Mostra Um Curta Por Dia - Repescagem 2025 - Dezembro

Os 20 Filmes Destaques de 2025 pelo Vertentes do Cinema

Papagaios

Os 20 Filmes Destaques de 2025 pelo Vertentes do Cinema

Nosso critério foi escolher filmes que receberam nota máxima (5 de 5), em ordem de estreias nos cinemas, divididos em 10 obras brasileiras e 10 obras internacionais

Por Redação

Ah, o povo! A voz de Deus! O responsável por criar demandas de listas de melhores filmes do ano. Mas o que o povo realmente quer? Steve Jobs dizia que as pessoas só sabiam o que queriam quando alguém apresentava a elas. Durante anos, o Vertentes do Cinema não colocou nota e/ou cotação nas obras por achar (e argumentar com pontos muito bem explicados, como o estímulo à competição – cada um precisa ser superior ao outro em qualidade) que essas seleções eram tóxicas e até mesmo auto-destruidoras do próprio cinema. Mais eis que no Festival de Cinema de Gramado deste ano, Gero Camilo que venceu “Melhor” Ator por “Papagaios”, de Douglas Soares, que este site o escolhe como o Filme do Ano de 2025 (mas que não entrou na lista por não ter estreado oficialmente nos cinemas) disse em seu discurso no palco que a melhor definição seja mesmo chamar de “Destaque”. Sim, é exatamente isso. Dessa forma, baseado em tudo dito anteriormente, o critério do Vertentes do Cinema foi: filmes que receberam nota máxima (5 de 5), em ordem de estreias nos cinemas, de nossos vertenteiros e vertenteiras de plantão (Fabricio Duque, Clarissa Kuschnir, João Lanari Bo, Vitor Velloso e Ciro Araújo), que “ralaram” muito neste ano. Então, sem mais delongas, vamos aos Destaques de 2025 pelo Vertentes do Cinema. Vocês concordam?

Melhores Destaques 2025 Vertentes

PARQUE DE DIVERSÕES

Ricardo Alves Jr. é um cineasta que “nada contra a maré” ao transgredir a forma da criação artística. Diferente dos filmes do gênero erótico que buscam um “acolhimento” mais comercial a fim de “facilitar” seus lançamentos nos cinemas, como por exemplo “Motel Destino”, de Karim Aïnouz, e/ou “Baby”, de Marcelo Caetano, o realizador brasileiro, em questão aqui, quer manter sua autoralidade intacta, totalmente livre e sem amarras da indústria, afinando-se a obras mais orgânicas de Daniel Nolasco, Gustavo Vinagre, Albert Serra e de João Pedro Rodrigues (e seu “O Fantasma”). Podemos dizer que os filmes do realizador brasileiro, em questão, participam de um genuíno meio queer bem mais raiz, bem mais sensorial aos instintos e muito mais tesudo que os citados anteriormente, isso tudo porque aqui não se encena o desejo e sim os explicita sem pudor algum, como forma e alimento vital a própria construção da personalidade. “Parque de Diversões” é na verdade uma experiência imersiva. Um estudo de caso. Um portal a um mundo paralelo, com um que utópico de “Alice no País das Maravilhas”. Uma fenda no tempo e no espaço, que os suspende e capta o espectro do exato instante vivido. Um universo alternativo dotado de sims e de transcendências sexuais, ora pelo gozo, ora pelo ato em si do sexo explícito, ora pelo toque sugestivo, ora pelo olhar individual, ora coletivo e/ou com todo ora junto e misturado. O longa-metragem é uma viagem de sentidos. Uma sinestesia orquestrada pela irracionalidade de um mente que direciona seu “possuído” a uma única vontade. “Parque de Diversões”, que ensaia uma explicação mais poética e tradutora no início, entre “cacos, novos segredos, jogos estraçalhados, vertigens, brinquedos quebrados”, “esgotando os níveis do ser”, nos conduz pelo tom sensorial. De traduzir na narrativa os efeitos consequentes da observação de espera pré-ação (mapeando os “objetos” que causam mais frisson e arrepios no corpo): a agitação, ansiedade, expectativa e surpresa, num road movie à pé pelas ruas noturnas e soturnas da cidade, em busca unicamente de “atender” o próprio desejo que desespera o peito até conseguir o que se quer. E realmente não está nem aí para uma discussão de gênero “todes”, mas incluir sim toda forma corporal “limitada”, pela cegueira, por exemplo, de receber por “acessibilidade” o prazer narrado. Leia a Crítica completa: https://vertentesdocinema.com/parque-de-diversoes/

