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My Way – O Mito Além da Música


Ficha Técnica

Direção: Florent-Emilio Siri
Roteiro: Florent-Emilio Siri, Julien Rappeneau
Elenco: Jérémie Renier, Benoît Magimel, Monica Scattini, Sabrina Seyvecou, Ana Girardot, Joséphine Japy, Maud Jurez, Marc Barbé, Eric Savin, Sophie Meister, Janicke Askevold, Édouard Giard, Jérémy Charbonnel
Fotografia: Giovanni Fiore Coltellacci
Trilha Sonora: Alexandre Desplat
Produção: Cyril Colbeau-Justin, Jean-Baptiste Dupont
Distribuidora: Pandora Filmes
Duração: 148 minutos
País: França, Bélgica
Ano: 2012

 

Um Filme que personifica um mito
“My way – o Mito Além da Música” integra o gênero de cinema biografia, “homenageando” o artista Claude François. As aspas da palavra anterior conotam que não foram omitidos percalços da trajetória pela fama (como idiossincrasias, individualismo, arrogância, prepotência profissional, liberdade, ego, dependência). O longa-metragem do diretor Florent Emilio Siri (de “Refém”, dirigindo Bruce Willis, em 2005) conserva o estilo nostálgico francês, introduzindo um toque narrativo moderno, de tom novelesco sim, mas sem a pieguice característica deste gênero. O filme apresenta uma história “épica” de duração estendida (quase duas horas e trinta minutos). Mas isso não incomodou, porque este tempo é necessário ao contexto encadeado, a fim de construir a história abordada – que vai da infância a morte trágica (curiosa, quase patética, não no filme, mas no ponto factual acontecido na realidade).
O ídolo da música francesa Claude François, morto aos 39 anos de idade, sempre fascinou: entre sua vida de homem de negócios, de artista sedutor e de produto da indústria fonográfica, com a imagem cuidadosamente moldada pelos produtores, ele construiu uma imagem múltipla e complexa, e ficou conhecido internacionalmente por sua interpretação da música My Way.
O sucesso pretendido (e conseguido) pelo artista (assim como todos que se achavam talentosos e buscavam o “lugar ao sol”) gerado graças a uma época histérica e ávida por ídolos, que lotavam casas de shows por onde passavam, buscava multidões (como Beatles, Frank Sinatra). O segredo da sobrevivência de um ícone musical era a constante transformação, adequando-se às novidades e absorvendo tendências sociais. O “novo” era a palavra chave. E a reinvenção, a “religião”. Claude François era uma metamorfose, fornecendo ao público o que queriam, e influenciando seu trabalho pela perspicaz percepção de observar essas mudanças musicais, sem deixar de manter a linha equilibrada das melodias, que eram melodramáticas, românticas e “bregas”. Ele podia dar ritmo à música, mas não deixava de falar sobre o amor e ou sofrimento causado pelo amante. O ponto alto de sua carreira foi ter feito “Comme d’habitude”, com coautoria de Jacques Revaux, regravada para versão americana por Paul Anka e o mais célebre dos cantores, Frank Sinatra. Suas outras músicas foram usadas e abusadas por inúmeros artistas. O “personagem” em questão aqui se definiu como um ícone excêntrico, sentimental, mulherengo, ansioso, sistemático, inquieto, egoísta, perfeccionista, carente e extremamente humanizado. O roteiro desconstrói o mito com o intuito de personificar seus sentimentos reais, e assim o compara a cada um de nos, porém, com o aditivo intensificado do incrível talento musical, que apesar da estatura mediana e do nariz incompatível de Claude François, tornou-se um galã que enlouquecia as mulheres e encantava os homens.
É comum em um gênero biográfico a existência de “um” único ator, que interpreta quase “um monólogo”, recebendo toda responsabilidade e carga emocional, definindo o andamento das ações e consequências pela forma de atuar. Sabemos que não é um monologo, já que os outros são de extrema importância ao resultado satisfatório da cena. A picardia que utilizei foi para citar que sem o ator principal não há filme, chega a ser lógico e óbvio o pensamento. O diretor tem que acreditar muito ao optar por entregar todo filme na mão de uma única pessoa. Florent Emilio Siri aceitou o desafio e recebe méritos ao escalar um ator belga Jérémie Renier, em voga no cinema francês, que cada vez ganha “mercado” mundial (comentário este por causa de sua participação, não como coadjuvante, no filme argentino de Pablo Trapero, “Elefante Branco”). Já atuou em “O Garoto da Bicicleta”, “O Silêncio de Lorna”, “A criança”, que são principais filmes de Jean-Pierre Dardenne, Luc Dardenne, e “Potiche – Esposa Troféu”, de François Ozon. Não poderia ter sido escolha melhor. Jérémie mergulha no universo do personagem e realiza um trabalho fantástico, como a cena em que escuta o seu ídolo Frank Sinatra cantando sua música. Não se diz nada, e faz o espectador se emocionar. Quanto ao equilíbrio do ritmo narrativo, o filme apresenta altos e baixos, gerando a “olhada” ao relógio (talvez pela duração da exibição). Abro um parêntese, lembrando que algumas salas de cinema chegam a passar quase vinte minutos de trailers. Se contabilizarmos quase três horas de duração. Este ponto é resolvido com o grau de extrema inteligência, elegância e cuidado do roteiro ao tentar ao máximo traduzir, ficcionalmente, a biografia de um artista. Concluindo, um filme que merece ser visto. Atenção especial à trilha sonora de Alexandre Desplat (de “A Árvore da Vida”, de Terrence Malick).
O diretor teve alguns problemas com o roteiro do filme. Como a família do músico estava envolvida na produção, eles tentaram a todo custo eliminar cenas mais negativas sobre o cantor, como suas obsessões sobre a maneira de se vestir e o falso desmaio durante um concerto em 1970. O ator Jérémie Renier, que nunca tinha cantado ou dançado em sua vida, treinou durante cinco meses com diversos profissionais. O ator teve treinos para a voz, para o canto, para os conhecimentos musicais, para a dança e mesmo um para os aspectos físicos, garantindo sua semelhança com o artista. Próximo do momento das filmagens, Renier fez 1200 abdominais por dia, para ficar mais próximo do corpo atlético do astro francês.

O Diretor
Florent Emilio Siri, nasceu em 2 de março de 1965, na França.

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