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Crítica: A Alegria de Emma
“Quando eu planejo um filme, há dois níveis para mim, entretenimento e o efeito terapêutico. Se minha história maluca de amor sobre a morte obriga as pessoas a se abrir para o tema, eu alcancei o meu objetivo. Eu gosto de definir referências, incitar e formular anseios. As pessoas anseiam por um filme que as agarrem e as sacudam. Metáforas parecem mais apropriadas para mim do que eventos reais”, disse o diretor Sven Taddicken. 
Por Fabricio Duque
“A Alegria de Emma” ratifica as características do típico cinema alemão contemporâneo, que por sua vez, abriga-se no clássico. A trama é simples, fluida, seca, direta, objetiva, humanizada e mitigada de manipulações sentimentais. Seus personagens não são maniqueístas. Um “vê” o outro, respeitando a essência da individualidade e a sinceridade ingênua (compreendida mesmo que se tenha que mentir). A narrativa mescla edição ágil (cortes “videoclipes”) do início (quase uma novela por induzir paralelismos de iminentes acontecimentos) com tempo construído do desenvolvimento ao final. “Somos animais com costumes”, diz-se entre uma ressonância magnética e uma morte “sensível” do porco. O protagonista “doente” repensa sua vida tediosa e de mesmices, e, estimulado pelo médico de “seguir uma vida normal”, toma decisões drásticas e “terminais”. Intercalando a cidade (Max) e o campo (Emma), o caixa dois no aquário e o banco da bicicleta desregulado que se transforma em um vibrador, o roubo do dinheiro e o quase certo leilão da fazenda, um e outro são unidos pelo acaso do acidente de carro, gerando assim a alegria de Emma. É impossível não se lembrar de “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain”, de Jean-Pierre Jeunet, por causa de sua fotografia “animada-realista” de cores vivas, pelo acaso que ajuda a encontrar dinheiro e um amor. Emma faz “tudo para ficar com ele”. O filme, baseado no romance homônimo “Emmas Glück” (no original) de Claudia Schreiber (co-roteirista) e dirigido pelo alemão Sven Taddicken, busca a estilização em certas cenas, como a do acidente, em câmera ultralenta, quase microscópica. A situação “incomum”, extremamente crível e possível, permite o próximo passo da trama abordada e a “implosão” da vida antiga (desordem) para que a nova seja reconstruída (organização em “ordem alfabética”). Ele arruma a casa. Ela veste-se melhor. Ele cozinha. Ela cede. Ele aceita. Ela também. Ele resolve “pendências”. Ela cuida. Ele pede. Ela faz. É a fábula realista do amor puro (não tradicional e sem fantasias “Disney de ser”) na “saúde e na doença” que transforma Enmma Struwe (Jördis Triebel, de “Anônima – Uma Mulher em Berlim”), de solitária, endividada, órfã, de personalidade difícil, que usa o rifle para se proteger e que tem um policial apaixonado (Hinnerk Schönemann, de “O Pacote Completo”, “Yella”) por ela em uma mulher apaixonada, sensual, decidida, tolerante, tudo por causa de Max Bien (Jürgen Vogel, de “Stereo”, “A Onda”, “Adeus, Lenin”).  O longa-metragem, de 2006, reestreou no Cine Joia (visto que estreou em 3 de outubro de 2008), e se utiliza da tensão natural das ações da vida de seus personagens para conduzir a atenção de seu público até o final equilibrado, despretensioso, fidedigno com a proposta inicial, divertido, emocionante e livre de gatilhos comuns melodramáticos por incluir “vômitos” em momentos extremamente românticos e por desfechos trágicos, já esperados, mas com desconforto suavizado. Um grande filme, não pela duração e sim por seus triunfos. Recomendo. 

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