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Tudo Sobre o MUBI Pelos Olhos do Vertentes (Parte 1)

Tudo Sobre o MUBI Pelos Olhos do Vertentes (Parte 1)

Conheça mais a história da plataforma, os filmes e os impactos cinéfilos em nossas memórias afetivas

Por Clarissa Kuschnir

Nós, vertenteiros e vertenteiras, sem dúvidas, somos cinéfilos de carteirinha. E esta jornalista que vos fala, com meus poucos mais de 20 anos de profissão, tem experimentado durante minha trajetória formas diferentes de assistir aos filmes além das telonas do cinemas, que para mim serão sempre insubstituíveis (obviamente – e igualzinho – como muitos que estão lendo essa matéria). Quando comecei na profissão, bem no comecinho dos anos 2000, lembro muito bem da transição do VHS para o DVD, mídia esta que muitas (muitas mesmo!) locadoras espalhadas pelo Brasil tiveram seus dias de glória. E como várias cidades não tinham salas de cinema (é, pois é, isso não mudou quase nada nos dias de hoje), a única forma de se assistir a um filme ou era pela TV aberta ou alugando um filme na locadora. Sem contar que se formaram muitos colecionadores (eu sou uma delas!) nesses áureos tempos da mídia física. Os anos se passaram, a tecnologia foi mudando, passamos por uma pandemia que durou mais de dois anos, e chegamos ao agora dessa nova geração, que não precisa nem sair de casa para assistir a um filme. 

E ainda recebemos um tempo mais acelerado e urgente. Por exemplo, a transição para as plataformas de streaming está tão rápida, que mesmo os filmes que conseguem passar pelos cinemas, nos faz pensar milhões de vezes antes de sair de casa. Na nossa cabeça: “Não custa nada esperar duas semanas”. “Sem contar o “caos” que é ir ao cinema, começando pelos ingressos que estão muito mais caros. Todo mundo que tem um mínimo de amor pelos filmes sofre com barulho de pipoca, luz dos celular, conversas atravessadas, salas frias demais, salas quentes demais, pessoas mais altas que você que se sentam na sua frente… Sim, é uma aventura de paciência”, disse nosso editor geral Fabricio Duque. E claro, lógico, que pagar uma plataforma para poder escolher um filme a qualquer hora é um luxo cinéfilo. “E de proteção a nosso psicológico”, complementa Fabricio.

Nós temos várias plataformas gratuitas como a do Sesc Digital, Itaú Cultural Play, Spcine Play e o próprio Youtube (em muitos filmes). Eu preciso confessar que me adaptei bem ao conforto que as plataformas proporcionam. E o alcance dos filmes é muito maior. Porém, sim, eu ainda sou da velha geração, que adora ir ao cinema e acho que eles nunca acabarão. Prefiro pensar assim, mesmo que seja utopia da minha parte. Só que o mundo de hoje é de escolhas diárias, e assim quando tenho que optar por uma plataforma, vou sempre pelo cinema que mais se conecta comigo. E coincidentemente desde que comecei a escrever aqui no Vertentes, nosso acervo de críticas é quase 80% de filmes do MUBI, plataforma a qual, hoje, considero a melhor, em curadoria no Brasil. Ter um lugar em que grandes filmes clássicos de diversas partes do mundo (e que não estão em nenhum outro lugar!) estão ao nosso alcance é tudo de bom. 

Los delincuentes

Dito isso, nós começamos uma parceria com a MUBI, para que possamos levar (com críticas, matérias de lançamentos e especiais) um pouquinho desse universo para vocês, da que considero a elite das plataformas dos cinéfilos intelectuais. E a lista é grandinha do que já temos de críticas no Vertentes, a começar pelo lançamento argentino “Os Delinquentes(que nosso editor geral considera seu melhor filme do ano). Dirigido por Rodrigo Moreno, o longa foi exibido na mostra Un Certain Regard do Festival de Cannes, neste ano de 2023. Outro destaque da plataforma é o drama francês Passagens, de Ira Sachs, que tem como uma das protagonistas a talentosa Adèle Exarchopoulos, que ainda se destaca no divertido “Bem Vindos a Bordo”, de Emmanuel Marre e Julie Lecoustre, em que atua como uma aeromoça, de uma companhia aérea de baixo custo; também está no drama “Cinco Diabos, de Léa Mysius e “Faces de uma Mulher”, de Arnaud des Pallières, todos eles no MUBI.

