Balanço Geral e Vencedores da Mostra de Tiradentes 2025
Confira tudo o que aconteceu (e quem ganhou) na edição 28 do evento que exibiu 140 filmes de 24 de janeiro a 01 de fevereiro na cidade histórica mineira
Por Vitor Velloso
Ao longo dos dias 24 de Janeiro e 01 Fevereiro, a histórica cidade de Tiradentes recebeu um dos festivais de cinema independente mais importantes do Brasil. A 28a Mostra de Cinema de Tiradentes, contou com a exibição de 140 filmes de todas as regiões do Brasil, realização de oficinas, ciclo de debates, coletivas de imprensa dos filmes exibidos ao longo da Mostra, lançamento de livros, laboratório Brasil CineMundi e sessões WIP e a realização do 3o Fórum de Tiradentes, com a leitura e publicação da carta de Tiradentes.
Esta edição da Mostra de Tiradentes 2025 ficou marcada por chuvas constantes, sessões na Praça tendo de ser movidas para o Teatro Yves Alves (reduzindo a capacidade de espectadores e a lotação geral), a polêmica no debate sobre o filme “A Primavera”, que integrou a seção Olhos Livres e que foi comparada a “Vazante”, de Daniela Thomas, no Festival de Brasília 2017, por Maria do Rosário Caetano; e a “longa” cerimônia de abertura. A cerimônia de abertura teve um atraso de mais de uma hora, com apresentações dos povos originários e performances longas, o que levou muitas pessoas a desistirem de acompanhar o evento, a homenagem e/ou o filme que inaugurou a Mostra. Terminando já de madrugada, era possível notar o esvaziamento progressivo da sala à medida que o tempo passava e a homenageada, Bruna Linzmeyer, não subia ao palco para receber seu prêmio.
O contrário pode ser dito sobre o caloroso debate do filme “A Primavera“, ocorrido no dia 29, no qual o teatro Yves Alves presenciou um verdadeiro bate-boca, com acusações, tentativas de defesa e um dos diretores utilizando-se do elenco para defender seu projeto — uma atitude bastante questionável e problemática. O diretor Daniel Aragão, que fez a fotografia de “Jardim das Aflições” e por um tempo defendeu as ideias de Olavo de Carvalho, foi amplamente hostilizado pelo público presente, perdendo a compostura, interrompendo perguntas e questionamentos tanto do público quanto de Bárbara Bello, que tentava debater alguns aspectos estéticos do filme, mas era constantemente interrompida por Daniel. Enquanto isso, o público pedia ao cineasta que fizesse silêncio e respeitasse a fala da crítica de cinema. Essa atitude forçou Bernardo Oliveira, professor, crítico e produtor cultural, que mediava o debate, a exigir que fosse respeitado o momento de quem estava com o microfone.
Por outro lado, o outro diretor do filme, Sérgio Bivar — CEO da Exmed, ex-membro do Livres (PSL) e filho de Luciano Bivar —, manteve-se em uma posição confortável, apenas assistindo Daniel ser hostilizado, saindo ileso do bate-boca. Entre as principais pautas do debate estavam: o vampirismo de pessoas vulneráveis socialmente, o fetichismo em levar a câmera a regiões desconfortáveis das atrizes e as defesas políticas dos diretores.
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Já o clima chuvoso foi um empecilho para a realização da cobertura presencial do Vertentes do Cinema, tanto porque alguns espaços não puderam ser utilizados como cenário para entrevistas quanto porque, em determinados momentos da Mostra, parte da imprensa e dos convidados ficou ilhada. Além disso, a chuva impediu que pudéssemos contemplar algumas obras, como “Milton Bituca Nascimento”, de Flávia Moraes.
