Mostra Um Curta Por Dia Marco mes 9

Gerontophilia

Panela velha é que faz comida boa

Por Fabricio Duque

Festival do Rio 2013

Gerontophilia

O diretor canadense Bruce LaBruce, com o intuito de suavizar o próprio estilo, que apresenta a característica de utilizar a pornografia, geralmente homossexual, como uma controversa revolução, realiza, em 2013, “Gerontophilia”, exibido no Festival de Veneza, e de Toronto, suprimindo aspectos mais sexualmente explícitos. O cineasta manteve o interesse em explorar tabus sexuais ao dramatizar um relacionamento inter-geracional entre um jovem e um idoso, mas optou por fazê-lo dentro de um filme que seria mais palatável e delicado ao grande público.

A expressão-título significa “amor sexual por idosos”, incluindo suas naturalidades fisiológicas. Mas nós não podemos julgar um amor e muito menos diminuí-lo com a definição de uma um fetiche. De uma fase. Quem saberá as infinitas possibilidades de nossas vontades e nossos gostos? Eu não gosto de cebola. Mas gosto de escargot. Vai entender! “Gerontophilia” é estrelado por Pier-Gabriel Lajoie (seu primeiro filme como ator), que interpreta Lake, um belo e atraente jovem de Quebec (que desperta desejos e olhares nas meninas de sua idade, entre adolescentes e quase adultas, além dos meninos), que apesar de estar em um relacionamento com uma garota, encontra-se atraído por homens muito mais velhos. O acaso dá a Lake a oportunidade de trabalhar em um centro de atendimento assistido para idosos, lugar que o adolescente começa um romance com o octogenário Melvyn (o ator Walter Borden).

A história desenvolve-se em um road-movie, a um ponto em que os dois saem em uma viagem pelo país, até que Lake decide resgatar Melvyn do péssimo tratamento que ele está recebendo na casa de repouso. Na apresentação prévia à exibição do filme no Festival do Rio, LaBruce disse que é uma forma de “ensinar um cão velho novos truques”, referenciando os anos setenta e se baseando em suas personagens, referenciadas à própria vida. O realizador disse também que ultimamente os atores escolhem papéis mais polêmicos e com maiores complexidades. Aqui, o ator de dezoito anos é heterossexual e o de oitenta e um, gay. “A química entre os dois era muito boa”, concluí.

A narrativa de “Gerontophilia” opta pela estrutura de congelar o tempo (um que do estilo Xavier Dolan) e explorar o corpo para gerar a sinestesia no espectador. Entre “Roubar lojas é revolucionário”; músicas Indie Rock dos Pixies; pintura Titanic; e “transformar o asilo em um paraíso das rugas” (pelo emprego dos sonhos), o roteiro caminha por detalhes típicos e explorados no universo de filmes pornôs, especialmente, por exemplo, quando mostra a organicidade de um fetiche propositalmente amador e ainda tosco. O amor “dele” (de nosso jovem mancebo – quase um ser evocado da Grécia Antiga à procura de sua paixão pelo seu “mentor” – sim, essa relação era mais que comum, até mesmo estimulada, nos tempos passados) é “estranho” (aos olhos julgadores de quem não entende os desejos) sempre passará por perdas e por limitações e por necessidades de “adequação”. “Gerontophilia” apresenta-se visualmente viciante, despretensioso, livre, passional e extremamente subjetivo. Além de trazer o tema polêmico do amor incondicional e peculiar de um garoto que sente prazer com a velhice. Com o corpo velho. Com o cheiro de velhos.

No Brasil, o ato da “Gerontophilia” ainda não é crime. Mas pelo Pastor Eurico é sim e se equivale a Pedofilia. Tanto que criou o Projeto de Lei 4162/21, que tipifica a prática tema deste filme como Crime Hediondo. Há anos essa “proposta” tenta ser arovada e nada, com uma pena prevista de reclusão é de oito a quinze anos. No Canadá, é liberado “em termos”, e o mesmo país da América do Norte liberou “parcialmente” também o sexo com animais. Para Lake, “panela velha é que faz comida boa”.

4 Nota do Crítico 5 1

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