Curta Paranagua 2024

Escape From My Eyes

Não deixe este curta fugir de seus olhos

Por Fabricio Duque

Festival do Rio 2016

Escape From My Eyes

Uma das novidades do novo layout do Vertentes do Cinema é o espaço destinado às produções de curtas-metragens. Aos poucos, críticas-pílulas pulularão. Mas não podemos esperar mais e falar sobre “Escape From My Eyes”, do cineasta Felipe Bragança “Luíza Coração No Fogo” (que para quem não sabe foi o roteirista de “A Praia do Futuro”, de Karim Aïnouz). O curta média-metragem é mais um exercício experimental de surrealismo realista, que usa propositalmente o amadorismo estético a fim de se “apropriar” do público, e assim, discutir as questões sociais pelo viés de um retrato lúdico-burlesco.

O diretor sabe exatamente o que quer transmitir ao escolher a “estranheza” narrativa. A câmera estática do início ambienta e capta o cotidiano. “Escape From My Eyes” é sobre tudo que escapa aos nossos olhos (ou o que deixamos de ver por repetição visual). É sobre à margem da sociedade, os “errantes” que “estão no lugar errado na hora errada”, pensam aqueles que desejam “limpar etnicamente” (e “não ver mais”) a cidade-país em que vivem. Esses refugiados, imigrantes, vivem como índios na metrópole, em tendas na praça de Berlim, Alemanha.

“Fuja dos Meus Olhos”, sua tradução, incomoda por buscar a poesia concretista do próprio existir submundo, em som sensorial do perigo iminente, mesclando referências ao cineasta sueco Roy Andersson e ao francês Michel Gondry (a apatia e o carnavalesco), diz-se “Durante os ataques, eu sonho”. Entre o Deserto de Mali, em 2009; Finlândia; Gana; Burkina Faso, em 2011, e “fantasmas” personificados, o filme desenvolve seu conceito temático ao abordar deportação e as demolições de comunidades hippie europeias (barracos com geladeira).

O discurso é aprofundado e traz os “mortos”, a observação da “máscara de leão”, medos, anseios, tristezas, culpas, carências, invisibilidade, a necessidade de se acostumar com o novo lugar e a intolerância dos “olhos preenchidos do nosso deserto”. Eles são “seguidos” (e deixam) dividir suas vidas com o diretor em questão aqui, e “ganham” a contemplação de suas existências analisadas pela lente peculiar, única, livre e respeitosa de Felipe Bragança.

“Fuja dos Meus Olhos” é a possibilidade de questionar vidas, de ser solidário com os problemas reais de seres humanos, que cada vez são considerados mais animais e menos indivíduos sociais. Um média metragem de trinta e três minutos que corrobora a característica marcante de seu diretor e lança a semente da luz sobre estas pessoas que só recebem “fuga de nossos olhos”. “Escape From My Eyes”. Recomendado.

4 Nota do Crítico 5 1

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