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Mate ou Morra

Algoritmo falha novamente

Por Vitor Velloso

Mate ou Morra

Frank Grillo, Naomi Watts e Mel Gibson se juntam à Joe Carnahan para fazer um dia da marmota com tiros, explosões e sangue digital. “Mate ou Morra” chega ao Brasil como um dos candidatos à bomba do ano. Hollywood utiliza-se dos algoritmos para rastrear maiores lucros e acaba fazendo umas patacoadas inacreditáveis. A escolha de Carnahan para a direção mostra que não existia grande certeza do sucesso do filme, aliás o mesmo diretor já assinou “Esquadrão Classe A” e “A Última Cartada”, duas grandes porcarias industriais que caíram no colo do cineasta.

O maior problema aqui não é nem a ideia, que utiliza uma série de clichês de sucesso dos últimos anos na esperança de conseguir algum entretenimento barato, e dar um bom retorno para os produtores, mas sim que nada funciona. As desesperadas tentativas de criar humor em repetições constantes está datada há algum tempo e Frank Grillo pode até transmitir essa sensação de um cara imortal, pronto para estraçalhar o primeiro capanga que cruzar seu caminho, só que o provável carisma no estereótipo da grande indústria é insuficiente. “Mate ou Morra” tenta brincar com a ideia da “gamificação”, tão defendida por alguns, e encontra um obstáculo grande: fazer um longa parecer um jogo enquanto assume toda sua tosqueira tentando conciliar o caráter machão com a comédia e uma trama de ficção científica sem pé nem cabeça. O resultado na mão de Carnahan não poderia ser muito diferente. Talvez na mão de um Stahelski existisse alguma esperança aqui, mas quem iria querer meter a mão em um projeto com tudo para dar errado?

Veja bem, “Free Guy” tá circulando por aí, com um aparato de marketing funcionando à todo pixel, teve até exibição em Locarno (fora da competição), o que nos leva a analisar os produtores e estúdios envolvidos, a quantidade para “Mate ou Morra” chama atenção e leva ao questionamento: a grande quantidade de nomes só queriam uma fatia desse montante ou assinaram juntos por um desespero de descarte coletivo? De toda forma, é só uma pergunta irrelevante para um resultado abaixo do medíocre.

Até as cenas que funcionam brevemente, quando repetidas na intenção de criar um dinamismo na narrativa, empaca o negócio todo e a sensação é que nem os próprios roteiristas Joe Carnahan (envolvido no roteiro do último Bad Boys), Eddie Borey e Chris Borey (que juntos trabalharam no terrível “Tumba Aberta”) sabiam o que estavam fazendo. Deuses, máquinas absurdas, Mel Gibson e destruição mundial fazem parte de uma sala mal temperada e que deixa um amargor terrível em seu fim, já que são quase duas horas de projeção, com uma mesmice chatíssima e com a sensação de que não existe um propósito nessa baboseira de transar com os videojogos. O dispositivo é tão frágil que já nos minutos iniciais, o espectador está cansado dessa narração irônica, sempre com diálogos expositivos e tentativas esdrúxulas de fazer humor pelo looping. Se na primeira vez não foi engraçado, na segunda não será, imagina mais de quinze vezes.

Quanto mais avança “Mate ou Morra”, menos empolgante a trama fica e tudo passa a seguir a protocolar jornada do herói, ou seja, o algoritmo falha até na tentativa de bagunçar um pouco esse padrão, pois repete o ciclo na intenção de aumentar o engajamento, objetivando uma série de piadas prontas, entre elas algumas racistas, com Mel Gibson com a fala. E quando tudo parece perdido, piadas envolvendo a necessidade de “esquecer o passado” ou “reconstruir o passado”, transam diretamente com a ideia de um dos personagens citados no longa, Hitler, aquele mesmo, que teve parte dos seus cientistas trabalhando para o império norte-americano após o fim da Segunda Guerra. Consciente ou não, o filme até relembra o público da problemática do passado, mas repete os clichês mais batidos do século em um bololô de Osíris à Street Fighter.

1 Nota do Crítico 5 1

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