Reprise Mostra Campos do Jordao

O Menino que Matou Meus Pais

O outro lado do "dia"

Por Vitor Velloso

Amazon Prime Video

O Menino que Matou Meus Pais

Seguindo o “dia”, que tanto marca as passagens temporais dos longas do projeto de Maurício Eça, a menção ao momento do assassinato dos pais de Suzane é um dado não apenas explícito no título como explicita a suposição que todos sabem do que estávamos falando. Essa tônica de “O Menino que Matou Meus Pais”, conta ainda com a ideia de que o espectador já assistiu “A Menina que Matou os Pais”, já pegando o gancho e iniciando a mesma narrativa, agora com diálogos brevemente trocados para assistirmos sua versão dos fatos. A forma from das séries true crime, como alguns textos elogiam no encaixe a fórmula, demonstra uma profunda diretriz comercial e televisiva de um produto brasileiro que se curva aos padrões industriais de Hollywood para contar a história do escândalo burguês do início do século.

Ora, recusar que a barbaridade midiática interessa à alta sociedade é de uma inocência ou mau-caratismo singular. Aliás, vale lembrar que da mesma forma que todo carioca sabe dos perigos envolvendo o entorno da Lagoa Rodrigo de Freitas, foi o assassinato de um médico que trouxe à tona a “decadência da segurança no Rio de Janeiro”, o caso de Suzanne tornou-se o ponto para denunciar como a sociedade brasileira estava entrando em um declínio moral absoluto. A imprensa da época e Maurício Eça agora tentam aproximar o caso dos grandes discursos marqueteiros “from EUA”. No caso do segundo, a intenção é fazer do enlatado algo facilmente vendável e divulgar a obra terceirizando o próprio serviço, como esse texto que escrevo agora. O barato é explicitamente ideológico, como esse consenso do inconsciente, alguns irão argumentar que “é clichê e tem vários problemas, mas é bem produzido”. Está claro que o comentário irá se curvar diante de exemplificações como o plano da roda gigante e outros cartões postais retirados do norte.

“O Menino que Matou Meus Pais” não é pior nem melhor que seu gêmeo siamês de O Menina que Matou os Pais , porém sofre da profunda depressão gerada pelo primeiro. Sem um vácuo explícito, a questão fica por conta da repetição das cenas sofríveis e dos diálogos assombrosos que já consumiram a paciência do espectador na primeira projeção. Ainda que o tom mude e a luz procure mostrar o “lado sombrio” de Daniel (Leonardo Bittencourt), como na cena pós-aniversário, as coisas se mantêm na mesmice. O curioso é notar o esforço do filme para construir essas duas perspectivas, mas assumindo que o público já reconhece a história de primeira, além do próprio longa assumir no tribunal que Suzane possui uma postura excessivamente fria diante do relato. Essa construção não é feita por um grande trabalho de Carla Diaz, mas sim por suas tentativas desesperadas de fazer caras e bocas que demonstram o não-arrependimento de tudo que fez. Algumas sequências são verdadeiramente vexaminosas, ao ponto de cada vez que existe uma discussão do casal, é possível dar uma boa risada com os gritos desajeitados dos atores. Ainda que a culpa também seja do roteiro, nada funciona em uma obra que acredita possuir três horas de grandes construções dramáticas e consegue, no máximo, provocar um ou outro à pesquisar um pouco sobre o caso. Nesse sentido o produto até que é esperto, pois estando em alta, a retroalimentação de dados vai dar novamente na distribuição da Amazon “Beezos” Prime.

Porém, no fim, a coisa não funciona mesmo e dificilmente vai passar de um entretenimento fugaz e diletante que será incapaz de sobreviver às discussões além do território twitteiro. “O Menino que Matou Meus Pais” é a versão mais pretensiosa na formalização de uma opinião sobre os fatos. E como toda opinião, tem vida útil pré-estabelecida, que aqui no caso, está antes dos créditos finais. Mas para chegar lá… uma quantidade expressiva de paciência vai ser necessária para degustar o nada saboroso blend industrial from EUA, que joga o “me pirou o cabeção” com manipulações de todos os tipos.

1 Nota do Crítico 5 1

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