10 filmes brasileiros de luta contra a homofobia

Meu nome e jacque

10 filmes brasileiros de luta contra a homofobia

Uma lista obrigatória para o Dia Internacional contra a Homofobia e a Transfobia

Por Fabricio Duque

17 de maio de 1990, data que a a Organização Mundial da Saúde (OMS) retirou a homossexualidade da Classificação Internacional de Doenças. Desde então, o dia se tornou um marco-símbolo de luta por direitos humanos e pela diversidade sexual, contra a violência e o preconceito. Nós do Vertentes do Cinema repudiamos qualquer expressão e/ou ação, ainda que pensada, de Homofobia e Transfobia. Os dados são assustadores. O Brasil é o país de maior número de mortes a travestis e transexuais no mundo. Isso precisa mudar. Urgente. Como? Fazendo com que cada um apenas repare a própria vida e pare de se importar com a alheia.

“A patologização de adultos e crianças LGBT – marcando-os como doentes com base em sua orientação sexual, identidade ou expressão de gênero – tem sido, historicamente, uma das raízes por trás das violações de direitos humanos que eles sofrem”, trecho do relatório “Pathologization – Being lesbian, gay, bisexual and/or trans is not an illness” For International Day against Homophobia, Transphobia and Biphobia”, assinado em Genebra no dia 17 de maio de 2016.

Nós assim listamos DEZ obras LGBTQIA+ essenciais e obrigatórias para a luta contra a Homofobia e a Transfobia e/ou qualquer outra forma-tipo de preconceito-violência, passado por pessoas binárias, lésbicas, gays, bissexuais e transgênero (LGBT) e de gênero variantes ou atípicas. Atualmente, a data é assinalada em mais de 130 países. Há ainda um BONUS: o curta-metragem “Bicha-Bpmba” para assistir aqui mesmo no site. Vamos à luta!

10 filmes brasileiros de luta contra a homofobia

Meu corpo e politico

MEU CORPO É POLÍTICO (2017, Brasil, 72 minutos, de Alice Riff, assista no Looke, Crítica AQUI)

Vivenciado o dia a dia ao lado de diversos ativistas LGBT moradores das periferias de São Paulo, o documentário faz um panorama do contexto social em que os personagens estão inseridos e de que forma sua atuação age nas ruas. Além disso, levanta questões sobre a população trans no Brasil e suas disputas políticas. “Meu Corpo é Político” materializa as palavras. Busca-se dar um sentido. “Antes era senzala, agora, favela”, diz-se e tom de “teatro político” e de “transmutação” de uma mulher ao homem. “Se a classe não se adapta a gente, como nós nos adaptaremos ao mundo?”. A câmera direta integra essas personagens na multidão, que olha, observa e percebe.

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Bixa Travesty

BIXA TRAVESTY (2018, Brasil, 75 minutos, de Claudia Priscilla e Kiko Goifman, assista no Looke, Crítica AQUI)

Exibido no Festival de Cinema de Berlim 2018, chegando agora no de Brasília, “Bixa Travesty” é discurso articulado, humanizado, físico, orgânico, poético e direto, pela construção da performance. Ainda que seja um filme autossuficiente pela carga enérgica e rasgada do que é dito, a misè-en-scene ajuda a potencializar a experiência sensorial que sentimos ao adentrar neste universo artístico, empoderado, plural e não binário. “Bixa Travesty” é uma luta constante de normalizar a visão limitada dos outros, como a da própria mãe que ainda a chama de ele. Linn explica que ela é uma bicha por estar satisfeita com o corpo e travesti por montar o imaginário feminino.

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Abrindo o armario

ABRINDO O ARMÁRIO (2018, Brasil, 87 minutos, de Dario Menezes e Luís Abramo, assista no Looke, Crítica AQUI)

“Abrindo o Armário” acontece pela liberdade narrativa e cria também sutilezas metafóricas, como a câmera que se posiciona entre a entrevistada e duas entradas de dois banheiros (eles e elas). O filme é uma colagem fragmentada de temas abordados. Invoca Dzi Croquetes e a irreverência transgressora; a figura do gay palhaço “bobo da corte”, o youtuber que se assume aos fãs, travas feministas, ex-padre, a clandestinidade e a Aids que “brochou o mundo”. “Ninguém mais se olhava. Havia o medo”, diz. É um longa-metragem de episódios. De histórias intercaladas. Que vez ou outra podem se encontrar. No mesmo meio. Ou no mesmo espaço geográfico que é a selva solitária de pedra da cidade de São Paulo. O que sentimos é um grito, que antes enjaulado, sai para o documentário que chegará “todas as bichas do Brasil”.

