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Elis

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A Encarnação de Elis Regina por Andréia Horta

Por Fabricio Duque

Durante o Festival do Rio 2016

“Elis”, do diretor, estreante em um longa-metragem, Hugo Prata, uma ficção cinebiográfica sobre a “maior cantora do Brasil”, a “fenomenal”, “confiante” e “estourada” Elis Regina (“que quando começa a cantar, o público vai à nocaute”, “que cantava melhor que Barbra Streisand”, que era “uma interprete de peito aberto, de voz heróica”, que cantou em Cannes, em Paris, no Festival de Música do Brasil, que não “tinha hora marcada para a loucura”), é acima de tudo, um filme de ator, de atriz, na verdade, pela interpretação “olhar” (expressões explosivas partem de seus olhos), magistral, magnífica, “sobrenatural”, sensorial, espontânea, naturalista, entregue sem limites, visceral, passional e fisicamente parecida (sem a caricatura de trejeitos) da atriz Andréia Horta (que desde do seriado “Alice” já mostrou seus dotes e “timbres” competentes, contundentes e arrebatadores) que encarnou quase literalmente a “entidade” homenageada (“Ela não morreu, vive na lembrança”), uma das mais importantes da história da música brasileira.

A narrativa precisa mergulhar no tom épico, a fim de dar conta de toda vida (da chegada ao Rio de Janeiro do Sul até sua “ida para cantar no céus”), gênero este bastante complicado de se traduzir em tela.“Elis” só não acerta, principalmente pelo roteiro preciso a três mãos (o próprio diretor, Vera Egito e Luiz Bolognesi), mesmo seguindo pela estrutura classista cinematográfica – mais como novela que cinema, como também emociona o público sem o artifício dos gatilhos comuns que costumam beirar ao clichê (da primeira parte – visto que o filme pode ser apresentado como dois: um sutil e pontual e outro – da parte final, um melodrama típico de uma novela mexicana que tenta ser pensada ao Oscar e ou ao público mais sentimental). Aqui, o espectador “ganha” uma ficção e um musical (devido às músicas famosas-icônicas – que despertam nostalgia-saudosista em quem assiste, como o videoclipe estilizado de “Como Nossos Pais”). Nós, contudo, precisamos voltar ao trabalho que a atriz protagonista realizou.

O filme acompanha a adolescência da artista, com as dificuldades financeiras (“banheiro no quarto sim, mas com água fria”) e os primeiros testes (com o pai “empresário”) para ter seu talento descoberto (por sua obstinação de “brigar” por seu lugar “ao sol” no lugar de Nara Leão, que era “a coqueluche do momento”), até a ascensão, incluindo o destaque na televisão, os envolvimentos amorosos, as controversas decisões tomadas durante a Ditadura Militar, as brigas com parceiros de trabalho e a dependência de drogas (para ficar mais “sensível”) e álcool (para “fugir” de sua recorrente “angústia”), que levaram à sua morte precoce. Sim, “Elis” é uma “Alice” que se tornou outra personagem de época nostálgica. A narrativa utiliza-se de elipses temporais para se desenvolver e pontua instantes. “Artista muda de ideia. Ainda bem”, diz e sorri exatamente, que chega a arrepiar o espectador por tamanha semelhança com Elis Regina.

Como foi dito, o final perde ritmo, fica desengonçado e “atirando” momentos “ao escuro”, buscando a obviedade visual pela câmera lenta, choros dramáticos, teatrais e de efeito. Mesmo assim, com toda tentativa de se auto-destruir, o mérito existe e é de Andréia Horta, que conecta os outros atores a seu redor. Concluindo, um filme arquitetado unicamente para que esta atriz brilhasse, encantasse e emocionasse com um preciso trabalho lapidado de interpretação.

3 Nota do Crítico 5 1

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