Utøya – 22 de Julho

A estética como protagonista

Por Fabricio Duque

Durante o Festival de Berlim 2018


“Vivemos um aumento do fascismo na Europa. Dia após dia. Quando palavras não podem expressar e traduzir estas razões, as imagens precisam representar estes sentimentos”, disse o diretor Erik Poppe ao apresentar seu mais recente filme “Utøya 22. juli”, na coletiva de imprensa, sobre os ataques terroristas que aconteceram em 22 de julho de 2011 no centro de Oslo e na ilha de Utoya, em apenas 72 minutos.

O assunto, de um jovem de 34 anos que matou 77 pessoas à esmo (impossível não referenciar a “Elefante”, de Gus van Sant; e a “Polytechnique”, de Denis Villeneuve, que está com novo filme em competição aqui em Berlim), já foi abordado em outra versão cinematográfica: “Utoya Island”, de Vitaliy Versace; e será tema do novo filme de Paul Greengrass.

“Utøya 22. juli” opta pela narrativa subjetiva, em que a câmera é personagem, que luta instintivamente para sobreviver da morte iminente e nos insere na sinestesia do momento, podendo sentir o extremo intimismo (à moda de “O Filho de Saul”, de László Nemes). Esta decisão é uma faca de dois gumes, visto que tudo tende à encenação mais exagerada. E assim é. Aqui, nós espectadores somos conduzidos à liberdade poética do roteiro, com suas fragilidades estruturais, caindo assim em esperados gatilhos comuns de sua construção conceito-autoral.

O longa-metragem, baseado em experiências detalhadas dos sobreviventes, foi vaiado após a primeira sessão de imprensa, e opta pela facilidade palatável, ainda que nos surpreenda em poucos momentos. Na maioria do tempo somos bombardeados pela ação da ação. É uma tradução literal de foco essencialmente dramático-emocional, manipulando nossos sentidos a fim de fazer com que a história siga seu rumo.


Do diretor norueguês Erik Poppe (de “Mil Vezes Boa Noite“, “Águas Turvas“), 90 minutos. Com Andrea Berntzen, Aleksander Holmen, Brede Fristad.


Em 22 de julho de 2011, quinhentos jovens que participaram de um acampamento de verão na ilha de Utøya foram atacados por um extremista de direita fortemente armado. A tragédia provocou a vida de 69 vítimas. A história desestruturou a Noruega e ainda faz até hoje. O diretor Erik Poppe se atreveu a tentar transformar os eventos desse verão em um filme. Seu drama abre com imagens documentais de Oslo onde, pouco antes, o mesmo atacante explodiu um carro-bomba matando oito pessoas. A cena então muda para a ilha. A câmera segue Kaja de 19 anos que está passando alguns dias do feriado com sua irmãzinha Emilie. De repente, o primeiro tiro é ouvido, que é o ponto de partida a uma reconstrução de eventos incômoda de 72 minutos de duração, filmada em uma única tomada, pelos olhos das vítimas. É a busca desesperada de Kaja por Emilie, e o medo nos olhos dos jovens.


“Utøya 22. juli (U – July 22)” integra a competição oficial do Festival de Berlim 2018.

2 Nota do Crítico 5 1

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