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Meu nome e jacque

MEU NOME É JACQUE (2016, Brasil, 72 minutos, de Ângela Zoe, assista no Now, Crítica AQUI)

“Meu Nome é Jacque” é um sensível documento-retrato sobre a essência “feminilidade” de sua personagem principal não ficcional. É um estudo analítico de micro-ações cotidianas, de viés psicológico-coloquial, que registra a importância existencial de uma vida que “nasceu em um corpo estranho”. O documentário-obra, que equilibra a emoção natural e nunca manipulando o sentimentalismo, e que é dirigido por Ângela Zoe (“a Gisele Bündchen” do cinema – da Documenta Filmes, produtora de “Betinho – A Esperança Equilibrista“), comporta-se como uma “peça” intimista, caseira, espontânea, linear, de arquitetura clássica (devido à narrativa de livres depoimentos) e altamente necessária-obrigatória nos dias de hoje (“ajudar a vencer o preconceito e o imaginário popular do tempo da avó – como o “medo” iminente de se deixar o chinelo virado, a mãe morre”).

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Tatuagem

TATUAGEM (2013, Brasil, 110 minutos, de Hilton Lacerda, Loja Imovision, Crítica AQUI)

Brasil, 1978. A ditadura militar, ainda atuante, mostra sinais de esgotamento. Em um teatro/cabaré, localizado na periferia entre duas cidades do Nordeste do Brasil, um grupo de artistas provoca o poder e a moral estabelecida com seus espetáculos e interferências públicas. Liderado por Clécio Wanderley, a trupe conhecida como Chão de Estrelas, juntamente com intelectuais e artistas, além de seu tradicional público de homossexuais, ensaiam resistência política a partir do deboche e da anarquia. A vida de Clécio muda ao conhecer Fininha, apelido do soldado Arlindo Araújo, 18 anos: um garoto do interior que presta serviço militar na capital. É esse encontro que estabelece a transformação de nosso filme para os dois universos. A aproximação cria uma marca que nos lança no futuro, como tatuagem: signo que carregamos junto com nossa história.

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Waiting for B

WAITING FOR B. (2015, Brasil, 71 minutos, de Paulo Cesar Toledo e Abigail Spindel, assista no Looke, Crítica AQUI)

“Waiting For B.”, documentário nacional dos diretores Paulo Cesar Toledo e Abigail Spindel, que integrou a mostra competitiva do Festival do Rio 2017, pode ser traduzido como um estudo de caso de antropologia comportamental-cultural tendo como pano de fundo os fãs de Beyoncé, do antigo grupo Destiny’s Child, que acompanharam semanas (dividindo a “barraca com as bichas”) na porta do estádio Morumbi, em São Paulo, em 2013, para que fossem os primeiros a entrar no show e ficar “colado” à grade. Aqui, busca-se responder o que representa a cantora americana (e sua música que é venerada como a “celebração da música pop”) a esta geração, que chega a gastar setecentos reais por um ingresso e dormir dois meses antes. A narrativa de “Waiting For B.” apresenta-se como um videoclipe pela montagem em cortes rápidos, acompanhando a vida pessoal do dia-a-dia destas personagens reais.

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Amor Maldito

AMOR MALDITO (1984, Brasil, 76 minutos, de Adélia Sampaio, assista no link trailer abaixo dentro do arquivo Crítica AQUI)

Fernanda (Monique Lafond) é levada a júri popular sob a acusação de assassinato de sua companheira, Sueli (Wilma Dias). A partir do procedimento de instrução processual perante o Tribunal, a acusada revisita sua relação com a falecida, enquanto são colhidos depoimentos de pessoas próximas das duas. Ao isolar o roteiro como elemento de “Amor Maldito”, podemos observar que a pornochanchada como gênero cumpre o único objetivo de tornar a obra mais comercial, satisfazendo quem gosta de dividir em gavetas de gêneros e temas manifestações artísticas tão inquietas e provocadoras que não é possível nem a ela se autodefinir. Na análise mais bruta, o filme se enquadra mais em um “filme de tribunal”. Sob essa ótica, o roteiro José Louzeiro, a partir de argumento da própria  Adélia Sampaio, é brilhante.

