Confira nosso Balanço do Festival Ecrã 2021
Balanço e Análises da edição online da Festival Ecrã 2021
Por Vitor Velloso
O Festival Ecrã possui uma identidade facilmente reconhecida, as obras experimentais e/ou existenciais se unem para dar lugar a um espaço de trocas majoritariamente sensoriais. James Benning, figura carimbada do festival, retorna ano após ano para tentar levar alguns limites do digital à frente na cadeia de produção de certos racionalismos. Mas a curadoria dá conta de sacramentar alguns irracionalismos contundentes do cinema norte-americano e europeu, com os franceses na ponta de lança.
Assim, facilmente quem acompanhou os dias que o Ecrã (acesse o site) estava na ativa, percebeu algumas similaridades entre certas formalizações de ideias que eram ali exibidas ou mesmo com algumas recorrências da experimentação cinematográfica que não conseguiram sair do imbróglio do fim dos anos 80, alertado por Glauber ainda no final de 60 e por Godard na década seguinte. É um beco sem saída de uma intelectualidade que pouco produz e muito reproduz no velho continente. De toda forma, as múltiplas sensações catalisadas ao longo dos dias, geraram debates curiosos nas redes sociais que se movimentaram em torno de obras específicas e puderam vislumbrar de pesadelos formais como “Ste. Anne” a dildos tomando um ar em “Desaprender a dormir”, ou mesmo reflexos materialistas de sonhos reencenados em “Venha Aqui” à decadência política de “Saxifraga, Quatro Noites Brancas”.
Pluralismo pode não ser exatamente a palavra que melhor define o Festival, ainda que correntes diversas possam ser definidas em um projeto que não se prende apenas ao experimental cinematográfico, mas que oferece também videojogos para quem ali decide se aventurar. Como uma experiência contínua, o próprio site se molda com as possibilidades dos cliques e fornece novas pistas do que há na próxima janela do navegador.
Se “Vai!” nos lembra de um período em que o futebol era uma representação do povo em suas manifestações em campo e fora dele, é possível refletir sobre as nostalgias formais de “Benjamim Zambraia e o Autopanóptico” e os desdobramentos do possível “perene” dos estruturalistas.
O Festival Ecrã é um evento que sempre marca o ano com intervenções de diversas naturezas, mas também relembra como algumas cinematografias não caminham a novos lugares com o passar dos anos e parece repetir as ideias conforme as décadas se movimentam. Síntese do materialismo dialético ou delírio da linguagem e da matéria em projeção, as coisas nunca são claras o suficiente para categorias objetivas. Não por acaso, a falta de rótulos de outrora, seguia enfileirando o “incompreensível” na prateleira dos experimentais. E o que não mudou é um eurocentrismo que permeia nossa história de situação virtual ou presencial. O confinamento faz com que “IWOW” se torne a obra catedral de uma edição que exibiu e desinibiu algumas “contemporaneidades”, prato cheio de estruturalistas.
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