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Crítica: Amor Pleno
A Continuação Sem Conflitos de Árvore da Vida

Por Fabricio Duque

Não devemos julgar a vontade que um cineasta tem de repetir o sucesso de sua obra anterior, mesmo quando falamos de Terrence Malick. É inegável a competência autoral do diretor de “A Árvore da Vida”, mas é permitido o deslize da crença no que se está realizando no momento. O novo filme “Amor Pleno” vem da tradução de um trecho que diz “Quando escalamos uma montanha, vamos ao estágio da maravilha (wonder)”. Malick construiu uma carreira pelo viés independente e pela experimentação, tanto da técnica cinematográfica, quanto da narrativa. E é conhecido por escalar atores famosos, que na maioria das vezes só aparecem em pequenos papéis, como “Além da Linha Vermelha”. Desta vez,  trabalha com Ben Affleck (de “Argo”), Javier Bardem (de “Onde os Fracos Não Tèm Vez”), Rachel McAdams (de “Meia Noite em Paris”), Olga Kurylenko (de “Oblivion”), que estão em voga na mídia. Podemos confirmar que é extramente difícil reproduzir uma obra-prima com outra obra-prima. Aqui, “Amor Pleno” busca conservar as mesmas características de “A Árvore da Vida”. Há narração existencialista, instantes fragmentados como linguagem de videoclipe, imagens epifânicas da melancolia dos personagens, câmera live-action (sendo um 3D sem óculos e buscando a sinestesia de que assiste – como se estivéssemos presentes em tempo real); narrativa em planos detalhes e não convencionais – às vezes assimétricos; e trilha sonora que conduz sem manipular. A fragmentação exacerbada apenas conta a história. Deseja-se permanecer na superficialidade. Não busca o aprofundamento do espectador, este que chega à metade do filme o achando sem sentido e recorrentes gatilhos comuns. Talvez seja pelos excessivos cortes e ou pela falta de “química” dos personagens. Observamos cenas em elipses temporais que não chegam a lugar algum, cansando até mesmo o fã mais radical do diretor Terrence Malick. A fotografia de Emmanuel Lubezki (também de “A Árvore da Vida”) é um caso à parte. Elegante, ensolarada, personificando  pelo elemento live-action (sobretudo a natureza – que tem um papel essencial nas narrativas do diretor), quase interativa (zoom que aproxima como personagem), contemplativa, intimista, cósmica, recheada de luz e sombras, atinge o estágio transcendental da perfeição visual. O roteiro tenta transpassar naturalidade das ações e reações, como as preliminares do ato sexual (detalhando o corpo do Ben Affleck). Manipulação midiática (comercial) ou cena artística (cult)? Nem um, nem outro. O que se procuro é o meio termo, porém não consegue o resultado satisfatório. E quando menos se espera, eis que aparece o lado “biólogo” de Malick, retratando, em narração existencial, a vida marinha  como um programa da National Geographic (desta vez em versão de menor duração). Por incrível que pareça, é sempre a melhor parte. Tenta-se também incluir núcleos narrativos demais, perdendo-se no desenvolvimento destas tramas. Personagens vêm e vão (a filha, o padre que duvida da própria “profissão”, o “suposto” amante, a amiga e pessoas comuns idosas e jovens – não atores – dando voz aos próprios problemas – de doenças – ou clichês, como a Bíblia jogada no chão), sem explicações, expressando-se em francês, inglês, espanhol e italiano. “Em um sonho, você não pode cometer erros. A Vida é um sonho”, diz a amiga extrovertida. A ideia de se saber amar é transposto à tela oscilando entre ingenuidade, pretensão artística e indução sentimental da realidade cruel. Definitivamente, o que mais incomoda é a total incomunicabilidade  e da ausente conexão por parte do casal principal, criando-se a apatia, mesmo com brincadeiras particulares, idiossincrasias típicas, ações de infantilidade patética – e hiperativa – e reações incompatíveis – não críveis – com o momento (brigas, birras e afins), gerando a incredulidade da narrativa. Tanto faz eles ficarem juntos ou não, pensa assim o espectador. Durante, entendemos a condução da trama. Uma mulher que duas mulheres dentro de si: uma que ama muito e a outra que quer fugir do homem que escolheu. Há o ditado popular que diz que a continuação fílmica, na maioria das vezes, não satisfaz positivamente. Concluindo, mesmo com os contras, o espectador precisa assistir ao filme por causa da parte técnica, especificamente fotografia e câmera (as melhores personagens). E porque Malick é sempre Malick. Em 2012, ganhou o prêmio Signis Award e foi indicado ao Leão de Ouro no Festival de Veneza.

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