Mostra Um Curta Por Dia Marco mes 9

Vida de Campeã

Nos embalos de Tóquio

Por Vitor Velloso

Cinema Virtual

Vida de Campeã

“Vida de Campeã” de Pascal Plante aproveita a janela das Olimpíadas para aterrissar no Brasil e pegar um gancho com a mídia. O filme não segue tão de perto os mandamentos da moral que norteia a plataforma e consegue se destacar das demais produções, ainda que os maneirismos de sempre estejam presentes. A produção se concentra na nadadora Nadia (Katerine Savard) que está prestes a se aposentar e seguir faculdade, mas antes possui o compromisso das Olimpíadas de Tóquio 2020. O drama da atleta é construído a partir de diversos recortes, desde a maneira como encara a competição profissional à sua sexualidade. A forma com que o longa consegue costurar as questões profissionais e pessoais em uma única linha é o que chama atenção.

Se por um lado, a nadadora enfrenta a cobrança da competição, suas autocríticas são ainda mais severas e nada consegue completar seus desejos, nem mesmo um prêmio em equipe. Sua dificuldade em se encontrar em meio ao holofote da mídia, a instituição esportiva, suas colegas e um sentimento não-correspondido passa a deslocar seu comportamento à uma necessidade pessoal de se soltar, diferentemente do rigor de suas performances. E isso, “Vida de Campeã” constrói a partir de uma centralização da personagem como único eixo possível das ações. A câmera segue seus movimentos, desejos e olhares. Muitas vezes partindo de planos-detalhes para um close, o espectador nunca deixa de estar próximo a Nadia, em suas caminhadas em um país que desconhece e bebedeiras pós-competição. A objetiva persegue as faces da protagonista, procurando vida em meio ao palco cosmético que parte dos atletas se colocam, apresentando-se sempre com bandeiras e nacionalidades.

Pascal Plante sabe o que quer com o projeto e busca um dinamismo da imagem, com as movimentações da câmera e os cortes objetivos, sempre em favor do drama proposto. Existe uma proposta formulaica dentro dessa construção, não há como negar, que segue parte do cinema canadense dos últimos anos e os dramas que competem nos grandes festivais europeus. É uma produção que visa essa internacionalização no mercado, não por acaso foi exibida em Cannes e conseguiu alguns contratos de distribuição (com maior ou menor velocidade). Assim, é difícil encontrar algo verdadeiramente marcante em “Vida de Campeã” já que a fórmula é acachapante e se torna cíclica em determinado momento, atingindo diretamente o ritmo da obra. A partir dos trinta minutos as coisas ficam repetitivas e o espectador já sabe para onde as coisas vão caminhar, mantendo um certo consenso dessas produções que visam sucesso nessas janelas mais midiáticas. De toda forma, a protagonista consegue segurar as pontas e o interesse na projeção, relacionando essas descobertas com uma nova fase da vida que deve seguir dali em diante.

O cenário das Olimpíadas de Tóquio cria ainda essa dimensão de atordoamento das grandiosidades e subjetividades se chocando constantemente. Essa relação é um dos motores da obra, que apresenta uma série de motivos para a desolação de sua personagem, mas se concentra especificamente na amizade com Marie-Perrie (Ariane Mainville) e em atrações que vão ganhando corpo conforme as intimidades aumentam. E esse jogo é bem estruturado pela montagem e pelos planos mais fixos, que conseguem dimensionar os espaços a partir desses desejos. Encontrando as correspondências, ou falta de, em explícitas aproximações imediatas das personagens, tanto na cena da festa, quanto nos olhares de Nadia ao ver a amiga se aproximar de alguém.

“Vida de Campeã” é brevemente genérico na forma que organiza a linguagem para esses centros em movimento, em um dinamismo tipicamente canadense e europeu, ou como um personagem sintetiza durante a projeção, “franco-canadense”. Mas consegue manter a narrativa funcionando durante boa parte de sua duração e articula um drama mais complexo que parte do início propõe. Algumas cenas podem ser mais desconcertantes pelo grau de exposição, a exemplo da cena festiva com “Complicated” da Avril Lavigne. É menos um filme de esporte e mais um drama de descobertas. Para quem procura algo relacionado às Olimpíadas, pegando o embalo da programação televisiva, pode acabar se frustrando, ainda que se sobressaia com certa facilidade dos últimos lançamentos.

3 Nota do Crítico 5 1

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