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Amador

Um estudo adjetivado da arte cinematográfica

Por Fabricio Duque

Amador

“Amador” é um estudo adjetivado da arte cinematográfica, utilizando a metalinguagem a fim de dissecar os elementos fílmicos e as dúvidas existenciais inerentes ao processo de criação. O novo filme do diretor Cristiano Burlan (de “Mataram Meu Irmão” e “O Homem da Cabine”) analisa a estrutura diletante, desafiadora e mágica da procura de um rosto para o filme de seu personagem alterego. Filosofa-se entre o documentário e a ficção, buscando a naturalidade simples da não interpretação e expondo o mais intrínseco do próprio ser. Assim, o protagonista embarca na “aventura” pretensiosa da perfeição visual, experimentando narrativas interativas (a Nietzsche, Clarice Lispector, Sam Shepard, entre outras), que referenciam a outros cineastas (Robert Bresson, Henri-Georges Clouzot, Rogério Sganzerla, Glauber Rocha, Tomás Gutiérrez Alea e ao próprio filme de Burlan o “Homem da Cabine” – documentário sobre o projecionista Claudemir Santos e a imagem que é refletida no chão vinda da sala de exibição); a outras ideias e ensinamentos (com entrevistas ao teórico do cinema Jean-Claude Bernardet – também ator em “O Homem das Multidões”, de Marcelo Gomes e “Periscópio”, de Kiko Goifman); tentando planos, luzes e câmeras 8mm para manipular o espectador entre a verdade que se apresenta em tela (estilo Eduardo Coutinho) e a representação do conteúdo abordado.

É amador porque ama intensamente seu trabalho, explorando possibilidades de se filmar, e vivenciando o medo quase covarde da quase desistência, assim como a pressa dos produtores – que incomoda e poda a criatividade inspirada. Não há tempo para construção. E é por esse caminho que o longa-metragem percorre. Mostrando elipses do processo: o teste de escolha do elenco (ora em árabe, ora tendo pai-nosso em aramaico – aprendido no monastério, ora declamando Fernando Pessoa, ora com música “The movie is over” em inglês); a preparação de elenco; os testes de câmera; o desenho de som. Também, não se quer deixar o espectador confortável, no filme da trama, e sim fazê-lo ativo,  mitigando a passividade cômoda no momento da absorção. Inicia-se com a sôfrega solidão de um instrumento musical (lembrando “Os Monstros”, da Alumbramento Filmes), seguido por uma narração de paixão incondicional de um cineasta, amargurado, desgostoso e frustrado, por causa das obras que ninguém viu e pelo fim de um relacionamento, cuja “obsessão é encontrar um rosto como paisagem”. “Filmar para ele é uma necessidade, lhe restam poucas opções”. Não é fácil a vida de um realizador de cinema. “É possível que toda obra seja um ato de resistência? Como ser superficial por profundidade? Como achar nas antíteses a poesia?”, questiona-se. O monólogo no preâmbulo libera a responsabilidade do resultado, já que se apresenta “amador” à verborragia desta criação contestadora, abrigando digressões “livres” de outros processos criativos.

“Amador” procura o simples, o puro, o cinema raiz, o vinil com aquele ruído característico, a imagem, descomplicar de forma metafísica, traduzir personificações/sinestesia e conservar o amor latente da cinefilia. “O que é o cinema?”, pergunta-se. Não há resposta. Conseguimos explicar o físico, o técnico, mas a consequência emocional é complexa demais para definir. Ama-se o amador, talvez pela falta de completude no contexto. Concluindo, “Amador” é um filme autobiográfico, de um diretor que “estava com crise com o cinema” e que brinca que “este é o seu “Oito e Meio”, de Frederico Fellini”. Apaixonados pela sétima arte ou meros espectadores percebem referências cinematográficas, que pululam e que geram outras inferências, não muito explícitas, como por exemplo, a “Amador”, de Krzysztof Kieslowski e a “Super 8”, de J. J. Abrams.

4 Nota do Crítico 5 1

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