Festival Curta Campos do Jordao

Crítica: Armas Na Mesa

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Todas as Armas de Jessica Chastain

Por Fabricio Duque

“Armas na Mesa”, tradução brasileira de “Miss Solane”, tinha tudo para ser mais um filme investigativo-político-armamentista-social americano sobre o tema polêmico de mudar as mentes de um povo ao combate e à regulamentação das armas na Indonésia e à campanha para atrair mulheres indefesas com o intuito de proteção, se não fosse a presença interpretativa “entidade mostro” de Jessica Chastain (de “A Hora Mais Escura” – tanto que aqui foi indicada à categoria de Melhor Atriz no Globo de Ouro e esnobado no Oscar, os dois deste ano de 2017 – e um comentário-parênteses altamente subjetivo: é incrível como lembramos das sutilezas empregadas por Karine Teles em seus papéis – será que alguma se espelhou na outra?).

A atriz encarna Elizabeth Sloane, uma das lobistas mais poderosas dos Estados Unidos, conhecida por usar uma série de estratégias ilegais (e definições politicamente incorretas, incluindo “chantagear senadores” e esperar com firmeza a condição colateral) para atingir os seus objetivos e por “jogar para surpreender”, questionando o elemento ético dos “fins que justificam os meios”. E por isso foi pega para “crucificação”, como um “Cristo” ou para a “fogueira” como uma Joana d’Arc, tudo por causa de seus jogos, de suas brincadeiras-picardias, pela expressiva sinceridade em não suavizar nada e ninguém, por ser direta, arrogante, uma “peça-rara”, “desprezível”, feminista, não convencional, viciada em trabalha, seca, perspicaz, “pedante”, sarcástica, adjetivada, ambiciosa, imprudente, cínica, por suas “opiniões fortes”, prática, elegante, confiante demais, inteligente, determinada, enérgica, impositiva, imponente, altiva em suas decisões cirurgicamente desenhadas, excessivamente lógica, por seu amplo conteúdo para assim “conhecer seu inimigo” (de Sócrates a Lucas 14:10), por sua reputação, por sua insônia crônica, consequência de sua ansiedade, por contratar serviços sexuais (apenas uma “necessidade básica” – “dinheiro por aptidões sexuais”) para que não tenha relacionamentos que possam prejudicar seu trabalho, pelos psicotrópicos estimulantes, por, muitos momentos, lembrar as ideias de Hillary Clinton, e por ser um “peixe pequeno brigando com os tubarões” (tipo um “House of Cards nacionalista”). Trocando em miúdos, Miss Solane é um “Steve Jobs de saia”, uma “Miranda” de “O Diabo Veste Prada”, uma “007 James Bond”, um “robô” sem emoção, criada para o bem-social como um soldado e seu “dever com a causa”, e “contratada para ganhar”. “Samuel Colt criou os humanos iguais”, diz-se.

A narrativa, de verborragia técnica, com sua câmera próxima que nos insere como acompanhantes passivos, comporta-se tipicamente pela estrutura mais americanizada (com suas frases de efeito e seus gatilhos comuns já característicos deste gênero), potencializando a essência nacionalista pelo viés constitucional, principalmente da Segunda Emenda e da Quinta Emenda, que posterga interrogatórios e é dotada de um liberdade salvadora. Aqui, não se busca mudar leis de imediato, mas interferir na adequação (convencendo deputados a votar contra as armas) de um novo estágio comportamental-social por argumentos bilaterais pela forma “advogado do diabo” do circo-espetáculo midiático que esta sociedade aprendeu a conviver e aceitar como inquestionável. “É um sistema tão poroso que flutua lutar pelo desarmamento”, diz-se. Um dia, é abordada para apoiar a bancada mais poderosa do congresso americano: os senadores pró-armas. Contrária à ideia, ela pede demissão e passa a trabalhar para o lado oposto, na intenção de conseguir leis mais rígidas para o porte de armas. Sloane começa a sofrer um série de ameaças pessoais e profissionais, e começa a questionar os seus limites dentro desta profissão.

O conflito, pelo artifício da tensão, se dá basicamente pela ambiência à moda de “A Firma”, livro de Thriller investigativo de John Grisham, que nos créditos finais é explicitado sua base, e sistematicamente trabalhado (sozinho) pelo roteirista Jonathan Perera e pela condução “entretenimento para adultos” de seu diretor britânico John Madden (de “Shakespeare Apaixonado”, “A Prova”, “Sua Majestade, Mrs. Brown”, “O Capitão Corelli”, “O Exótico Hotel Marigold”). “O que é isso, Jerry Maguire?”, alfineta-se. E como todo bom acaso, que não se pode fugir, há momentos para Miss Solane que fogem do controle e o filme nos manipula a creditar de que este “monstro” ficou humana. Ela “nunca sabe onde o limite está” e reverbera o ditado japonês que diz que “o prego que se destaca é martelado”. Mas “fazer o que?”. “Só tenho isso”, diz.

“Armas na Mesa” desenvolve-se com calma e competência, e surpreende o espectador (como um xeque-mate), completamente no final, com uma “vingança” sórdida, nua, crua e fria do “aniquilamento reduzido à nada”, rebatendo com as mesmas “falhas brechas” de um “sistema podre que ajuda ratos”. Tudo por causa de seu discurso que caminha à redenção, porém termina em um apoteótico show salvador de impecável “habilidade de previsão”. Ela surpreende e somos surpreendidos a um póstumo “mercado negro de brilho labial”. Miss Solane é a representação máxima nacionalista de se dar a própria vida pelo país. Concluindo, um trabalho irretocável de Jessica por um roteiro com jeito de Hollywood mas com a competência certeira de se distinguir da “normalidade” ululante, e pelo elenco coadjuvante, com destaque a Mark Strong, John Lithgow, Michael Stuhlbarg, Gugu Mbatha-Raw, Alison Pill e Jake Lacy. Recomendado.

4 Nota do Crítico 5 1

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