Balanço Geral e Vencedores do 56º Festival de Brasília 2023
“Mais um Dia, Zona Norte” é eleito o melhor filme do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro 2023
Por Pedro Sales
Os vencedores do 56º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, evento cinematográfico mais tradicional do país, foram anunciados neste sábado (16) em cerimônia no Cine Brasília. “Mais um Dia, Zona Norte“, de Allan Ribeiro, venceu o troféu Candango de melhor longa-metragem pelo júri oficial da Mostra Competitiva Nacional, formado por Alex Vidigal, Cibele Amaral, Elisa Lucinda, Marco Altberg e Priscila Tapajowara.
Além do maior prêmio da noite, o filme carioca ainda arrebatou mais seis prêmios: atriz e ator coadjuvante, para Valéria Silva e Victor Veiga; menção honrosa para o ator Silvio Fernandes; trilha sonora, para Allan Ribeiro e Tibor Fittel; prêmio Abraccine de melhor longa e prêmio Like, no valor de R$ 50 mil para o longa vencedor do Candango de melhor longa-metragem.
Eleito melhor longa-metragem da Mostra de Cinema de Gostoso 2023, “O Dia que Te Conheci” venceu na capital federal quatro prêmios, dois pelas atuações de Grace Passô e Renato Novais, um pela direção de André Novais de Oliveira e o outro foi o prêmio Zózimo Bulbul de melhor filme, entregue para filmes que “têm o corpo negro na frente e por trás das câmaras”. Enquanto o longa mineiro foi destaque para o público do Rio Grande do Norte, em Brasília “Cartório das Almas” venceu o prêmio do júri popular. A produção brasiliense ainda levou melhor direção de arte e edição de som.
Por fim, ainda na Mostra Competitiva Nacional, “A Transformação de Canuto” também foi premiado, venceu fotografia, direção, para a dupla Ariel Kuaray e Ernesto de Carvalho, e roteiro de temática afirmativa. Enquanto o documentário “No Céu da Pátria Nesse Instante” levou melhor montagem e o Prêmio Especial do Júri. Dos longas exibidos na categoria, apenas “Nós Somos o Amanhã” não recebeu troféu Candango algum.
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Em relação aos curtas-metragens, os principais vencedores na Mostra Competitiva Nacional foram: “Pastrana” e “Vão das Almas“. A primeira produção, do Rio Grande do Sul, foi eleita a melhor pelo júri oficial, composto por Ana Arruda, Anna Luiza Muller, Leticia BIspo, Ana Caroline Brito e Preta Ferreira. O curta dirigido Melissa Brogni e Gabriel Motta explora memórias e a atividade do skate em modalidade downhill, em que o atleta desce ladeiras em alta velocidade. “Vão das Almas”, curta de terror-folclórico dirigido por Edileuza Penha de Souza e Santiago Dellape, foi considerado o melhor pelo público.
Na Mostra Brasília, “Rodas de Gigante” e “Não Existe Almoço Grátis“, foram os principais destaques, vencendo o prêmio de melhor longa-metragem do júri oficial e do júri popular, respectivamente.
POLÊMICA NO ENCERRAMENTO DO FESTIVAL
Como é de costume em festivais de cinema, antes de se iniciar a competição, isto é, os filmes que disputam prêmios, um longa de abertura é exibido. Da mesma forma, quando a competição se encerra, há um filme de encerramento. Inicialmente previsto para este sábado o filme de encerramento do evento, o documentário “Raoni – Uma Amizade Improvavél“, teve a exibição cancelada pela organização do Festival de Brasília.
Na sexta-feira (15), segundo o jornal Correio Braziliense, a agência de notícias Associated Press publicou uma matéria em que o cacique Raoni, protagonista da obra, acusou o diretor Jean-Pierr Dutilleux de reter o dinheiro de produções anteriores entre os dois somente para si. Em relação a acusação, o cineasta rebateu dizendo que o líder “diz besteiras por causa da idade”.
“Tendo em vista os recentes acontecimentos envolvendo o diretor do filme Raoni – Uma Amizade Improvável, a direção do 56º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro decidiu cancelar sua projeção na sessão de encerramento da edição, às 16h deste sábado (16). Às 21h, o Festival de Brasília realiza a tradicional cerimônia de premiação das Mostras Competitiva Nacional e Brasília, no Cine Brasília.”, disse a organização do festival em nota.
