estéticos de plantão no cenário da crítica brasileira, para que alguma argumentação a favor da gangrena fílmica seja feita, afinal são os mesmos que venho denunciando há tempos aqui no site. Um deles inclusive já veio me atacar pessoalmente aqui, assim sendo, desafio o moço a fazer o mesmo, já que o respondi em crítica, mas não houve resposta. 

Segue o baile para a importação da moral estrangeira, com exibição direta no cenário brasileiro, a colonização segue a todo vapor. Se revolução cultural não for a frente desses que possuem o ofício de digitar comentários sobre atrocidades como essa, estamos realmente no fundo do poço. Aos que discordam: Negacionismo é perigo de canetada com gravatas e bancadas ideológicas, cuidado. 

“Cidade Sob Ameaça” é um forte candidato à lista mais tenebrosa do ano, parte na frente nesses lançamentos pós reabertura dos cinemas. Logo mais teremos o outro reacionário, adorado, que irá lançar a inversão do tempo. Veremos.

1 Nota do Crítico 5 1

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