HOMEM COM H

Como é bom ver uma obra de ficção abordando a vida de um artista sem precisar reinventar ou omitir algumas passagens polêmicas e ainda assim fazer valer cada minuto do que sê vê na tela. E em “Homem com H”, cinebiografia de Ney Matogrosso, o diretor Esmir Filho (de “Os Famosos e os Duendes da Morte“) teve total liberdade para poder contar a história do artista, da forma mais verdadeira possível. E isto, foi dito da boca do próprio Ney, que afirmou, na coletiva de imprensa em São Paulo, que tudo o que estava ali aconteceu (e sem pudor nenhum). E “esse aconteceu” torna-se ainda mais verossímil com a interpretação irretocável e magistral de Jesuíta Barbosa, que encarna, “possuído”, Ney Matogrosso. Durante um pouco mais de duas horas, quando o ator assume no filme já em sua fase da adolescência para a fase adulta parece mesmo que estamos na frente de verdade de um dos artistas mais versáteis e queridos do nosso Brasil. Não é à toa que Ney Matogrosso conseguiu todo o prestígio em sua carreira, o reconhecimento pela Banda Secos & Molhados” (nos anos 70) e se consolidando logo depois em carreira solo. Hoje, aos 83 anos, e com 50 anos de carreira, o cantor-performer ainda pulsa com uma vitalidade invejável, de alguém que sempre fez o que quis. É, depois que o filme acaba, nós passamos a entender um pouco mais a figura encantadora de Ney (que para mim além do artista, sempre inspirou muita luz e espiritualidade). A história conta que nada, nem ninguém, segurava o menino que nasceu Ney de Souza Pereira na pequena cidade de Bela Vista, muito próxima à fronteira do Paraguai, no Estado do Mato Grosso do Sul.  O Matogrosso adotado por ele não tem a ver com a cidade, mas sim com o sobrenome do pai (interpretado pelo ator Rômulo Braga), que era um Oficial da Aeronáutica e que, por ser militar e muito durão, não aceitava os trejeitos “efeminados” do filho. Diferente de sua mãe (vivida no filme por Hermila Guedes), que ainda está viva, e com mais de 100 anos, sempre apoiou o filho. Leia a Crítica completa: https://vertentesdocinema.com/homem-com-h/

MANAS

O melhor elogio que um filme pode receber é quando dizemos que não conseguimos tirá-lo de nossas cabeças. É como se obras assim transferissem, patologicamente, uma sensação tão inerente a nossas emoções, que somos abduzidos pela narrativa apresentada. Foi exatamente isso que me aconteceu quando assisti ao filme “Manas”, da realizadora brasileira Marianna Brennard, estreante na direção de um longa-metragem de ficção (dos documentários “O Coco, A Roda, O Pneu e O Farol”, “Francisco Brennand”), na competição oficial Première Brasil do Festival do Rio 2024 (vencendo o Prêmio Especial do Júri pela atuação da protagonista Jamilli Correa) e depois na Mostra de São Paulo 2024 (ganhando o prêmio de Melhor Filme Brasileiro), inicialmente exibido e premiado no Festival de Veneza do ano passado (vencendo o prêmio de melhor direção da Jornada dos Autores). O impacto desta obra mexeu tanto comigo que só consegui escrever esta crítica quando a revi. “Manas” é o típico filme coming of age construído de dentro, numa atmosfera intimista, de narrativa ficcional baseada no tom documental de uma realidade comportamental, mas com o preciso cuidado estético para transformar tudo isso à tela, como uma experiência mais humanizada e mais empática dessa identificação sentimental. Quer-se aqui a sensação consequente e o efeito devastador que marca a vida dessas personagens (que para sobreviver precisam agir, em muitos casos de forma radical), que existem em uma “costumeira”, social “prática cultural”, em que mulheres sofrem abusos sexuais por homens alimentados pelo imaginário machista de poder (incluindo membros diretos da família). Sim, Marianna poderia ter escolhido um caminho completamente diferente. Mas não. Este filme poderia ser gritado, poderia ser didático, poderia ser um manifesto feminista. Mas não. Preferiu-se um discurso sugestivo pela sutileza dos olhares, dos silêncios, do entendimento perspicaz (e cúmplice), articulado assim pela metafísica da vivência, que está entre a consciência coletiva da resignação calada e a ação individual de repúdio ao que acontece. Leia a Crítica completa: https://vertentesdocinema.com/manas/

