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O Matemático

Confusas nacionalidades

Por Vitor Velloso

O Matemático

A representação da ingenuidade científica diante dos aparatos estatais é um descalabro que os norte-americanos reproduzem, novamente, em “O Matemático” que trabalha a “perda da inocência” de um cientistas que ajuda a criar a bomba de hidrogênio. De imediato, vale lembrar, que apesar das enormes aparências, não se trata de um filme estadunidense, mas com uma moral profundamente enraizada na necessidade individual de trabalhar o sentimento de culpa naqueles que ajudaram na construção de um dos maiores crimes da história humana. É claro que as desculpas são da mesma ordem moral e tão falaciosas quanto, a garantia da liberdade da família não passa por armar o centro do capitalismo mundial com a arma mais destrutiva do planeta.

Existe aqui um discurso que sempre atravessa o filme de Philippe Tłokiński como verdade, ainda que nunca receba o primeiro plano propriamente dito, a propaganda ilusória da vitória dos EUA na Segunda Guerra Mundial e sua “soberania” científica que deve preponderar diante dos Soviéticos. Bom, nós já vimos isso algumas vezes, normalmente empurrado goela a baixo para cá. E o grande desafio para o espectador aqui em “O Matemático”, além de se manter acordado, é encontrar a razão da produção, afinal se inicia com uma cartela que anuncia que a projeção é sobre a história de Stanisław Ulam, conhecido como Stan Ulam (por debilidade linguística dos norte-americanos), que fez parte do Projeto Manhattan. Porém, dificilmente vemos algo que se desloque do sentimento labiríntico do protagonista diante dos “horrores da guerra”, ainda que esteja ali como um estandarte da bandeira do “país da liberdade” e à uma distância considerável do conflito, ou de sua aflição com a pressão do governo. A verdade é que o projeto se apresenta como uma síntese dos dramas de devaneios morais, onde a ingenuidade impera e a culpa vai remoendo, e as grandes jogadas de marketing da eficiência científica dos EUA, que receberam as “mentes mais brilhantes do planeta”, incluindo um bom punhado de nazistas (o que claro, o filme passa batido).

Segue uma cartilha tão burocrática que em determinado momento estamos presos nos delírios do american way of life e em seguida o filme acaba, sem um debate do que ele próprio assume como um absurdo. É como a indústria opera: há uma exposição de uma questão humanisticamente aceita pela comunidade internacional, uma estrutura absolutamente padronizada e pronto, algumas contas estão pagas. A gastrite ideológica que o filme organiza como um movimento que alucina o raciocínio do protagonista, interpretado monotonamente por Philippe Tłokiński, termina em lugar algum, em uma decadência generalizada, mas que busca o reconhecimento da genialidade de seu objeto. Ora, os heróis de guerra retornaram com força diante da dinâmica global contemporânea, não? Um fato curioso do impropério monolítico de “O Matemático”, é justamente o reforço das dúvidas de Ulam diante das crescentes conspirações internas do Estado que se voltam contra ele, mudando a perspectiva diante da “necessidade” de fabricar a bomba de hidrogênio. Ainda me pergunto o que a

Agora, o que Philippe Tłokiński realiza de diferente em “O Matemático” para não soar apenas uma reprodução sistemática dos demais filmes? Bom, ele se esforça com alguns planos que exploram a beleza natural dos desertos sem fim e algumas tomadas abertas, de resto, segue a programática com um rigor consciente. O mesmo jogo de câmera de sempre, onde a intensificação dos espaços fechados demonstra a internalização dos problemas de todos aqueles homens e como suas decisões são de suma importância, aliás, as notícias sobre a guerra chegam a todo instante etc. Porém, o movimento mais distinto do diretor é em uma cena de dança onde a música country estoura o limite do aceitável (o volume é totalmente incompatível com o resto do filme) e a dança em comunidade acontece com o balé da objetiva acompanhando essas trocas e movimentos de perto. Ou seja, temos o grande dado necessário, poucas coisas precisam sair do cartão-postal que se firma durante os tediosos cento e dois minutos, mas vale a pena investir algum esforço em uma expressão tipicamente do sul, não? Vale lembrar novamente, não é um filme estadunidense.

1 Nota do Crítico 5 1

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