E temos um filme nacional para indicar. O impactante e relevante documentário nacional “Incompatível Com a Vida, de Eliza Capai, também é destaque na plataforma. O longa inclusive levou o prêmio de Melhor Filme no É Tudo Verdade deste ano (leia aqui minha matéria sobre o festival!). E o que eu adorei e gostaria de compartilhar com vocês aqui foi a minha retrospectiva MUBI de 2023, que eu indico de olhos bem fechados. Começo com “Vidas Sem Rumo”, de Francis Ford Coppola. Esse é um dos meus queridinhos, que, quando saiu na plataforma, fui correndo assistir. Esse é um dos meus filmes prediletos da adolescência e com um elenco estelar na época (Matt Dillon, C. Thomas Howell, Ralph Macchio, Rob Lowe, Patrick Swayze, Emilio Estevez, Diane Lane e até Tom Cruise (bem diferente do quem conhecemos hoje!), além da linda e inesquecível canção “Stay Gold”, cantada por Stevie Wonder. 

incompativel com a vida

Falando em trilhas e músicas, “Os Guarda Chuvas do Amor”, de Jacques Demy, é uma pérola de filme, cem por cento cantado e protagonizado pelo belo casal Catherine Deneuve e Nino Castelnuovo. Já podemos pular para outra pérola? Vamos então de experimental do cinema soviético chamado “A Cor da Romã. Dirigido por Sergei Parajanov, o filme é uma obra-prima de imagens, cores e simbolismos. Outro da Armênia para a Alemanha é o sombrio (como bem definiu a plataforma) “Eu, Christiane F. – 13 Anos Drogada e Prostituída”, de Uli Edel. Confesso aqui que nunca havia assistido todo, e dessa vez foi impactante. Mas óbvio que recomendo. Lógico. E mais um pulo. Do conhecido drama alemão para a romântica história musical de “Dirty Dancing” de grande sucesso. Quem foi adolescente no final dos anos 80 sabe do que estou falando. Gostem ou não, virou um Cult, com direito a Oscar para a canção “(I’ve Had) The Time of my Life”. E olha que eu já fui até xingada por pseudo-intelectuais ao escrever e defender esse filme, num site em que mantinha uma coluna sobre cinema, no começo dos anos 2000. Sim, são ossos do ofício. E vamos ser sinceros, afinal de contas, o cinema é subjetivo.

É por isto que gosto do MUBI: toda essa curadoria tão rica e diversificada. Ah, e ainda tem mais filme que virou cult, que eu revi e indico, por exemplo, “Showgirls”, de Paul Verhoeven, e o polêmico “Império dos Sentidos” de Nagisa Oshima (mas este infelizmente não está mais disponível na plataforma para exibição – mas não poderíamos  deixar de citá-lo. Do cinema nacional tem o ótimo “Arábia, de Affonso Uchoa e João Dumans.

Aftersun

E dos mais atuais europeus, na minha retrospectiva, tem o lindo, poético e sensível “Aftersun(que é o segundo melhor filme do ano para nosso editor geral), dirigido pela escocesa Charlote Wells. Mas o que realmente me fez desidratar em lágrimas foi Close“, de Lukas Dhont. Para completar a lista tem o polêmico Gaspar Noé com “Climax; Carla Simón com “Alcarràs”; Ninja Tyberg com “Sombrio”, e Zaida Carmona com o romance LGBTQ+ “GirlFriends and Girlfriends” (La Amiga De Mi Amiga). Por enquanto é isso. Sim, assunto não falta e na próxima matéria parte dois falarei sobre os curtas que estão nesta plataforma.

O COMEÇO DO MUBI

O MUBI foi fundado em 2007 pelo turco Efe Çakarel como uma rede social para cinéfilos, inicialmente chamado The Auteurs (Os Autores). Em maio de 2010, já sob o nome MUBI, a empresa anunciou que sua assinatura estaria disponível na Europa via PlayStation 3, com a aplicação na loja PSN disponível a partir de novembro. Em 2011, um canal do MUBI estava disponível na linha Bravia da Sony. A partir de 2012, o MUBI iniciou um modelo de vídeo sob demanda organizado por curadores para determinados clientes. No lugar de uma grande cinemateca disponível à la carte, o MUBI apresentou um conjunto de 30 filmes que permaneciam disponíveis por 30 dias. A cada dia um novo filme está disponível, com a saída de outro filme. A partir de fevereiro de 2014, esse serviço se tornou disponível para todos os clientes. Agora, já não com a dinâmica de apresentar apenas 30 filmes,  a MUBI produz e distribui nos cinemas filmes de cineastas emergentes e consagrados, que estão disponíveis exclusivamente em sua plataforma. Além disso, ainda publica a Notebook (por um preço de 220 reais por ano – com duas edições), revista de crítica de cinema e notícias.

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