AINDA NÃO É AMANHÃ

Exibido na mostra Novos Rumos do Festival do Rio 2024“Ainda Não é Amanhã” representa um ativo exemplar do Novíssimo Cinema Brasileiro, em que sua estética narrativa naturaliza o cotidiano, o humanizando com a organicidade nas ações triviais e rotineiras do dia-a-dia. Talvez seja assim esta cinematografia pernambucana (e de especificidade recifense): descolonizar a criação com verdade emocional e memória afetiva. É como se esses filmes quisessem recapturar a sensação nostálgica do antes com a reconstituição realista do agora. E se afastar completamente da experiência superficial destinada a uma audiência mais Netflix de ser. O que assistimos em “Ainda Não é Amanhã” é uma observação, ainda que ficcional, mas com tom-percepção documental, da própria vida acontecendo (numa câmera mosca, de invisibilidade subjetiva, que capta os momentos já na ação), especialmente em seus instantes de espera, que antecedem as decisões. Este filme acontece nesse intervalo entre os tempos do pensar e o agir. Podemos dizer também que “Ainda Não é Amanhã”, estreia na direção de longas-metragens da realizadora recifense Milena Times), é um filme de situações (com um que de Efeito Borboleta), em que uma escolha interfere no resultado consequente e de temporário final. Esta obra, de autoralidade neon-coloquial, tem sotaque local, tem o sensorial realismo editado de sentir o vento do elevador enquanto uma personagem dorme (numa atual almofada  de emoji); de ouvir o desconforto do barulho dos carros atravessando; de ser conversado numa liberdade direta e super naturalista do falar sobre temas reais (o dinheiro, as fofocas). Sim, poucos filmes causam isto: o de querer “morarmos” nele por ser tão bem convidativo). A cidade também é apresentada. As personagens também são organismos co-dependentes desse atravessamento, entre a rodoviária e entregadores de comida por aplicativo, em seus tempos específicos e leis próprias sociais. Leia a Crítica completa: https://vertentesdocinema.com/ainda-nao-e-amanha/

A PRAIA DO FIM DO MUNDO

Seja o que quiser, a tendência atual vista pelo mercado de horror é de uma possibilidade de assimilações de gênero e dinâmicas visuais absorventes. O tal do “autoral”. Todo mundo anda experimentando e inclusive se aproveitando disso. Em “A Praia do Fim do Mundo”Petrus Cariry decide mergulhar na construção de mundo e um interesse pelo montar visual, mesmo que interligado pela realidade e por uma quase não-ficção. Vilas abandonadas, o mar, o chamado “fim do mundo”, um interesse pela construção do mito, talassofobia itinerante, são pontos chaves para se entender o novo longa-metragem do cineasta. Facilmente inspirado por não só tendências contemporâneas, Petrus decide ir além. “O Visitante do Museu”, do gênio do apocalipse, Konstantin Lopushansky, é uma óbvia escolha de inspiração do filme em preto e branco. A dramatização, que em “A Praia do Fim do Mundo” é uma escolha talvez menos ficcional, isto é, puxando até demais a ficção científica, reflete na realidade um tom tão perto do natural. Assim, enquanto na produção do soviético o claro foco está na construção de um mundo assustador, o brasileiro decide bancar uma dinâmica entre mãe e filha em um impasse. Mais pé no chão, alguns diriam. A atmosfera de ambos, entretanto, se ligam tranquilamente em um piscar de olhos, seja pela obsessão do mar e seus mitos, que engolem estruturas que outrora jaziam em pé. Talvez daí saiam interesses pelos mitos, ou algo que não existe. Leia a Crítica completa: https://vertentesdocinema.com/a-praia-do-fim-do-mundo/

