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Branco no Branco

Morfeu é convidado

Por Vitor Velloso

Durante o Cine Ceará 2020

Branco no Branco

“Branco no Branco” de Théo Court é um contundente representante da cinematografia das transas latino-americanas e europeias, na contemporaneidade. Com suas plasticidades definidas, necessidades classicistas de reformular um gênero pré-estabelecida, promover o estoicismo no pictórico do lúdico no faroeste e tornar a reconciliação imperialista. É uma obra que cura insônia do mais assíduo inimigo de Morfeu, cria aquela lombeira dominical pós-feijoada e convida o espectador a descansar os olhos diante do ecrã, pois além de um ritmo lento e uma linguagem que reforça o tempo dilatado, a narrativa é profundamente desinteressante.

E tal como sua construção, o espectador perde seu foco nos cantos da tela e se vê obrigado a observar sem pudor os longuíssimos planos que apesar de sua possível beleza, não passa de uma proposição estética particularmente europeia que é transposta para a tela como essa inócua reimaginação do faroeste, que por fim se prova uma intensão pouco honesta com a suposta articulação pois está mais interessado nos aplausos da burguesia e na inserção no campo “autoral” artístico do cinema contemporâneo que construir de fato uma obra que consiga sair das amarras que “reformula”.

Todo o jogo fetichista que envolve a obsessão e os devaneios de violência recorrentes durante o filme, não deixam passar os aromas tendenciosos da burguesia em verticalizar seus ícones narrativos e expor uma sociedade com sua representação fálica. Aliás, o ego da autoria do “cinema de arte” é tão inflado, que nem Narciso aguenta. As limitações são explícitas, então os apelos se direcionam à exposições que visam arrancar um “que filme lindo” da alta burguesia urbana, em seus polos de exibição abastados pela cultura eurocêntrica. Qualquer reiteração do quão desinteressante e arrastado “Branco no Branco” é, jamais será excessiva.

Não há adjetivos distintos hiperbólicos para definir a chatice disso aqui. Quem sabe na contramão da formalidade centrista apresentada, possamos ao menos relembrar que os tais “planos bonitos” são definidos pelos grilhões capitalistas e sua mais-valia ideológica e estética na produção. Ao menos o título não foge à proposta projetada, seu público está amplamente definido e reverenciado. Espanto nenhum que a obra consiga uma circulação tranquila nos grandes festivais, conservadores até seu último suspiro, o que exausta nosso subdesenvolvimento é a assimilação dessa “grande arte” nos festivais brasileiros. É um problema antigo de nossa dependência de produção e consumo.

Contudo, se a obra ao menos conseguisse suas pretensões estéticas diante dos formalismos que promove, teríamos algo interessante no projeto. Mas a constante insistência na decadência pictórica burguesa, corrói os cem minutos em uma questão virulenta que distorce para um tempo que não cabe na paciência. São vários planos abertos, com violências enquadradas de maneira distante, uma pan aqui e acolá para demonstrar essa “construção” elaborada, um “rigor” particular. O barato é tocar o conceito do faroeste na linguagem de quem filma o clássico europeu, assimilado com algumas resoluções na linguagem do cinema contemporâneo, como os zoom. Em verdade, não passa de um movimento canhestro que não consegue findar sentido em si, pois mira acirradamente os prêmios internacionais e a alta burguesia curatorial de opiniões reacionárias e conservadoras.

Com todas as articulações possíveis e expostas, não surpreende que “Branco no Branco” seja mais uma obra que impõe o pedido de piedade e o encerramento imediato, nem mesmo que possua os países imperialistas culturais em sua produção. E para o leitor que ousou se aventurar nas andanças do filme e acabaram reencontrando Morfeu, a culpa não deve ser o sentimento de falibilidade na ordem do consumo e sim do resultado dos esforços tomados para construir esse retrato tão contundente do cinema europeu incidindo no latino-americano.

Nos resta apenas o descanso após a década inteira de exibição do presente filme, uma experiência esquecível mas que reforça parte das temáticas debatias nas críticas aqui no site e como a burguesia intelectual seguirá aplaudindo e laureando o conservadorismo estético latente na cinematografia dos países imperialistas. Honestamente, o longa estar presente no festival, nos faz pensar acerca das andanças curatoriais e que barato é esse que Morfeu colocou na película. A grande decadência burguesa é o próprio esgotamento estético de suas produções em busca de uma homologação.

1 Nota do Crítico 5 1

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