
Confira o que aconteceu nos primeiros dias do Curta-Se 2025
Festival retorna em formato maior com bom público e se destaca no cenário do audiovisual sergipano e nacional
Por Clarissa Kuschnir
A 24ª edição do Curta-Se – Festival Iberoamericano de Cinema de Sergipe começou bem. Além de exibir “O Agente Secreto”, de Kleber Mendonça Filho, o evento contou com uma noite especial para o público sergipano que lotou o Teatro Tobias Barreto para assistir ao longa tão esperado, que entrou em cartaz nos circuito comercial nesta quinta. “É uma honra ter o público consagrado participante e ávido a conhecer, aqueles que não conhecem e aqueles que já conhecem e aos que já são fidelizados, o meu muito obrigada. O mais simbólico de estar de volta ao Curta-se é de devolver aos sergipanos a Petrobras a Sergipe”, disse na abertura Rosângela Rocha diretora de idealizadora do Curta-Se.
A noite ainda contou com um bela homenagem ao ator Matheus Nachtergaele que tem uma longa e importante trajetória no cinema brasileiro, inclusive no Nordeste, tendo feito importantes papéis ao longo de seus mais de 30 anos de carreira (no teatro, cinema e televisão) em filmes como: “O Que é Isso Companheiro” (de Bruno Barreto),”Central do Brasil”(de Walter Salles), o icônico personagem de João Grillo em “O Auto da Compadecida 1 e 2” (de Guel Arraes),“Cidade de Deus” (de Fernando Meirelles); “Árido Movie” (de Lírio Ferreira), Tapete Vermelho(Luiz Alberto Pereira); “Amarelo Manga”, “Baixio das Bestas”, “A Febre do Rato”, “Big Jato” e “Piedade” (de Claudio Assis); “Carro Rei” (de Renata Pinheiro); “Mais Pesado é o Céu” (de Petrus Cariry), e na direção “A Festa da Menina Morta”. Sim, Matheus prova que é um homem de cinema com sua versatilidade em diversas atuações.
“Boa noite! Todo carinho é sempre muito bem-vindo. Eu nunca me sentia vencedor, mas fico sempre emocionado e senti a cada homenagem, um senso bonito de brasilidade e responsabilidade. E tudo o que eu posso ser o que eu mais sou é um dos construtores do cinema brasileiro, desde a retomada. Eu acho que eu sou um dos atores bem antigos desde a retomada do cinema e tive sorte de me tornar ator, no momento que o cinema brasileiro se refazia, lá no final dos anos 90. Trabalhei muito sem parar até hoje. Fiz muita coisa bonita que nos forma como brasileiros. Precedi de uma maneira estranha o sucesso absoluto do cinema nordestino no Brasil e no mundo. Eu sou paulistano, nasci na capital e de uma maneira cansada talvez, pelo meu tipo físico, mas também pela minha maneira tragicómica que eu tenho, eu acabei sendo a figura do ator nordestino”, disse Matheus Nachtergaele sobre os aplausos do público. O ator ainda relembrou “O Auto da Compadecida”, que foi um grande marco em sua carreira.
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Durante a semana, o Curta-Se – Festival Iberoamericano de Cinema de Sergipe 2025 contou com uma programação intensa com as Mostras competitivas de Longas e curtas Ibero-americanos, Mostras de trailers, webséries e videoclipes, Mostra Sergipana, mostras paralelas com destaque para a Mostra em homenagem ao grande teórico, escritor, crítico, ensaísta e ator Jean-Claude Bernardet (falecido em julho) com a exibição de cinco curtas realizados pelo cineasta Fábio Rogério (em parceria com Jean-Claude) debates com os realizadores uma apresentação teatral do veterano Grupo Imbuaça e, apresentações musicais.
Dos longas em competição, destaco “Morte e Vida Madalena” de Guto Parente, um filme com humor sarcástico, que faz uma série de referências ao cinema. “Muito obrigado por vocês estarem aqui. É uma sessão muito especial para a gente. Já a algum tempo que eu queria participar do festival e agradeço pelo convite. Eu queria dizer que esse filme é uma carta de amor ao cinema brasileiro. É um filme que nasce após 20 anos de carreira fazendo cinema no Ceará, em um modelo de produção muito próprio em uma cooperativa. Então depois de tanto tempo e tantos perrengues deu uma vontade de compartilhar com o público também o que é fazer um filme. E a partir de uma perspectiva bem-humorada rindo das nossas próprias tragédias e um aviso de gatilho para diversos cineastas”, afirmou Guto Parente ao apresentar o filme.
E realmente foi uma sessão diferenciada, a de “Morte e Vida Madalena”. Com um público que parece ter recebido bem a história do filme e que é protagonizado pela ótima atriz Noá Bonoba no papel de uma produtora que acaba assumindo o papel de cineasta de um roteiro de seu pai, depois que ele falece e o diretor desaparece. Em meio a uma gravidez de 8 meses e meio ela tem que lutar para que o filme saia antes de dar à luz.