O AGENTE SECRETO

Andar de bicicleta e moto na calçada de pedestres (esta calçada que também “vira” extensão de bares – com mesas e cadeiras – fazendo que se tenha que “contornar” pela rua); conversar e atender o telefone enquanto assiste filmes nos cinemas e peças de teatro; parar no lado esquerdo da escada rolante; avançar o sinal vermelho e fazer “bandalhas” no trânsito (para “economizar” segundos de tempo); “marcar” local nos aparelhos de ginástica em academias e em apresentações públicas sem lugares marcados; jogar lixo na rua (porque há o gari para limpar); colocar água no shampoo e no detergente de cozinha para usar até a última gota; “carregar” a pilha-bateria no congelador; “correr” como uma “guerra” para comprar produtos bem mais baratos em aniversários de supermercados; correr em “mode maratona” para sentar antes nos bancos do metrô e/ou trens; comer produtos nos supermercados antes de pagar; comprar carteira de estudante (para pagar meia entrada) e de direção de automóveis (para não fazer a prova); colocar bombril na antena para melhorar o sinal da televisão. Sim isso tudo que listei acima (e muito mais coisa) é Brasil, o país dos jeitinhos e das gambiarras. E é esse Brasil que o diretor Kleber Mendonça Filho, desde  suas críticas e seus curtas-metragens, debruça seu cinema para assim construir suas narrativas. Este é um cinema de observação. De expor exotismos característicos (muito particulares) e culturais. Um cinema que o povo se identifica, mas que não quer ver na tela do cinema, talvez por não encontrar a fantasia do sonho projetado. KMF também “exuma” um cinema para gringo, porque esses estrangeiros são levados a possibilidades de explorar (e assistir) nosso próprio Brasil como “aliens” antropólogos, passivos, até porque talvez ninguém consiga mesmo mudar o “jeitinho” que construímos há mais de 500 anos, inclusive com a permissão de que o outro de fora sabe mais que a gente e por isso tem mais relevância no existir. Leia a Crítica completa: https://vertentesdocinema.com/o-agente-secreto/

SONHAR COM LEÕES

Mesmo com toda a evolução da humanidade, o ser humano parece ainda não ter se acostumado com a questão da morte (fato inevitável do processo da própria vida), talvez por todo um imaginário popular “influenciado” que sempre escolheu a suavização poética da ideia (mais fantasiosa) que a aceitação (mais realista) de sua característica orgânica e fisiológico, que se decompõe em putrefação. Sim, morrer é deixar o corpo que se “habita”. Causa sofrimento, violência e ausência, principalmente nos mais “emocionados sentimentais” que ficam. Mas se pensarmos sobre a existência humana, podemos até ensaiar uma polêmica-tabu, altamente desconfortável, quiça herege, que é: quem tem o direito sobre o corpo de alguém? Por que não podemos morrer se este for nossa vontade? Um que disso é o caminho seguido para discussão proposta do longa-metragem “Sonhar Com Leões”, do realizador Paolo Marinou-Blanco, exibido na mostra competitiva do Festival de Cinema de Gramado 2025. Sim, este é um filme que divide opiniões, éticas e principalmente moralidades, talvez ainda mais se o espectador for brasileiro, que vê na morte apenas uma iminência, um fim distante que pode ser “esperado”, “protegido” por uma incondicional esperança. Leia a Crítica completa: https://vertentesdocinema.com/sonhar-com-leoes/

ENSAIOS SOBRE YVES

Azul. No popular, a cor azul representa um status de felicidade e de equilíbrio, tranquilidade, serenidade, harmonia e espiritualidade. É também a cor da frieza e da monotonia. Entre os estudos acadêmicos, os efeitos na saúde podem gerar a diminuição da circulação sanguínea, a redução da temperatura corporal e a baixa da pressão arterial. É uma cor dúbia e até mesmo contraditória, por ser ideal em ambientes formais, mas estimular ao mesmo tempo a criatividade. Contudo, altas doses de azul podem gerar síndromes de pânico, desnorteamento e depressão. No Cinema, o azul foi instrumento de traduções sensoriais, servindo de metafísica para o cineasta Derek Jarman mostrar em tela o que via após as consequências de sua  imunodeficiência; foi a cor “mais forte” pelas lentes de Abdellatif Kechiche; foi a cor referente para que o realizador Jean-Luc Godard representasse a liberdade na pintura do rosto da personagem de Jean-Paul Belmondo em “Pierrot Le Fou – O Demônio das Onze Horas”; e foi até mesmo a cor indicada para humanizar sentimentos em “Divertida Mente”, a animação da Pixar. Se olharmos ao cotidiano nosso de cada dia, nós estamos rodeados de graduações azuladas. O céu é azul. O mar é azul. O infinito também deve ser azul, só pode! Todo esse preâmbulo serve para dar mais peso a essa cor escolhida pelo artista plástico francês Yves Klein e que agora se torna tema e narrativa da mais recente obra cinematográfica, “Ensaios sobre Yves”, dirigida por Patricia Niedermeier. Leia a Crítica completa: https://vertentesdocinema.com/ensaios-sobre-yves/