Um dos pontos altos da Mostra de Cinema de Tiradentes 2025 foi o lançamento dos livros, tão importantes para o audiovisual brasileiro. São eles: “Animação brasileira: 100 filmes essenciais”, organizado por Gabriel Carneiro e Paulo Henrique Silva; “Das Garagens Para o Mundo”, de Marcelo Ikeda; “Economias e Política(s) do Audiovisual”, de Arthur Fiel; “Guia de Elaboração de Projetos Audiovisuais”, de Guilherme Fiuzza Zenha e Julia Nogueira; e “Hollywood e o mercado de cinema no Brasil”, de Pedro Butcher.
O Fórum de Tiradentes foi outro ponto importante. Em 2023, aconteceu a 1a edição. A intenção do Fórum é reunir profissionais do audiovisual e representantes de instituições para debater a formulação de políticas públicas que podem ajudar no desenvolvimento do audiovisual. Em 2025, o 3o Fórum de Tiradentes debateu temas como a Reconstrução do audiovisual após a pandemia, Regulação e fiscalização do VoD – Vídeo on Demand e Condecine, o estabelecimento de um streaming público, formação de novos talentos e redução de desigualdades étnico-raciais, preservação audiovisual e criação de redes de dados para conservação, uso de dados e indicadores para qualificar políticas públicas. Formado por Grupos de Trabalho (GTs), com os seguintes coordenadores: Formação: Adriana Fresquet (UFRJ); Produção: Cíntia Domit Bittar (API / +Mulheres); Distribuição: Lia Bahia (UFF); Exibição/Difusão: Márcia Vaz (curadoria e programação); Preservação: José Quental (Cinemateca MAM); e Observatórios: Alessandra Meleiro (Forcine).
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OS VENCEDORES DA MOSTRA DE CINEMA DE TIRADENTES 2025
MELHOR LONGA – JÚRI POPULAR
“3 Obás de Xangô”, de Sergio Machado (BA)
MELHOR LONGA DA MOSTRA AURORA – JÚRI POPULAR
“Um Minuto é uma Eternidade para quem Está Sofrendo”, de Fábio Rogério e Wesley Pereira de Castro (SP)
MELHOR LONGA – MOSTRA OLHOS LIVRES – JÚRI OFICIAL – PRÊMIO CARLOS REICHENBACH
“Deuses da Peste”, de Tiago Mata Machado e Gabriela Luíza (MG/SP)
MELHOR LONGA – MOSTRA AUTORIAS – PRÊMIO ABRACCINE
“Parque de Diversões”, de Ricardo Alves Jr (MG)
PRÊMIO RETRATO FILMES
“Prédio Vazio”, de Rodrigo Aragão (ES)
MELHOR CURTA – JÚRI POPULAR
“Dois Nilos”, de Samuel Lobo e Rodrigo de Janeiro (RJ)
MELHOR CURTA – MOSTRA FOCO – JÚRI OFICIAL
“Entre Corpos”, de Mayra Costa (AL)
MELHOR CURTA – MOSTRA FOCO – JÚRI CANAL BRASIL
“Marmita”, de Guilherme Peraro (PR/SP)
MELHOR CURTA – MOSTRA FORMAÇÃO
“Desconstruindo Lene”, de Guilherme Maia (BA)
PRÊMIO HELENA IGNEZ – JÚRI OFICIAL
Ticiane Simões, atriz de “Entre Corpos” (AL)
CONEXÃO BRASIL CINEMUNDI WIP CORTE FINAL
“A Voz de Deus”, de Miguel Antunes Ramos (SP)
CONEXÃO BRASIL CINEMUNDI MALAGA WIP
“Morte e Vida Madalena”, de Guto Parente (CE)
PRÊMIO FESTIVAL SCOPE
A Universo Produção, em parceria com a plataforma Festival Scope Pro, premia filmes da 28ª Mostra de Cinema de Tiradentes, visando ampliar sua distribuição e visibilidade internacional. O prêmio disponibiliza os filmes para profissionais da indústria, como programadores, distribuidoras e imprensa. Serão premiados 20 filmes, incluindo os longas das mostras Aurora e Olhos Livres, além dos vencedores das mostras Autorias, Foco e Formação, dos prêmios Canal Brasil de Curtas e Helena Ignez e das escolhas do Júri Popular.
