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Terras Perigosas

A tal da história "nunca contada"

Por Vitor Velloso

Cinema Virtual

Terras Perigosas

“Terras Perigosas” de Stephen Johnson mantém a continuidade do historicismo enviesado que faz um revisionismo daqueles que conhecemos bem, a introdução da reconciliação para enaltecer heróis improváveis. Como um branco “consciente” que decide ajudar a população nativa da Austrália, em uma busca de uma redenção moral, daquelas cristãs dogmáticas. Não difere muito, novamente, daquilo que o catálogo vem apresentando em seus últimos anúncios.

Aqui, a violência é explícita e procura aquele fetiche da exposição de maneira mais direta, as mortes são imediatas e enquadradas como quem procura a brutalidade histórica para reforçar algum argumento. Poucas coisas são poupadas do espectador, uma das exceções é a morte de crianças, que possuem alguma intervenção na imagem. Contudo, se para o espectador dos países colonialistas o barato pode provocar algum entretenimento, o negócio é enfadonho por um design de produção fajuto que faz o sangue artificial saltar alguns pixels na tela. Os cortes são arrítmicos e fragmentam o fluxo das coisas para tentar sempre um rompimento precoce da própria ação. Em um todo, “Terras Perigosas” demonstra sua limitação de orçamento em todos os trechos, com alguns drones embaraçosos que procuram a dimensão do espaço político ou mesmo intensificação de algumas ações dramáticas dos personagens.

Existe uma objetificação explícita dos acontecimentos e dos nativos. É a representação imperialista que tenta uma base democrática da união das realidades para formalizar a resistência, ainda que na memória. O branco salvador surge como uma espécie de prisma cristão, entre as faces de uma redenção pragmática e de uma culpa pelo passado. Poucas coisas são mais entediantes e fajutas que a auto-piedade representativa na tela. Uma história construída no sangue dos nativos, como em toda boa narrativa colonizada, a diferença é que os heróis aqui possuem a unilateralização de suas culturas e etnias, são como pontos de utilidade para a base dramática. Nada aqui é desenvolvido para além do cosmético desses projetos, as coisas ficam na superfície de propósito, pois servem como esse gatilho imediato para “reflexão” de que “nem todos são cruéis”. É um longa publicitário nesse caminho, que utiliza-se de uma “informação-míssel” para que ela se infiltre rapidamente na compreensão do que seria a realidade ali. E claro, a luta de classes é reduzida ao enfrentamento político da práxis sem que “Terras Perigosas” desenvolva algum pensamento nesse caminho, pelo contrário, é a fuga de uma crítica totalizante.

A forma é a padronagem mais inerente ao grande mercado de baixo orçamento, ainda que seja internacionalizante. Cortes rápidos e frenéticos, para falsear os espaços e os tempos nessa relação de ação e consequência, enquadramentos rigorosamente colocados para utilizar a “paisagem” de fundo como clímax político e uma base dramática que é apresentada em linhas gerais como a síntese histórica. Esse revisionismo marqueteiro não dá pé e a suposição naturalista vai se tornando muleta para um filme que não é capaz de dinamizar a própria ação constante dos massacres colonialistas. Assim, as coisas perdem o sentido e passam a funcionar neste grau primário, onde devemos tomar consciência da exposição como verdade. Por essa razão, chamar de “publicitário” aqui, está longe de ser uma digressão, pois a forma sendo o conteúdo, cria esse aspecto estrangeiro-cosmético de uma história fundada em sangue nativo.

Ainda que “Terras Perigosas” acredite que o massacre promovido pelos brancos, seja de uma barbaridade horrenda, utiliza-se de pequenos símbolos para encontrar uma desculpa por estar ali filmando, representando a história em uma dicotomia que não apresenta razões políticas para os acontecimentos, apenas os expõe por fetiche da brutalidade e revisão dos heróis. A figura de Sebastião sempre foi a grande exploração das plataformas imperialistas, por reconhecerem que a centralização dramática em uma representação canônica, facilita a compreensão do espectador nessa “mudança” drástica de uma redenção a ser aceita. E quem procura algum grau de entretenimento no genocídio, irá se frustrar com a falta de coerência das ações e consequências no espaço imediato do quadro, onde tudo se fragmenta para uma show de cortes precoces de interrupções abruptas.

1 Nota do Crítico 5 1

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