Uma Anárquica-Feminista História Policial
Por Fabricio Duque
A diretora polonesa Agnieszka Holland (de “Europa, Europa”; “O Jardim Secreto”), em seu mais recente filme que concorre aqui ao Urso de Ouro do Festival de Berlim 2017, “Pokot – Spoor”, o adjetiva como um “thriller entre gêneros”, na verdadeira história adaptada do livro homônimo de Olga Tokarczuk. Seu título original é uma expressão de caçada, que significa a contagem de animais mortos (e fotografados para a lembrança póstumo).
É uma história “anarquista-feminista” policial “com elementos de humor negro”. “Não é um filme abertamente político, mas fala sobre muitas questões políticas” de um governo polonês “anti-democrata, misógino e anti-ecológico”, que têm leis “não só contra animais, mas contra quem é contra caçar”, assim como “ciclistas, vegetarianos e ecologistas”. Sobre o povo polonês, ela disse: “Você tem metade do povo polonês que tem uma opinião diferente da outra metade”. Após a primeira sessão, de imprensa, foi vaiado.
O filme romeno é um discurso ativista reverberando Peta contra a caça de animais em um interior à moda de “True Detective” que não encontra humanidade em pessoas que veem estes seres animais como nada sem alma. Uma mulher excêntrica, aparentemente louca, professora de inglês e astróloga nas horas vagas, vive seu bucolismo na natureza até ser confrontada com seus princípios, desenvolvendo uma radical vingança pelas próprias mãos.
A paz só existe com guerra. Pessoal, egoísta e humanista. É um filme de momentos, subindo no discurso e descendo nos clichês, que muitas vezes não se conectam imediatamente, mas sim por detalhes pinçados, dando ao espectador a responsabilidade de os juntar pela interpretação irretocável da protagonista vivenciada pela atriz Agnieszka Mandat (como Duszejko).
Festival de Berlim 2017: “Pokot – Spoor”
Duszeiko, uma engenheira civil aposentada, vive em uma isolada aldeia montanhosa próxima à fronteira entre a Polônia e República Tcheca. Um dia, um de seus cães desaparece. Pouco tempo depois, ela encontra o cadáver de seu vizinho ao lado de pegadas de cervos. As mortes na região continuam, todas de forma igualmente misteriosas e com vítimas com perfis similares: todos eram pilares da comunidade da aldeia e caçadores apaixonados. Afinal, eles foram mortos por animais selvagens ou são vítimas de uma vingança sangrenta? Urso de Prata de melhor direção em Berlim 2017.
Agnieszka Holland nasceu na Polônia, em 1948, e estudou cinema em Praga. Foi colaboradora de Krzysztof Kieslowski no roteiro de sua trilogia das cores. Dirigiu filmes como Goraczka (Dzieje jednego pocisku) (Berlim 1981), O jardim secreto (1993), Eclipse de uma paixão (1995), Voltando para casa (Veneza e Toronto 2002), O segredo de Beethoven (Prêmio CEC em San Sebastián 2006) e Na escuridão (2011), indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro 2011.