O BALANÇO GERAL
O Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, além de ser inegavelmente o mais tradicional do país, é também o mais politizado. O principal fator para isso é estar no berço da política brasileira. Pouco menos de dez minutos de carro separam o Cine Brasília, onde acontece o evento, da Esplanada dos Ministérios. Esse caráter tornou-se bastante evidente no primeiro dia da Mostra Competitiva Nacional. “No Céu da Pátria Nesse Instante”, documentário que retrata diferentes realidades durante as eleições de 2022, teve manifestações enérgicas, de gritos a vaias, aplausos a choros.
Figuras públicas como ex-deputado federal e atual presidente da Embratur Marcelo Freixo, o fotógrafo da Presidência da República, Ricardo Stuckert, e o advogado Kakay, que já representou Paulo Maluf, estavam na plateia. Se eles também se inflamaram com o filme de Sandra Kogut, não saberia dizer. Fato é que o público se engajou com a obra, como torcida de futebol, o que ressaltou uma constatação do longa: política é paixão. Na Mostra Brasília, “Não Existe Almoço Grátis”, que retrata o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) também acessou a politização do público brasiliense.
Outro fator muito caro ao festival é a preocupação com temáticas sociais. “Nós Somos o Amanhã”, com a pauta LGBT, “O Dia que Te Conheci”, com a representação negra, e a “Transformação de Canuto”, que é uma obra indígena. Sobre “Mais um Dia, Zona Norte”, grande vencedor da noite, apesar de eu não tê-lo visto – infelizmente -, evidencia em seu próprio nome questões de desigualdade associadas ao espaço geográfico.
Seguindo outra tradição do Vertentes do Cinema na cobertura dos festivais, convém-se apontar quem seria o vencedor na visão do crítico. Na minha avaliação, lembrando que não vi o vencedor, “O Dia que Te Conheci” é a obra mais concisa e potente das selecionadas. André Novais Oliveira constantemente evoca o realismo por meio de situações cotidianas e, ao se valer do rotineiro, acessa o público por meio da identificação. Afinal, quem nunca teve que correr atrás do ônibus, ou contou mentiras de sono? Além da proximidade estabelecida com o espectador pelo verniz realista e cotidiano, Renato Novais e Grace Passô estão em perfeita sintonia, com diálogos muito bem escritos que evidenciam entre eles semelhanças – poucos negros na escola onde trabalham – e o florescimento do amor nos tempos dos antidepressivos.
CONFIRA A LISTA COMPLETA DOS VENCEDORES DO 56º FESTIVAL DE BRASÍLIA DO CINEMA BRASILEIRO 2023
MOSTRA COMPETITIVA NACIONAL LONGAS | Troféu Candango
Melhor LONGA-METRAGEM Júri Oficial
MAIS UM DIA, ZONA NORTE, de Allan Ribeiro
Melhor LONGA-METRAGEM Júri Popular
CARTÓRIO DAS ALMAS, de Leo Bello
Melhor DIREÇÃO
ARIEL KUARAY ORTEGA E ERNESTO DE CARVALHO, por A Transformação de Canuto
Melhor ATOR
RENATO NOVAIS, por O Dia Que Te Conheci
Melhor ATRIZ
GRACE PASSÔ, por O Dia Que Te Conheci
Melhor ATOR COADJUVANTE
VICTOR VEIGA, por Mais Um Dia, Zona Norte
Melhor ATRIZ COADJUVANTE
VALERIA SILVA, por Mais Um Dia, Zona Norte
Melhor ROTEIRO
ANDRÉ NOVAIS OLIVEIRA, por O Dia Que Te Conheci
Melhor FOTOGRAFIA
CAMILA FREITAS, por A Transformação de Canuto
Melhor DIREÇÃO DE ARTE
MAÍRA CARVALHO, por Cartório das Almas
Melhor TRILHA SONORA
ALLAN RIBEIRO E TIBOR FITTEL, por Mais Um Dia, Zona Norte
Melhor EDIÇÃO DE SOM
OLIVIA HERNANDEZ, por Cartório das Almas
Melhor MONTAGEM
