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Nebraska

A Existência em preto-e-branco

Por Fabricio Duque

Durante o Festival de Cannes 2013

Nebraska

“Nebraska”, de Alexander Payne, foi exibido no Festival de Cannes 2013. Em um primeiro momento, o espectador é conduzido à espera do sentimento. Porque conjuga a fotografia preto-e-branco com os primeiros diálogos clichês e tipicamente americanos. Mas tudo muda quando o filme se desenvolve. Começamos a perceber que a história é na verdade sobre a sobrevivência na velhice (com o passado mal resolvido – arrependimentos e ou amores escondidos), esta que precisa conviver com a pressa, o “olho grande” dos ditos “amigos” e ou família, e as inúmeras atribuições dos filhos jovens. É um filme sobre um homem idoso “que acredita em tudo que contam a ele”. A metáfora busca resgatar a simplicidade das pequenas ações e princípios. Como toda estrutura fílmica americana, há diálogos de gatilhos comuns que buscam a cumplicidade de quem assiste, principalmente do próprio público americano. Mesmo assim, o espectador não consegue ficar imune a lágrimas do final, dotado de sutileza de uma vingança “branca” e perfeitamente saudável. “Um Relato da nova grande depressão. Todo filme carrega a marca do seu tempo. A nossa é a melancolia”, disse o diretor Alexander Payne.

Complementado por Francisco Carbone, “Nebraska” é sobre o tempo e as pessoas. E incrível como tudo passa, o tempo passa, e quando menos esperamos, deixamos de ser filhos, viramos pais, viramos velhos, viramos descartáveis. O tempo e suas contradições, nos entrega sapiência mas nos tira disposição; nos tira muita coisa, e só resta torcer pra que tudo vá embora sem que notemos. O tempo passou pra Woody Grant. Sua esposa Kate não sabe mais o que fazer e seus filhos não conseguiram criar laços com o pai. A idade de Woody lhe fez um homem difícil e calado, a família Grant parece fadada ao silencio. De repente Woody anuncia um prêmio de 1 milhão de dólares ganho, e seu filho mais jovem resolve levar o pai pra receber tal prêmio, que ninguém acredita existir. No caminho, a família Grant será revistada, e a relação entre pai e filho sacudida. Não é a primeira vez que Alexander Payne fala sobe a velhice, os desvalidos, nem investe num road movie; sua carreira praticamente se alicerçou sobre esses temas. O requinte cênico aqui acaba casando com um roteiro excepcional e um elenco que dá o sangue e os ossos em cena, com Bruce Dern reacendendo uma chama que há muito não crepitava, enquanto June Squibb é simplesmente espetacular. Observar a viagem de Woody e família é uma prova de fogo pra quem facilmente interioriza o cinema, e Payne sabe como jogar pra plateia sempre. Com talento recobrado (depois do descartável ‘Os descendentes’), o diretor faz das memórias de um homem o momento-limite onde ligamos uma chave interna pra analisarmos nossas próprias atitudes. Que seja também grande realização é um presente de todos os envolvidos para o público.

3 Nota do Crítico 5 1

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