Festival Curta Campos do Jordao

Mambo Man – Guiado pela Música

Ao cego que cantarolava

Por Vitor Velloso

Cinema Virtual

Mambo Man – Guiado pela Música

Em singelo movimento (semanal) pela moral que guia nossos algoritmos de cada dia, “Mambo Man – Guiado pela Música” de Edesio Alejandro e Mo Fini é uma demanda desesperada de retomar os projetos institucionais ao streaming brasileiro.

Outro domínio naturalizou o processo como uma investida “na ilustração de um socialismo democrático”. Não passa tão distante da realidade não, sendo um dos motivos de falhar completamente como um projeto que acredita na força de uma linguagem institucional para representar um modelo político em decadência absoluta. Existe aqui um revisionismo catastrófico que tenta moldar uma identidade nacional como ponto basilar de uma cultura que se vê em consonância com as falências formais entre norte-americanos e a TV de reacionarismo pragmático.

Esse tom de uma narrativa que se apoia na solidariedade não poderia distanciar-se de um projeto institucional cristão que mais se aproxima dos modelos de uma referência publicitária que a base histórica de um país fundado na revolução anti-imperialista. É uma espécie de comunhão da propriedade com a falibilidade de uma política internacional que fragilizou “Mambo Man – Guiado pela Música” em uma trajetória de aproximações com o conservadorismo que destoa da verve latino-americana fundada em Cuba, por uma força particular que faz o país ser a referência em tantos pontos distintos de um panorama internacional.

Acaba rendendo-se à utopia de uma democracia que se amplia diante de seus modelos de produção e o materialismo de outrora é rendido pela burocracia de uma representação que acredita na necessidade de fomentar a cultura como um motor narrativo entre dinheiro e sonhos adulterados.

Outro problema do filme é se moldar nessa concepção mundana como frente para a linguagem encontrar um espaço entre a televisão e um amadorismo comprometedor. O longa soa inacabado, com cortes brutos, fades vergonhosos, diálogos ultra-expositivos, uma trilha sonora que quer forçar a cada instante possível uma emoção distinta. Essa falha constante em conduzir o espectador para um modelo tacanho de uma narrativa desinteressante, finda em um projeto que não consegue sustentar um drama simples que almeja a complexa solidariedade da ilha. É um conciso desenho de como o idealismo mimético de um modelo político fragilizado no conceito revisionista pode destruir uma obra que busca representá-lo.

“Mambo Man – Guiado pela Música” caminha entre o reacionário e o prosaico de um cotidiano projetado na tela à gosto. Não desenvolve seus personagens para que possamos nos importar com os destinos de maneira convincente, busca uma publicidade conservadora e desliza em segmentos mais sensíveis. A encenação é de uma bagunça estonteante que concretiza um cansaço formal de uma história que jamais encontra um referencial não-vulgar. Direcionado ao mal-estar de uma sociedade à beira do imperialismo constante, a burocracia democrática e liberal parece afetar os nortes de um cinema historicamente rico, que enfrenta uma crise de suas “ideias fora do lugar” e reconhece da pior maneira possível que o subdesenvolvimento é um estado.

Em contornos novelescos e de moral duvidosa, o filme chega ao streaming do puritanismo na representação das forças liberais e de uma “globalização” que se esforça em um mosaico plural de produções do mundo inteiro. Assumiu seu caráter “B”, mas travestiu-se de “plataforma de exibição de obras independentes” para reformular sua característica mais incisivas enquanto papel de homogeneização cultural, com uma curadoria que transita entre o consenso e o institucional. Dogmática e moralista. Pragmática e “democrática”.

O ano de 2021 está sendo um descarte completo até o momento, entre cinematografias de transas frágeis e uma consciência que parece nos aproximar cada vez mais desse processo que “Mambo Man – Guiado pela Música” é vítima, um impulso da verve global retornando ao seio das produções latinas que desmotivam-se diante de uma realidade que desnorteia.

Mais feliz personagem brasileiro, é o que não possui história, torna-se processo cultural e identitário constante, atravessa a realidade, é vislumbrado por um cego e entra em transe com a invasão do capital estrangeiro a entrecortar o sertão. Matador de Cangaceiro não foi um herói, mas um retrato de uma força avassaladora que se perde no axioma da falta de encontro de uma imensidão.

1 Nota do Crítico 5 1

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