A BATALHA DA RUA MARIA ANTÔNIA

Muito se fala agora sobre o plano sequência por conta da minissérie “Adolescência”, mas nunca foi uma novidade. Alexander Sokurov utilizou-se dessa técnica em “Arca Russa” (2002). Alejandro Iñárritu também em “Birdman” (2015). O filme mais recente, que traz vinte e um planos-sequência (decrescentes) como condução narrativa (a fim de simular capítulos-elipses), exibido na mostra competitiva do Festival do Rio 2023, vencendo a categoria de Melhor Filme, é “A Batalha da Rua Maria Antonia”, em que sua diretora Vera Egito faz um “balé de câmeras” para contar os momentos da noite histórica, em outubro de 1968, da “batalha” entre a esquerda e a direita políticas (por dois rivais movimentos estudantis), na Faculdade de Filosofia da USP e na Universidade Presbiteriana Mackenzie; cujo episódio que culminou com o AI-5. “A Batalha da Rua Maria Antonia” é um exercício de linguagem, de ângulos (de uma câmera na mão), formas, fotografia em um granulado preto-e-branco  (numa percepção de película 35mm e num que à moda de “Polytechnique”, de Denis Villeneuve, que por sua vez infere a Nouvelle Vague de Phillippe Garrel – é como se aqui buscasse o tom de ser um arquivo antigo, encontrado e desgastado pelo tempo) e até mesmo nos créditos iniciais (que buscam a conexão nostálgica ao passar em negativo). Para que este filme possa acontecer, de forma estrutural e logística, é preciso muito ensaio e ter cada um dos envolvidos muito engajado e confiante no projeto. E para além da forma, há a necessidade de que o espectador consiga sentir a história (real) em um roteiro que conjugue ação, conteúdo, imersão e aprofundamento. Sim, é um desafio. Leia a Crítica completa: https://vertentesdocinema.com/a-batalha-da-rua-maria-antonia/

CHICO BENTO E A GOIABEIRA MARAVIOSA

É incrível que mesmo com o passar dos anos, o cinema brasileiro ainda não conseguiu resolver sua falta de identidade narrativa, evocando o lado mais genuíno da tipicidade humana, que é buscar sempre tentar agradar aos outros para assim ser aceito popularmente. Sim, como algum ditado popular já disse: nós somos “viralatas” procurando a “grama verde do vizinho”. Mas lógico que há muito boas exceções, que aparecem para mostrar que nem tudo está perdido e que há vida criativa nas obras nacionais. O melhor exemplo desse descolamento do querer ser e ter que ser padrão é o filme “Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa”, que apesar de se categorizar como infantojuvenil, consegue conversar de forma inteligente, sagaz, perspicaz e livre de melodramas sentimentais, tudo porque o longa-metragem escolhe a liberdade despretensiosa, imprimindo uma identidade própria e assumindo todos os desdobramentos consequentes dessa decisão. Em uma tradução mais popular, podemos dizer que “Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa” é um filme delicioso de assistir. Com alma e humor de “pão de queijo” (o legítimo mineiro com queijo mesmo). Essa maestria sensorial não só é despertada por trazer uma brasilidade típica e crível do interior “roça” que encontra uma representação à altura pela interpretação do protagonista: o ator mirim (interpretado de forma irretocável por Isaac Amendoim) e de suas personagens complementares, tampouco só por criar uma atmosfera coloquial de um cotidiano ficcional, mas principalmente por respeitar a inteligência de quem assiste ao usar e abusar de todos os elementos naturalistas. Leia a Crítica completa: https://vertentesdocinema.com/chico-bento-e-a-goiabeira-maraviosa/

