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Maníaco do Parque

A fórmula atinge o automatismo

Por Vitor Velloso

Durante o Festival do Rio 2024

Maníaco do Parque

A carreira de Maurício Eça é constante e inequívoca quanto ao esforço em trabalhar com projetos populares, de longo alcance e repercussão, seja com “Carrossel” (2015; 2016), ou com a (até então) trilogia: A “Menina que Matou os Pais” (2021), “O Menino que Matou Meus Pais” (2021), e “A Menina que Matou os Pais: A Confissão” (2023). Agora, com “Maníaco do Parque”, mais um sintoma da febre do true crime recente no audiovisual brasileiro, o diretor explora a famosa história de Francisco de Assis Pereira, conhecido pelo título do filme, seus crimes e suas obsessões.

O projeto apresenta seu personagem ao som de Ramones, com uma montagem desajeitada e “descolada”, enquanto Francisco anda com seus patins, criando uma introdução deplorável. Contudo, não é apenas a introdução que possui um caráter ignóbil. Ao longo do filme inteiro, o espectador acompanha músicas absurdas em situações igualmente constrangedoras, seja com Charlie Brown Jr. ou Sepultura; as sequências tornam-se cada vez mais desagradáveis. Dessa forma, o caráter publicitário em um filme sobre um crime chocante torna-se desrespeitoso com a própria história, a investigação, a seriedade dos crimes e com os constantes desvios didáticos realizados pelo longa para explicar alguma questão da trama ou dos personagens, como as cenas explicativas de Mel Lisboa para falar sobre o que é um psicopata ou quais características um psicopata possui. Não por acaso, nenhum personagem do filme possui densidade ou complexidade; tudo é apenas um dispositivo para encaminhar a narrativa para o conhecido desfecho. Xamã interpreta o patrão bacana, Marco Pigossi e Bruno Garcia interpretam homens insuportáveis e machistas no meio do jornalismo, etc. Tudo é tão superficial quanto poderia ser.

“Maníaco do Parque” sofre de todos os problemas presentes nos filmes sobre Suzane von Richthofen, incluindo as interpretações comprometedoras. Aqui, no entanto, a performance de Giovanna Grigio, enquanto Elena, é realmente um destaque negativo, pois, apesar do esforço do roteiro em demonstrar sua determinação para desvendar a identidade do criminoso, as cenas que deveriam explicitar isso para o espectador são verdadeiramente constrangedoras. A maquiagem para expor seu cansaço e o olhar “sério e concentrado” tornam toda a experiência com a personagem algo tão caricato que, além da previsibilidade no desenvolvimento, cria uma aura quase cômica para as cenas. O mesmo acontece com Silvero Pereira, interpretando Francisco, que, mesmo sendo um bom ator, flerta com elementos patéticos, com suas encaradas para a câmera ou explosões de raiva. Porém, não há como culpar os atores, pois seus personagens são de uma unilateralidade destacável, com diálogos expositivos e absurdos. Além disso, todo o desenvolvimento é marcado por uma estrutura simplória de pequenas cenas para caracterizar algo nos personagens, seja a interação no trabalho ou seu cotidiano, seguido de um crime e sua investigação. Nada na obra vai além desse jogo artificial de apresentação. Assim, quando o filme procura criar uma dualidade dramática, clichê nos filmes de investigação policial, só consegue expor dois polos insustentáveis e constrangedores que não possuem nenhum traço dramático sólido em si, nem que permita compreender uma suposta ligação entre esses personagens.

Uma das maiores questões de “Maníaco do Parque” é que todo o contexto dos crimes e a brutalidade dos assassinatos não parecem ser um ponto de interesse da obra, mas sim uma espetacularização publicitária, como em muitos outros filmes sobre crimes no mercado cinematográfico. Esse desenvolvimento problemático, onde tudo é apenas um recurso ou dispositivo para gerar engajamento e cliques, formaliza o sintoma da artificialidade desses projetos, revelando seu caráter comercial da pior maneira possível, com um desinteresse evidente por todas aquelas pessoas – vítimas, jornalistas, investigadores, etc.

Por fim, o sintoma do true crime tem sido aproveitado comercialmente por diversos cineastas, e Eça parece ter sido o escolhido dos streaming para replicar a fórmula até seu esgotamento. Contudo, esses projetos, atravessados por intencionalidades questionáveis e meramente burocráticas, parecem ser fruto de uma espécie de pragmatismo artificial que só precisa completar uma checklist, incluindo nas atuações, o que agrava tudo para um campo realmente vexatório.

1 Nota do Crítico 5 1

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