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Antes o tempo nao acabava

ANTES O TEMPO NÃO ACABAVA (2016, Brasil, 85 minutos, de Fábio Baldo e Sérgio Andrade, assista no Looke, Crítica AQUI)

Com a frase “Não é um filme etnográfico, tampouco caricato”, o filme “Antes o Tempo Não Acabava”, dos diretores Fábio Baldo e Sérgio Andrade, é apresentado na mostra Panorama do Festival de Berlim 2016. Sim, é verdade. Apesar de estimular o debate da questão indígena (já que há quatro línguas presentes e “terá legendas no Brasil”) e a presença da homossexualidade – esta por sua vez desencadeando rituais hipócritas de salvação e purificação pelos personagens da trama (formigas que mordem as mãos e tem que “aguentar a dor”). A narrativa constrói a atmosfera de tempo pausado-editado (de câmera próxima com estrutura documental), em micro-ações de elipses continuadas (como fazer o chá, o artesanato), e a estética da imagem (como o reflexo do vidro e a ambiência de se passar pela comunidade, assim retratando o lugar vivenciado por costumes diários e cotidiano naturalista).

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Intolerancia doc

INTOLERÂNCIA.DOC (2016, Brasil, 85 minutos, de Susanna Lira, assista no Now, Crítica AQUI)

O tema de seres humanos que praticam a violência pelo viés gratuito, já abordado no romance distópico “Laranja Mecânica”, de Anthony Burgess, que ganhou versão cinematográfica nas mãos de Stanley Kubrick, e no universo de Michael Haneke em “Violência Gratuita”, volta a ser acordado em “Intolerância.doc”, o mais recente filme da diretora documentarista Susanna Lira (de “Positivas”, “Damas do Samba”), que se desenvolve por estudos de casos trágicos acontecidos na cidade de São Paulo em três vertentes intolerantes: torcedores rivais de jogos de futebol, homossexuais e punks versus skinheads. Busca-se responder a pergunta: “O que motiva os crimes de ódio e a intolerância dentro da sociedade brasileira?”.  A segunda parte é sobre o universo LGBT. Nós conhecemos o caso de Renata, uma transexual que foi espancada (porque “é assim e estava lá”) quase até a morte e que agora luta por seus direitos de ser e de transitar livremente. “Meu corpo é militante”, diz.

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Indianara

INDIANARA (2019, Brasil, 84 minutos, de Aude Chevalier-Beaumel e Marcelo Barbosa, estreia adiada, Crítica AQUI)

Revolucionária por natureza, Indianara Siqueira lidera um grupo de mulheres transgênero que lutam pela própria sobrevivência em um lugar tomado por preconceito, intolerância e polarização. Desde disputas partidárias até o puro combate contra o governo opressor, a ativista de origens humildes passou por uma longa trajetória até se tornar ícone do movimento. Uma das principais funções das obras de arte é registrar os momentos históricos, políticos e sócio-econômicos em que estão inseridas; ao se produzir algo, é possível observar questões que vão muito além dos objetivos do artista naquele momento, que revelam ideais e opiniões recorrentes na sociedade próprias daquele contexto.  Dias aleatórios e significativos, trazendo ao documentário um bom ritmo semelhante ao da vida em si. Há algo de poético e barroco nesta construção, de algo positivo, artístico e sublime que se faz e se cria de momentos de tristeza ou de luta por uma situação melhor.

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BONUS ASSISTA AQUI

BICHA-BOMBA (2019, Brasil, 8 minutos, de Renan de Cillo, assista acima, Crítica AQUI)

Bicha-Bomba” nos coloca, a partir de imagens de vídeos caseiros dos anos 1990, no absurdo caso de assassinato de um filho de oito anos por entender que ele estava se comportando fora do padrão imposto. Uma narrativa que não investe na perturbação, optando por certa melancolia, como se pudéssemos na morte conseguir ouvir o que o injustiçado teria a dizer. É um grito de socorro, para que parem de matar. Se um quadro tão extremo e injustificável não for capaz de tirar o espectador da ausência de opinião ao longo seus oito minutos, nada mais relacionado ao assunto obterá esse êxito.

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