Festival Curta Campos do Jordao

Detetives do Prédio Azul 3 – Uma Aventura no Fim do Mundo

Entrando numa fria

Por Vitor Velloso

Detetives do Prédio Azul 3 – Uma Aventura no Fim do Mundo

O lançamento de “Detetives do Prédio Azul 3 – Uma Aventura no Fim do Mundo” nos cinemas brasileiros dá continuidade à uma sequência de filmes direcionados para um público infantil, mantendo a força de nossas produções comerciais, ainda que a disparidade das distribuições deva ser discutida. O longa dirigido por Mauro Lima segue os pequenos aventureiros, Pippo (Pedro Motta), Bento (Anderson Lima) e Sol (Letícia Braga) por uma nova empreitada, repleta de mistérios e artefatos perigosos, levando eles ao “fim do mundo”: Ushuaia.

A estrutura do filme segue o modelo visto nos projetos anteriores, onde a narrativa é recheada de inocências e constantes tentativas de fazer humor com a fisicalidade, trocadilhos, sons que aparecem ao longo da projeção etc. Contudo, o novo longa consegue desenvolver a estranheza de algumas sequências à seu favor, sendo capaz de possuir uma característica própria entre os inúmeros clichês, ainda que o design de produção seja crucial para isso. A participação de Lázaro Ramos acaba sendo um destaque, conseguindo ser divertido ao mesmo tempo que causa um estranhamento imediato. Mas se “Detetives do Prédio Azul 3 – Uma Aventura no Fim do Mundo” parece mais consciente de como construir essa particularidade do universo, que os demais filmes, também é o que mais se distancia de qualquer relação material com a realidade brasileira, ainda que a Itália não fosse um cenário comum, já que assume uma série de características industriais. Um exemplo disso é a própria necessidade de aumentar a escala dessa aventura, jogando para uma região de neves, lugares e transportes que o público desconhece.

Outro fator negativo é a constância das piadas envolvendo pronúncias ou interpretação equivocada, elas acontecem em grande quantidade, pouca efetividade e demonstra uma falta de criatividade na hora de consagrar certas investidas humorísticas. Além disso, a necessidade de se aproximar de um caráter mais industrial, com as tomadas gerais apresentando o novo sítio, torna a experiência cansativa e repetitiva.

Como um produto direcionado para o público infantil, pode funcionar pela maneira que consegue criar uma dinâmica interna entre os personagens e os acontecimentos na trama, a partir de uma oralidade que busca uma dramatização mais acentuada, ou mesmo pela tentativa de criar estímulos visuais com as cores vibrantes e os efeitos especiais constantes. Mas acaba repetindo a fórmula à exaustão, com planos panorâmicos, diálogos expositivos e cenas facilmente descartáveis. Isso tudo mostra que “Detetives do Prédio Azul 3 – Uma Aventura no Fim do Mundo” é a consolidação de um sucesso que encontrou uma zona de conforto tão bem delimitada que não vai arriscar mudar esses padrões. Não há como mensurar as diferenças entre o que é exibido na série televisiva e o que é levado para o cinema, ainda que a sensação seja de relativo distanciamento, já que as expansões das aventuras não cabem com tamanha facilidade na telinha.

A demonstração de uma falta de personalidade nas obras, de largo orçamento, infantis brasileiras, com exceção da franquia “Turma da Mônica”, é um sintoma das mudanças do país e a severa inclinação à padronização dos produtos. O mesmo não ocorre com obras que possuem menos recursos para desenvolver suas ideias, como “Pequenos Guerreiros” (2021), de Bárbara Cariry, que trabalha com o fantástico a partir da matéria e não apenas alavanca as magias como divertimento fugaz.

Está certo que “Detetives do Prédio Azul 3 – Uma Aventura no Fim do Mundo” possui um objetivo diametralmente oposto do longa de Cariry, mas produzir obras infantis que procuram aproximar a realidade empírica dos espectadores com o que veem na tela é fundamental para que não se cria um mito infundado de um cinema que depende diretamente dos clichês e representações estrangeiras para funcionar. Por vezes, a própria aventura parece se diluir na intenção de criar relações com outras obras e acaba transformando o longa em algo desprovido de características próprias.

2 Nota do Crítico 5 1

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