RENATA BALDI E SANDRA KOGUT, por No Céu da Pátria Nesse Instante
Melhor ROTEIRO DE TEMÁTICA AFIRMATIVA
ARIEL KUARAY E ERNESTO DE CARVALHO, por A Transformação de Canuto
PRÊMIO ESPECIAL DO JÚRI
NO CÉU DA PÁTRIA NESSE INSTANTE, de Sandra Kogut
MENÇÃO HONROSA
SILVIO FERNANDES Mais Um Dia, Zona Norte
MOSTRA COMPETITIVA NACIONAL CURTAS | Troféu Candango
Melhor CURTA-METRAGEM Júri Oficial
PASTRANA, de Gabriel Motta e Melissa Brogni
Melhor CURTA-METRAGEM Júri Popular
VÃO DAS ALMAS, de Edileusa Penha e Santiago Dellape
Melhor DIREÇÃO
GG FÁKÒLÀDÉ, por Remendo
Melhor ATOR
ELÍDIO NETTO, por Remendo
Melhor ATRIZ
JHONNÃ BAO, por Erguida
Melhor ROTEIRO
CATAPRETA, por Dona Beatriz Ñsîmba Vita
Melhor FOTOGRAFIA
PEDRO RODRIGUES, por Helena de Guaratiba
Melhor DIREÇÃO DE ARTE
CARMEN SAN THIAGO, por Cáustico
Melhor TRILHA SONORA
DJ MACHINTAL, por Helena de Guaratiba
Melhor EDIÇÃO DE SOM
DAVID NEVES, por Axé Meu Amor
Melhor MONTAGEM
BRUNO CARBONI, por Pastrana
Melhor ROTEIRO DE TEMÁTICA AFIRMATIVA
JHONNÃ BAO, por Erguida
MENÇÃO HONROSA
CIDADE BY MOTOBOY, de Mariana Vita
VÃO DAS ALMAS, de Edileuza Penha de Souza e Santiago Dellape
MOSTRA BRASÍLIA | 25º Troféu Câmara Legislativa
Melhor LONGA-METRAGEM Júri Oficial
RODAS DE GIGANTE, de Catarina Accioly
Melhor CURTA-METRAGEM Júri Oficial
INSTANTE, de Paola Veiga
Melhor LONGA-METRAGEM Júri Popular
NÃO EXISTE ALMOÇO GRÁTIS, de Marcos Nepomuceno e Pedro Charbel
Melhor CURTA-METRAGEM Júri Popular
NADA SE PERDE, de Renan Montenegro
Melhor DIREÇÃO
CATARINA ACCIOLY, por Rodas de Gigante
Melhor ATOR
THALLES CABRAL, por Ecos do Silêncio
Melhor ATRIZ
ROBERTA RANGEL, por Instante
Melhor ROTEIRO
ROBERTA RANGEL, PAOLA VEIGA e EMANUEL LAVOR, por Instante
Melhor FOTOGRAFIA
KRISHNA SCHMIDT E ANDRÉ CARVALHEIRA, por Ecos do Silêncio
Melhor DIREÇÃO DE ARTE
JOÃO CAPOULADE, JULIET JONES E SARAH GUEDES, por O Sonho de Clarice
Melhor TRILHA SONORA
CESAR LIGNELLI, por O Sonho de Clarice
Melhor EDIÇÃO DE SOM
FERNANDO VIEIRA E FRANCISCO VASCONCELOS, por O Sonho de Clarice
Melhor MONTAGEM
SÉRGIO AZEVEDO, por Rodas de Gigante
Menção Honrosa do Júri
ESTRELA DA TARDE, de Francisco Rio
NADA SE PERDE, de Renan Montenegro
NÃO EXISTE ALMOÇO GRÁTIS, de Marcos Nepomuceno e Pedro Charbel
PRÊMIOS ESPECIAIS
Prêmio Zózimo Bulbul
entregue pela Associação dos Profissionais do Audiovisual Negro (Apan) e pelo Centro Afrocarioca de Cinema para os filmes que têm o corpo negro na frente e por trás das câmaras e pela inovação estética e narrativa na abordagem de subjetividades negras
Melhor curta-metragem: ERGUIDA, de Jhonnã Bao
Melhor longa-metragem: O DIA QUE TE CONHECI,de André Novais
Menção Honrosa: A CHUVA DO CAJU, de Alan Scharvsberg
Prêmio Abraccine
entregue pelo Júri da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine)
Melhor longa-metragem: MAIS UM DIA, ZONA NORTE, de Allan Ribeiro
Melhor curta-metragem: REMENDO, de GG Fákọ̀làdé
Troféu Saruê
entregue pela equipe do Correio Braziliense para o melhor momento, filme ou personalidade no Festival de Brasília
RODAS DE GIGANTE, de Catarina Accioly
Prêmio Canal Brasil
entregue pela emissora para o melhor curta-metragem, que passará a integrar a grade de programação do canal
PASTRANA, de Gabriel Motta e Melissa Brogni
Prêmio Like
prêmio em dinheiro, com apoio de mídia e publicidade em veiculação entregue pela emissora ao filme reconhecido como melhor longa-metragem pelo Júri Oficial
MAIS UM DIA, ZONA NORTE, de Allan Ribeiro