“Estou muito feliz de estar em Sergipe aqui pela primeira vez. Esse filme tem gerado alegria por onde ele passa, Madalena é um presente, ela é cheia de nuances, cheia de um desenho maravilhoso. E também falo da felicidade de estar em uma cidade do nordeste. Ontem quando foi exibido o filme do Kleber pensei muito na disparidade que existe entre regiões e de quanto é importante o fomento dos filmes feitos por nós. Estamos nos vendo. Estamos nos reconhecendo. Aquela sala lotada de uma cineasta pernambucano e as pessoas assistindo ao filme, colocando o Nordestino no centro da narrativa”, disse a atriz Noá Bonoba.
Feito todo pelo celular, outro filme que se destacou na programação e com sala cheia foi “Um Minuto é uma Eternidade para quem está Sofrendo“, do cineasta sergipano Fábio Rogério, em parceria com seu conterrâneo Wesley Pereira de Castro. O longa-metragem, que estreou mundialmente em Tiradentes e que levou o prêmio da Mostra Aurora, é um diário do próprio Wesley durante a pandemia de Covid 19 e sua convivência em sua casa. Lá ele conta suas aflições, angústias de uma vida difícil e repleta de autos e baixos em todos os sentidos. Ali, toda nudez é permitida expondo o corpo de uma forma natural sem sexualizar. E o filme, apesar de angustiante em muitas de suas passagens, consegue provocar risos e só por isso já é um mérito, especialmente por ter sido feito com zero recurso.
“Conheço o Fabio há muito tempo e a marca dele autoral é analisar pessoas excêntricas. São pessoas que são artisticamente valiosos só que com traços exóticos. Eu tinha resistência a tecnologia. Gosto de DVDs. Então, eu tenho aparelhos analógicos. Eu tinha uma resistência muito grande a tecnologia. Por muito tempo não tinha whatsapp. Aí ganhei um celular de uma vizinha e comecei a fazer videozinhos e como eu tenho uma fascínio por suicídio assim como o Fábio Rogério tem como o Bernardet, então a gente sempre conversou. Fazia videozinhos e mandava para os amigos e falava que era meu último dia. Aí o Fábio Rogério virou para mim e disse que se eu ficasse no mundo mais um pouquinho ele faria a princípio um curta. Aí eu comecei a mandar para ele o que eu estava fazendo e quando ele começou a instigar eu comecei a produzir diariamente. Foi formando ele viu que existia, uma nova narrativa”, afirmou Wesley Pereira de Castro durante a coletiva de imprensa.

Ainda dentro das mostra de longas, dois filmes argentinos foram exibidos. O primeiro, “Vinchuca”, do diretor Luis Zorraquin, aborda sobre a juventude (aqui é um jovem de 15 anos) que vive como ajudante de traficante entre as fronteiras entre a Argentina e o Brasil. Quando pego pela polícia acaba trabalhando para a corporação em troca de casa e comida, a fim de ajudar a prender traficantes. O longa, que tem como coprodução o Brasil, é um bom filme ao abordar um tema importante para a juventude, este, que muito se perde, por trabalhar para o tráfico. E o personagem ainda tem um traço característico cultural que é a paixão pela dança. O segundo “Resurrexit”, de Daniel Mucchiut, eu achei o mais fraco, em que o diretor fala sobre Roberto Nield um comediante Argentino que fugiu da ditadura e passou anos na Colômbia. Em breve, soltarei as críticas destes longas.
Dos curtas me chamaram atenção os sergipanos: “Cancioneiras – Embarcações Poéticas”, de Elaine Bomfim e Graziele Ferreira; “Coisa de Preto”, de Pâmela Peregrino, (que eu já conhecia); “Sonata Beladona”, de Antônio Rafael Gomes Maia. Já dos nacionais, destaque para o já conhecido e premiado “A Última Valsa” (também de Fábio Rogério); “Bijupirá”, de Eduaro Boccaletti; e “Eu Não Sei se vou ter que falar Tudo de Novo”, de Vitória Fallavena e Thassilo Weber, um filme LGBTQIAPN+.
A 24ª edição do Curta-se continua durante o final de semana com mais curtas e longas, mesas sobre curadorias de cinema e sobre o mercado do audiovisual. Para mais informações sobra a programação é só acessar: https://curtase.com.br/
O Festival conta com patrocínio da Petrobras, Governo Federal, por meio do Ministério da Cultura, através da Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet); apoio cultural do Cine Walmir Almeida, da Fundação de Cultura e Arte Aperipê de Sergipe (Funcap) e do Governo do Estado de Sergipe, por meio da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB), e do Memorial de Sergipe Prof. Jouberto Uchôa; além do apoio institucional do Ibero Fest, Avanca Film Festival, VIII Congresso das Coalizões pela Diversidade Cultural e do Fórum dos Festivais.


