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Balada de um Jogador

o já visto

Por Vitor Velloso

Festival do Rio 2025

Balada de um Jogador

O diretor alemão Edward Berger conseguiu larga repercussão no cinema com o seu trabalho em “Nada de Novo no Front” (2022), quando levou o Oscar de melhor filme internacional, direção de arte, trilha sonora e fotografia, sendo um dos grandes vencedores daquela premiação, ficando atrás apenas de “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” (2022), de Daniel Scheinert e Daniel Kwan. Seu trabalho em “Conclave” (2024) também rendeu grande repercussão, levando o Oscar de melhor roteiro adaptado e alcançando boa recepção no ano passado. Contudo, é preciso dizer que o trabalho de Berger é bastante direcionado para um tipo de cinema industrial, de fácil digestão e aceitação, sem possuir uma identidade estética sólida ou algo que o distancie dos demais cineastas contemporâneos.

Seu novo filme, “Balada de um Jogador”, tenta ser um projeto levemente alternativo ao padrão do catálogo de streaming na medida em que satura todos os elementos presentes na obra, talvez para incorporar o excesso tão presente na narrativa, fazendo certo esforço para ser reconhecível por essa hipérbole. Porém, o projeto, baseado no livro homônimo de Lawrence Osborne, é tão artificial que, em determinados momentos, o espectador pode sentir como suas texturas parecem feitas de plástico, suas ideias parecem retiradas da esteira de uma fábrica sedenta por dinheiro, e o roteiro de Rowan Joffe faz um esforço monumental para expulsar o público da sala de cinema ao transformar “Lord Doyle”, interpretado por Colin Farrell, em um personagem tão aborrecido quanto superficial. Suas motivações são reduzidas unicamente ao vício em apostas, e a própria noção de urgência para pagar a dívida aparece como um mero artifício para gerar tensão e perigo nessa trama arrastada e desinteressante, composta de cores saturadas, luxos exacerbados, personagens caricatos e dramas inexistentes.

É particularmente desagradável acompanhar um projeto tão desprovido de personalidade, seja pela fotografia lavada, assinada por James Friend, que parece empenhada em transformar “Balada de um Jogador” em um reels de Instagram, seja pela edição de Nick Emerson, que fragmenta o filme como se a estrutura rítmica de Guy Ritchie e Edgar Wright pudesse dialogar com um produto institucional de cassino, ainda que com uma clara mensagem sobre o vício. É tudo tão esquemático e artificial que, em determinado momento do projeto, quando Cynthia Blithe, personagem de Tilda Swinton, é apresentada, o filme parece querer criar uma mediação e instaurar um senso de urgência oferecendo prazos que não dizem nada, personagens que nada acrescentam à experiência e uma abordagem limitante sobre como o vício de Doyle se apresenta como um ciclo vicioso, patético e perigoso. Dessa forma, mais do que um longa de ação ou suspense, “Balada” é um produto que não sabe para onde ir, o que pretende ou o que quer debater, preocupando-se apenas com o “como” da forma mais simplória e previsível possível, mirando uma estética de estímulos constantes para tentar assegurar a permanência do espectador diante da tela.

Aliás, é difícil permanecer até o fim do longa, pois suas sequências não significam nada para a construção geral. São apenas dispositivos fáceis e usuais que precisam conduzir ao ápice, que, evidentemente, é a entrega completa ao espírito desse capitalismo contemporâneo. É como se a redenção só pudesse ser cumprida através da corrupção total. Não por acaso, a trama avança à medida que se estrangula a noção de dinheiro, tornando-o cada vez mais abstrato, especulativo e ligado a grandes riscos e grandes retornos, como o cassino exige.

Em um primeiro momento, é fácil se interessar pelo escopo da narrativa, pois ele nos é familiar. Já vimos isso em tantos projetos vindos de Hollywood que entendemos a lógica estrutural, a necessidade de conseguir dinheiro para saldar uma dívida com mais dinheiro, pelas proporções inimagináveis que vão se acumulando. Mas a falta de profundidade de Doyle e a simplicidade dos esquemas e jogos apresentados pelo roteiro e pela direção de Berger fazem de “Balada de um Jogador” um filme pré-fabricado, que apenas precisa ser requentado para uma audiência caseira, que provavelmente dividirá sua atenção entre a tela e outras telas ou afazeres.

Não chega a ser constrangedor, mas é uma enorme decepção depois de “Conclave”, que é tão surrealista quanto poderia, mas que se assume enquanto um mero produto de entretenimento, ainda que atravessado por discussões de outra ordem. Antes o formato de produto televisivo funcionou, aqui neste um que de reels de Instagram só piora tudo.

1 Nota do Crítico 5 1

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