Por Fabricio Duque
O filme “A Obra do Século”, do cubano Carlos Quintela, apresenta-se, acima de tudo, como uma metáfora da vida social da “terra” de Fidel Castro, ao “fugir” do já recorrente (quase cliché “folclórico”) cenário de Havana e “encontrar” a “cidade fantasma” (cuja locação “impulsionou a realização do filme”). Aqui, ambienta-se o futurismo concretista (cápsulas considerada a obra do século – construção da usina) com tomada aérea, imagens de arquivo, “astronautas”, paralelos entre foguete e a fumaça dos “exterminadores” da “dengue: uma praga que mata”. A narrativa em fotografia preto-e-branco (muito bem construída pelo húngaro-cubano Marcos Attila – e as únicas imagens coloridas vêm da televisão com o intuito de questionar o paralelo político-social e com o “peixe morto” – “o mundo em cor e os cubanos o olham granulado”), tendo no elenco não atores locais, é contada, por adjetivos definidores, em dezoito planos 235, “aprisiona” seus personagens na insatisfação resignada não esperançosa e no próprio tédio da casa (que beiram o confronto físico), cujo exterior é visto ao longe pela janela. É uma outra cuba. Um lugar esquecido, distante, esmo, quase “radioativo”, com “trogloditas violentos e problemáticos” e opiniões “enraizadas” de um “velho marombeiro” machista, preconceituoso e antiquado (“mulheres com mãos suaves são péssimas cozinheiras e sem carne não prestam”, “e eu prefiro cuidar da barriga”) de uma época passada, traduzida aqui por uma nostalgia atemporalidade (um computador antigo). Seus personagens falam “verdades” sem “papas na língua” em interpretações forçadas e artificiais (elemento este que incomoda em muito o “embarque” do espectador à trama). Quer ser estético e conceitual (estrutura documental, câmera na mão, intimista e subjetivo), como o fade da ópera continuada, mas o resultado soa ingênuo-amador, com gatilhos comuns “bobinhos”. Tenta-se a fábula “paradise” das pessoas da radiação de Chernobyl até os produtos de hoje. “A Obra do Século” é um filme de momentos soltos, de experimentações técnicas “saturando” o visual cubano, utilizando o “humor que faz parte da própria história” (definitivamente uma maestria do filme – a outra já foi comentada: sua fotografia). É pessoal, porque busca “partes de algo para se agarrar de certa maneira”. “O filme não é amargo, é essencialmente cubano, e retrata uma realidade de seguir em frente não importando as dificuldades”, diz o fotógrafo na coletiva de imprensa do Cine Ceará 2015. Um dos momentos mais inusitados é a música “tema”, que faz uma “releitura” do grupo Porno Para Ricardo para “Don’t Cry”, de Gus N’ Roses. “A música no final é para acordar o espectador que estivesse dormindo”, brinca o fotógrafo. Concluindo, um filme que merece ser assistido principalmente pelos “detalhes locais” dos atores locais (conhecidos nos anos setenta – que sabem muito da profissão e que se comportam com postura de “galãs” ao contar a história de três homens de uma mesma família que são obrigados a viver sobre o mesmo teto na Cidade Eletro-Nuclear, um empreendimento cubano e soviético ambicioso para construir a primeira usina nuclear, que ainda não foi concluído por sofrer com o fim da união Soviética. Otto (Mario Balmaseda) está obcecado com suas poucas posses materiais; já Rafael (Mario Guerra), seu filho, está desempregado e sem qualquer perspectiva de trabalho desde a construção da estação de energia interrompido. E por fim, o neto Leo (Leonardo Gascón) só voltou pra casa porque terminou com a namorada.
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Nota do Crítico
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