Balanço Geral e Vencedores do Olhar de Cinema 2022
“Uma Noite Sem Saber Nada” ganha melhor filme em noite protagonizada por prêmios do haitiano “Freda”
Por Ciro Araujo
A edição de 2022 da Olhar de Cinema marcou o circuito de festivais nacionais como uma retomada aos cinemas presenciais. Apesar da Mostra de São Paulo, Festival do Rio, Cine Ceará — todas nas quais o Vertentes do Cinema também cobriu — terem transformado os eventos em híbridos, havia aquela sensação de ainda não estar no momento correto. Afinal, a pandemia ainda afetara grande parte da logística de tudo. No que foi a 11ª edição do Festival Internacional de Curitiba de Cinema, houve uma ocupação desde em cinemas de ruas previamente abandonados e recém-formados até em cinemas de redes grandes, onde não haveria o pensamento de se ver filmes como os de Ousmane Sembène na grande tela. O Olhar, que ocorreu entre os dias 1 e 9 de junho, possuiu uma vasta seleção diversificada de filmes. Foram obras infantis, locais, nacionais e internacionais. Exibiu-se animação, ficção e documentário. Perfeito como uma fincada de bandeira para avisar que o cinema não está morto.
Tudo Sobre o Festival Olhar de Cinema 2022
Acompanhe AQUI nossa cobertura
O Júri da Mostra Competitiva Oficial, composto por Alia Ayman, Cássio Kelm e Talize Sayeg decidiu entregar o prêmio principal da noite para “Uma noite sem saber nada”, longa-metragem indiano sobre a ocupação ocorrida em uma faculdade de cinema contra extremismo religioso. A obra também foi selecionada para Quinzena de Realizadores de 2021 em Cannes. Todavia, houve também a entrega do Prêmio Especial do Júri, tradicional do festival, para o filme “Freda”. O docu-drama haitiano também foi selecionado em 2021 para o festival francês. Nele, há o relato fictício de uma mulher e seu entorno, procurando escapar da realidade vivida dentro do país. A cineasta portuguesa Rita Azevedo Gomes também recebeu o Prêmio de Contribuição Artística por “O Trio em Mi Bemol” e enviou um vídeo tragicômico na qual sente mágoas pelo recente falecimento de um amigo pessoal e ao mesmo tempo indaga sobre o prêmio — ele pode ser dado para roteiro, direção, atuação, composição de trilha sonora original, montagem, direção de fotografia, direção de arte ou edição de som que sobressaiam e se tornem notórios. Pelo público, “Freda” também foi o escolhido, em votação que ocorria logo depois das sessões presenciais. Nos curtas, a obra “Mal di mare”, de João Vieira Torres, ganhou a competição. O filme é uma performance questionando a presença de pessoas negras dentro de ambientes tradicionalmente brancos, como museus na Europa que possuem obras roubadas de culturas africanas.
Na mostra Outros Olhares, com um júri composto do professor Denilson Lopes, do crítico Diego Trerotola e da realizadora Letícia Simões, o cazaque “Poeta”, de Darezhan Omirbayev, venceu na categoria de longas. Já o curta-metragem “Garotos Ingleses”, de Marcus Curvelo, venceu sua modalidade. Trata-se de um experimento de ancestralidade, com filmagens no Cemitério dos Ingleses, em Salvador, Bahia, uma necrópole exclusiva para enterros de anglófonos.
O longa-metragem “7 cortes de cabelo no congo”, dos cineastas Luciana Bezerra, Gustavo Melo e Pedro Rossi, foi escolhido como melhor filme brasileiro de todas as categorias. É uma obra documental que experimenta através do ato de cortar cabelo e conversas sobre dores absorvidas durante o processo migratório de congoleses no Brasil. Vale lembrar que, contextualmente, houve o recente assassinato de Moïse Mugenyi Kabagambe, congolês que trabalhava em um quiosque no Rio de Janeiro. O longa mostrou-se necessário e atual para o Olhar de Cinema de 2022.
A Mostra Novos Olhares, que procurava aceitar filmes que experimentam com a linguagem, possuiu o júri formado por James Lattimer, Pedro Adrián Zuluaga e Viviane Ferreira. O melhor longa-metragem ficou para “Jet Lag”, da realizadora Xinyuan Zheng Lu, enquanto uma menção honrosa foi dada pelo charmoso “Grace Tomada Única”, da sul-africana Lindiwe Matshikiza.
O júri local, isto é, a Associação de Cinema e Video Paraná, foi apresentado pela produtora Fran Camilo, a professora Ramayana Lira e o crítico Roger Koza. “O hábito de habitar” venceu a categoria, enquanto “Upa Neguinho” ficou com a menção honrosa. Filmes de longa e curta duração competiram entre si. Por fim, a ABRACCINE, representada por Flávia Guerra, Letícia Magalhães e Rafael Carvalho, decidiram dedicar seu prêmio para o haitiano “Freda”, da diretora Gessica Généus.
Já para o Vertentes do Cinema, que cobriu o Festival por todos seus nove dias, destaca-se alguns filmes que passaram pelo Olhar de Cinema 2022: “O Trio em Mi Bemol” e “Filme Particular”, ambos na Mostra Competitiva. No filme de Rita Azevedo Gomes, uma adaptação da única obra do francês Éric Rohmer. Já no brasileiro, uma análise à lá Antonioni sobre o poder detrás da imagem. “Verão”, um dos oito longas do jovem de 23 anos Vadim Kostrov. É uma passagem tranquila da estação através de vídeo filmado em mini-DV. O clássico “Mandabi” e o novo “Quente de dia, frio à noite” formaram uma deliciosa crônica sobre dinheiro — leia mais o artigo aqui. Já na Mostra Retrospectiva que homenageou a estado-unidense Su Friederich, dois filmes se destacaram: “Os Laços Que Unem” e “Eu Não Posso Dizer O Que Sinto”, ambos relatos sobre a mãe da cineasta. Também houve o memorável “Beijos de Nitrato” da potente Barbara Hammer, uma sessão rara dadas as condições de acesso da obra.
TODOS OS VENCEDORES DA OLHAR DE CINEMA 2022
Mostra Competitiva
Prêmio Olhar de Melhor Curta-Metragem
“Mal di mare”, João Vieira Torres
Prêmio de Contribuição Artística
Rita Azevedo Gomes (Diretora do filme “Trio em Mi Bemol”)
Prêmio Especial do Júri
“Freda”, Gessica Généus
Prêmio Olhar de Melhor Filme
“Uma noite sem saber nada”, Payal Kapadia
Prêmio do Público
“Freda”, Gessica Généus
Prêmio de Melhor Longa Brasileiro das Mostras Competitiva, Outros Olhares e Novos Olhares.
“7 cortes de cabelo no congo”, Luciana Bezerra, Gustavo Melo, Pedro Rossi
Prêmio de Melhor Curta Brasileiro das Mostras Competitiva e Outros Olhares
“Garotos Ingleses”, Marcus Curvelo
Mostra Novos Olhares
Melhor longa-metragem
“Jet Lag”, Xinyuan Zheng Lu
Menção Honrosa
“Grace Tomada Única”, Lindiwe Matshikiza
Mostra Outros Olhares
Melhor longa-metragem
“Poeta”, Darezhan Omirbayev
Premio da Crítica Abraccine
“Freda”, Gessica Généus
Júri AVEC-PR
Prêmio AVEC-PR Hugo Mengarelli
Melhor filme – “O hábito de habitar”, Nicolás Pérez
Menção honrosa do Júri AVEC-PR
“Upa Neguinho”, Douglas Carvalho dos Santos