Melhores Destaques 2025 Vertentes

A SEMENTE DO FRUTO SAGRADO

Sim, toda essa metáfora crítica, pela representação fabular dessa sociedade espelhada ficcionalmente da realidade, é apresentada em seu mais recente e aguardado filme “A Semente do Fruto Sagrado”, que integra a seleção da mostra competitiva a Palma de Ouro. Mohammad Rasoulof também não é o primeiro realizador a criar burburinho com “iminência de perigo” no Festival de Cannes, e que “causou” apreensões se o referido governo tomaria alguma “decisão mais radical” por conta de sua suposta presença foragida. Sim, a pauta mais comentada é se o realizador conseguiria fugir do Irã para apresentar sua obra aqui. Sim, Rasoulof não só conseguiu sair do país que o persegue, como fez questão de estar em carne e osso nas sessões. E sim, após a primeira exibição, entendemos completamente o porquê disso tudo: nós tínhamos assistido a uma obra de arte. E já é unânime afirmar que o filme ganharia a Palma de Ouro. Leia a Crítica completa: https://vertentesdocinema.com/a-semente-do-fruto-sagrado/

A VERDADEIRA DOR

O parágrafo anterior se explica, legalmente, porque nós somos seres com identidades únicas, com CPF únicos e com digitais únicas. Nós nunca seremos iguais, por mais que a sociedade tente padronizar certas emoções e reações. Por mais que as religiões nos igualem. Todo esse preâmbulo pode ser porta de início para as análises do novo filme de Jesse Eisenberg“A Verdadeira Dor”, presença marcante nas premiações de cinema do ano, incluindo o Oscar. Mas o que faz sua obra ser tão icônica, aprofundar tanto um tema e fazer este crítico que vos escreve remoer durante semanas o filme antes de começar o trabalho da “tradução”? Curiosamente não é pelo mote de trazer à vida e à emoção a tragédia austríaca-alemã, que vira e mexe volta como plot nos filmes, mas sim por construir uma narrativa imersão naturalista, de identificação sensorial, de uma metafísica que potencializa o exato instante da realidade presença e os mais cirúrgicos sentimentos derivativos. Leia a Crítica completa: https://vertentesdocinema.com/a-verdadeira-dor/

UM COMPLETO DESCONHECIDO

Sim, é bem complexo na verdade. E há ainda outra variante: a de esse músico famoso é obrigado a separar a própria vida da obra. É como se após criado, o artista precisasse ser um robô submisso às vontades dessa fama e do sucesso acarretado. E o mais recente filme de James Mangold“Um Completo Desconhecido”, não poderia ser diferente na construção de sua narrativa sobre Bob Dylan, o ícone do folk que se rebelou contra rótulos, apegando-se na utopia da liberdade criativa em seu trabalho (e em manter intocada à “ferro e fogo” sua aura blasé low profile e não sucumbir a “Bobmania” – num que histérico bem The Beatles de ser). Aqui, seu realizador, norteamericano de Nova Iorque, quer imprimir uma mise-en-scène de nostalgia atemporal, só que como uma revisitação importada da época abordada e como uma viagem do passado aos tempos do agora, gerando assim a comparação entre gerações e seus efeitos no mundo de hoje pelo o de antes. Leia a Crítica completa: https://vertentesdocinema.com/um-completo-desconhecido/

SEM CHÃO

“Sem chão” é um documentário dirigido a quatro mãos sobre a tragédia que se arrasta na Cisjordânia, território ocupado por Israel desde 1967, após a Guerra dos Seis Dias – um palestino ativista, Basel Adra, e um jornalista israelense, Yuval Abraham, foram os realizadores. Também integraram essa corajosa equipe Hamdan Ballal e Rachel Szor, ele palestino e ela israelense. O adjetivo “corajosa” não é força de expressão – é um dado concreto da realidade. “Sem chão” foi feito para furar o bloqueio midiático sobre o que se passa com os palestinos na Cisjordânia. O violento ataque do Hamas em outubro de 2023 – e a resposta totalmente desproporcional israelense que se seguiu – catapultaram o conflito na região para um novo e inédito patamar. Entre a Faixa de Gaza e a Cisjordânia, entretanto, a distância é maior do que os poucos quilômetros que os separam, em território israelense. Gaza é governada pelo Hamas, Cisjordânia pela Autoridade Palestina. Leia a Crítica completa: https://vertentesdocinema.com/no-other-land/

