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Lenny Sem Luvas

Xerox e Luvas

Por Vitor Velloso

Lenny Sem Luvas

Filmes sobre lutadores possuem um arquétipo pré-concebido na indústria, não por uma questão de familiaridade com o universo, mas toda a publicidade e venda de ideologias que está presente como pano de fundo dos mesmos. Aqui, obviamente, a crítica não vale ao esporte (com luvas) mas sim ao modelo de produção que envolve esses projetos. “Lenny Sem Luvas” é um caso sintomático. 

O longa de Ron Scalpello assume tudo que o mercado tem para lhe oferecer, acrescentando Josh Helman à equação. Não busca fugir de nenhuma obviedade e abraça a todos os modelos fáceis de narrativa, embarca nessa jornada de descobrir uma violência interior que está sempre representada na atuação, no modo de falar, mas não é compreendida como um braço cultural de imperialismo, seja como crítica ferrenha ou mesmo deboche. Aqui nasce o erro primário do filme. Pois ele não se vê em meio à produção como uma espécie de marginalização da conceituação formal do “cinema de boxe x superação”, muito menos faz alusão ao mesmo, através de uma corrosiva narrativa como se vê na padronização publicitária de vinheta em Guy Ritchie

O projeto apenas está predisposto a torna-se comercial através do escárnio pelo escárnio, e aqui devo ressaltar que parto dessa concepção por recusar que as atuações são parte de uma unidade. E é dentro desta proposta de unidade que o filme também falha, pois não consegue superar o próprio esqueleto que o rege, pois tudo se dá em tom absolutamente replicado. Um beberrão fumante, violento, que soca tudo o que vê, se mete numa enrascada, é obrigado a amadurecer (aqui, primeiro no esporte e depois na vida, o que a moral do longa tenta inverter depois), enfrenta desafios e os supera. 

Uma velha receita de como fazer um filme comercialmente viável, ainda que todos já conheçam histórias parecidas:

  • 01 Brucutu
  • 01 Drama de fácil digestão
  • Flashbacks fora de momento (adicionar ao bel prazer)
  • Caretas constantes 
  • 01 Ator que fala o filme inteiro com a boca torta e trinca os ombros para parecer ameaçador.
  • 01 Superação fálica que se dá através da violência e da moral européia de honra imutável.
  • Alguns tons de pieguisse.

Se o texto parece caçoar da obra, a opinião vem da própria esquematização da mesma, que se equilibra entre entregar tudo ao clichê e tentar emular um espírito de “Bronson” em seu personagem, uma espécie de entidade medonha que exala violência e traumas, mas para que a cópia pudesse ser gerada, deveria ser acrescentado o direito ao sonho enquanto ser humano, não a partir de um moralismo tóxico como em “Lenny Sem Luvas”. Em que a moral surge de um anseio liberal de construir a vida em dogmas que se formalizam a partir da socialização da sociedade, dada pela burguesia, Lukács alertava (para os que gostam de citações). Mas já que estamos em território que outrora foi cobiçado pelo país de produção de “Lenny Sem Luvas”, indico a breve, dialética e sintética frase: “Existe o país capitalista pobre e existe o país capitalista rico, existe o país comunista pobre, existe o país comunista rica. Em síntese, existe o mundo pobre e o mundo rico.” Glauber Rocha.

Logo, a própria dependência sociológica e filosófica do filme apenas nos faz retornar ao texto de Pasolini acerca da mutabilidade do pensamentos das classes em meio ao capitalismo e como existe uma espécie de vácuo entre a digressão econômica dada pelos mesmos. Algo explicitado, também, por Lukács. Algo que trarei com mais aprofundamento em um texto que seja mais necessário.

“Lenny Sem Luvas” é um produto explícito dessa veia comercial do cinema de luta, onde a narrativa e a linguagem estão a serviço de um modelo pré-concebido, não procura modificar em absolutamente nada o mercado ao qual se insere, nem se preocupa em ser lembrado, mira as bilheterias e talvez consiga alguma relevância ao bolso dos produtores. É cínico, ao não compreender seu lugar político dentro da narrativa em que se insere, também não consegue trabalhar em cima da realidade social de seu personagem. Contudo, pode arrancar um riso atravessado em um momento ou outro, nunca por mérito próprio, mas por alguma situação absolutamente atípica que cruza o longa. Não é uma bagunça por completo pois se apresenta apenas como o gênero deve ser, em cifras.

2 Nota do Crítico 5 1

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