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A Menina que Matou os Pais

Duplex do norte

Por Vitor Velloso

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A Menina que Matou os Pais

O caso da Suzane von Richthofen sempre soou mais uma tentativa de internacionalizar um caso de crime que qualquer outra coisa. Essa investida em aproximar a situação das grandes coberturas jornalísticas dos casos norte-americanos fica clara com o projeto de Maurício Eça e os largos textos que aproximam o formato da obra ao true crime “from norte”. “A Menina que Matou os Pais” é um daqueles casos que o cinema brasileiro se despe de qualquer necessidade de investigação e diagnóstico para espetacularizar seus personagens através da “frieza” em torno da barbaridade aos moldes estadunidenses. Ou seja, o marketing é feito em cima do escândalo da “maconhada” e de manipulações de ambos os lados.

É exatamente o que os longas assumem, ao partir desse modelo igualmente from de contar com as duas perspectivas em uma só nota, manipulando a ordem dos relatos na intenção de fortalecer uma das narrativas. Veja bem, não trata-se de heróis e vilões, e sim do caso real onde os pais da menina foram brutalmente assassinados. Nem mesmo há interesse em relacionar os fatos com a ficção. Soa um exercício de síntese de um padrão de vida diretamente conectado à uma época, com drogas e Charlie Brown Jr. e Rappa vinculados à um dos crimes mais midiáticos da história do Brasil. Os trechos das viagens mostram que essa idealização pela liberdade passa pela câmera lenta, sol, praias paradisíacas e a droga sendo o elemento que interrompe o lúdico. Não se distancia muito daquelas propagandas de plano de saúde. Mas se o leitor acredita que o maior problema de “A Menina que Matou os Pais” é essa distorção da realidade a favor do projeto, infelizmente não acaba por aí.

O roteiro da obra/série/novela é realmente sofrível, os diálogos são super expositivos e cada nova sequência agride o espectador com a redundância das falas. As atuações também não se distanciam da esquemática aguda, Carla Diaz e Leonardo Bittencourt, que interpretam Suzane e Daniel, fazem um trabalho realmente comprometedor aqui. As cenas dramáticas que envolvem suas brigas e tomadas de decisões fazem o projeto decair drasticamente. Como destaque as piores cenas: a da briga na banheira e quando decidem pedir a ajuda Christian (Allan Souza Lima), sem dúvida vão ficar na memória. Esse encontro do texto e da interpretação não pode ser entendido como uma falha da direção, mas como um apagão geral de todos os lados, onde as fragilidades do roteiro e das interpretações são potencializadas de forma negativa por uma encenação que se esconde do eixo central e apenas reforça o tom dessa manipulação. O arquétipo novelesco à lá Carrossel e Rebeldes, fica claro na pequena mudança que a fotografia propõe em sequência idênticas que procuram vilanizar um dos personagens. Caso a tomada de decisão fosse mais consciente dos desdobramentos, o barato até funcionaria pela ordem dos discursos distintos diante do tribunal, o problema é que na maioria das vezes a distinção é feita por um ângulo alternativo ou mesmo a inversão completa do tom do diálogo, que nas duas versões continua sofrível.

A comparação deve ser feita constantemente com “O Menino que Matou Meus Pais“, já que a estratégia de lançar as duas perspectivas na época do cinema presencial, era de angariar alguma complexidade na narrativa. Já que houve uma certa pressão pela sessão dupla, a coisa fica repetitiva e caso o espectador decida assistir os dois em uma tacada só, vai se deparar com uma experiência tediosa e cansativa, sentindo a crescente gastura a cada novo diálogo.

“A Menina que Matou os Pais” é tudo aquilo que as músicas em inglês presentes na obra demonstram, um subproduto tupiniquim com aspirações à cópia dos produtos televisivos do norte, na intenção de criar fóruns de debate na sequência. O problema é que todos já conhecem a história o suficiente para não haver necessidade de três horas de Carla Diaz e Leonardo Bittencourt em turnês pela decadência do estilo de vida dos ricos com atuações lamentáveis e o suspense por como as coisas se encaminharam até o fatídico “dia”.

1 Nota do Crítico 5 1

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