SÍNDROME DA APATIA

Poucos filmes terão o enraizamento no real que “Síndrome da Apatia”, finalizado em 2024 por Alexandros Avranas, exibe desde o primeiro minuto. Uma situação absolutamente verossímil, no sentido etimológico da palavra: “verossímil” tem origem no latim “verisimilis”, que significa “semelhante à verdade” ou “que tem aparência de verdade”. Essa palavra é formada pela junção de “verus” (verdadeiro) e “similis” (semelhante). “Verus” é a circunstância sócio-histórica que inspira a narrativa, e “similis” é a linguagem audiovisual que a expressa. Trata-se, portanto, de um estudo científico de uma língua, no caso a cinematográfica: um filme “filológico”. O enredo é conciso e objetivo: um casal russo de refugiados políticos – ponto de partida da verossimilhança – imigra para Suécia, com duas filhas em idade escolar, e tem pedido de asilo recusado. Na Rússia de Putin, especialmente depois da invasão da Ucrânia, não é um fato excepcional: estima-se que um milhão de russos e russas tenham deixado o país, com destinos diversos, entre migrantes económicos, objetores de consciência e refugiados políticos. Saíram cineastas, artistas, jornalistas, mas também empresários e jovens escapando da mobilização militar, sobretudo a de setembro de 2022. Leia a Crítica completa: https://vertentesdocinema.com/sindrome-da-apatia/

DREAMS

Pelo estudo existencialista de sua trilogia da universalidade, o realizador norueguês Dag Johan Haugerud conseguiu provar, de uma vez por todas com suas ficções, que para se viver só é preciso três elementos, abstratamente patológicos e cognitivos, quase sem nenhuma lógica, em total dependência com o comportamento humano: amor, sexo e sonhos. Cada um parece mesmo não funcionar sozinho. Não se sabe quando termina um e quando começa o outro, tampouco o que os motiva, os impulsiona e o que causa suas consequências psicológicas e físicas. Imagine então tentar definir o que é o sonhar! Talvez uma projeção do querer, uma ilusão que nutre a vontade irracional, um sentimento platônico de covardia (este por querer se proteger das negativas quando reações são postas em ação). Assim, sonhar é o imaginar. É a prévia do decidir. É um ensaio, um simulado. Em sua tríade, o cineasta apresenta seu “último” capítulo. “Dreams (Sonhos)” foi apresentado no Festival de Berlim 2025, vencendo assim o Urso de Ouro de Melhor Filme. Mas talvez este longa-metragem tenha sido mesmo, inquestionável e inerentemente, avaliado pelo contexto geral, visto que os outros dois capítulos anteriores “Sex” e “Love” também foram lançados quase juntos em 2024. Leia a Crítica completa: https://vertentesdocinema.com/dreams/

GUARDE O CORAÇÃO NA PALMA DA MÃO E CAMINHE

Guarde o Coração na Palma da Mão e Caminhe”, filme de 2025 dirigido pela iraniana Sepideh Farsi, insiste numa imagem arrebatadora, o rosto de Fatima Hassouna, palestina de 24 anos, residente em Gaza. Durante quase um ano Sepideh ligou para Fatima, chamadas com vídeo, a despeito das dificuldades de conexão – e dos bombardeios e tiros. Idas e vindas da conexão funcionam como pontuação cinematográfica, connexion cortada (em francês: o celular da diretora é de Paris, onde mora) e retomada. O sorriso de Fatima preenche a tela, ilumina a tela. O rosto humano, dizem os cabalistas, é um mapa, reflexo físico da alma e local de revelação espiritual. A linguagem é simples, direta, são dois eixos que se oferecem ao espectador: as ligações em primeiro plano, e imagens da devastação de Gaza, captadas com um olhar atento e expressivo, breves interpolações que contextualizam a cena. A fotógrafa é a própria Fatima: suas fotos, postadas no Instagram, conseguem a proeza de se diferenciar da massa de informação visual que (quase) banalizou a tragédia diária que se passa na Faixa de Gaza. Claro, Fatima não é a única testemunha que corre por fora do mercado de imagens efêmeras dessa guerra brutal, outras vozes também vieram (e vêm) à tona. Seu sorriso acolhedor, sem embargo, é único, desarma e prende a atenção do espectador. Leia a Crítica completa: https://vertentesdocinema.com/guarde-o-coracao-na-palma-da-mao-e-caminhe/

VALOR SENTIMENTAL

Exibido na mostra competitiva a Palma de Ouro do Festival de Cannes 2025, “Valor Sentimental” já nasce uma obra-prima, não de forma imediata, mas construída ao longo de sua duração. São aqueles filmes que se embasam completamente no final, no seu desfecho.O longa-metragem dirigido por Joachim Trier, de “A Pior Pessoa do Mundo”, acontece pelo tempo. De se personificar o invisível, que se “mostra” por detalhes e por uma observação mais atenta. O filme nos conduz pela vida de Nora, uma atriz de teatro bem-sucedida, que reencontra o pai distante, Gustav Borg, um diretor de cinema outrora renomado, que, por sua vez, planeja um retorno com um roteiro inspirado na família. Após Nora recusar o papel principal, Gustav volta suas atenções para uma jovem estrela de Hollywood em ascensão. “Valor Sentimental” é acima de tudo uma análise coloquial, cotidiana e cognitiva de como as emoções humanas interferem e redirecionam consequências. Sim, tudo aqui é sobre nós mesmos enquanto seres sociais, vivendo em um coletivo que estimula, contraditoriamente, a individualidade exacerbada.

PECADORES

O sucesso do novo filme de Ryan Coogler não é por acaso, tampouco pode ser justificado apenas sob a égide do argumento de que “trata-se de uma história original em meio a tantas continuações e refilmagens”. A tentativa desesperada de encontrar um argumento inequívoco — como uma bala de prata (com o perdão do trocadilho) — para explicar de forma definitiva o alvoroço provocado por “Pecadores” soa ingênua ou mal-intencionada. Nesse gesto, além de não se mencionar a trama do longa e o êxito do diretor em conduzir essa narrativa, há uma menção excessiva, exaustiva e tola aos recentes fracassos de projetos envolvendo encapuçados superpoderosos e seus baixos números de bilheteira. Falemos, pois, do filme — e não do mercado. Em uma das cenas mais bonitas do ano, Coogler decide quebrar o protocolo histórico das representações contextuais e atravessar gerações, continentes e séculos para demonstrar as raízes culturais de seus personagens em tela, explicitando as reverberações contemporâneas do blues e da cultura preta. Esse exercício é feito através da dissolução do real, da retomada da narração inicial (com um breve e necessário acréscimo) e da apresentação brilhante de um conflito entre vivos e mortos que não se sustenta apenas no elemento fantástico, mas tem base histórico-cultural. Leia a Crítica completa: https://vertentesdocinema.com/pecadores/

MEU BOLO FAVORITO

Exibido na mostra competitiva do Festival de Berlim 2024“Meu Bolo Favorito” apresenta-se como uma sensível fábula intimista que metaforiza as questões sócio-comportamentais etárias de um Irã contemporâneo. Suas personagens trazem a solidão, o tédio e a resignação dos sonhos ainda não completados de idosos da “melhor idade”. O longa-metragem dos diretores iranianos, a Maryam Moqadam e o Behtash Sanaeeha (de “O Perdão”), que não puderam estar presentes na exibição por não terem “passe” para viajar (o governo iraniano confiscou seus passaportes por causa de algumas cenas do filme – sendo a principal questão o hijab), desenvolve sua narrativa pelos detalhes: lembranças (objetos cênicos de uma casa e até mesmo se maquiar para reviver memórias) guardadas do tempo de uma vida e contempladas como um tesouro pelos olhos da personagem de setenta anos. A trama, coloquial e naturalista, acompanha sua zona de conforto em suas ações rotineiras e banais de seu dia-a-dia, entre conversas espirituosas em tom cúmplice de zoação (de sarcasmo ingênuo), assistir novela, fazer tricô e compras no supermercado, e almoçar com as amigas, que “fofocam” contam “verdades” e “flertes”. Leia a Crítica completa: https://vertentesdocinema.com/meu-bolo-favorito/

Balanço Geral do Vertentes do Cinema 2025

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