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Avatar: Fogo e Cinzas

Conteúdo de expansão

Por Vitor Velloso

Avatar: Fogo e Cinzas

O fenômeno de “Avatar” (2009) é absolutamente histórico, e possivelmente vamos demorar a ver algo semelhante acontecer naquela proporção. “Avatar: O Caminho da Água” (2023), sua continuação está no top 3. Ou seja, o óbvio: James Cameron é uma máquina de fazer dinheiro, sem parâmetros. Entre as quatro maiores bilheterias da história do cinema, James Cameron dirigiu três. Talvez mais um entre nessa lista…

Apesar disso, a história de Avatar não é o grande chamariz da franquia; pelo contrário, a cada nova adição me parece ser seu grande calcanhar de Aquiles. O que faz a maior parte das pessoas querer ir ao cinema assistir ao filme é o espetáculo visual, a dimensão daquele universo, a escala dos acontecimentos, as cores vivas etc. Em resumo, Avatar é um grande barato audiovisual, uma espécie de espetáculo imagético estimulante, em que os acontecimentos dramáticos importam menos, e essa grande narrativa parece ser bastante secundária dentro da proposta como um todo, inclusive no estabelecimento desse universo. Afinal, se há algo que Cameron consegue realizar com eficiência na franquia, é uma espécie de mapeamento de Pandora, o planeta da história. Aliás, em “Avatar: Fogo e Cinzas”, um novo bioma é adicionado, com novos personagens, “novos” conflitos e um novo elemento — no caso, o fogo.

Porém, essa terceira entrada da franquia se destaca das demais, pois não há necessidade de apresentar ao espectador as particularidades desse universo, como em 2009, nem é preciso recorrer ao proto-documentário do National Geographic Channel que foi o filme de 2023. Agora, a escala é ainda maior, a quantidade de ação é alucinante, os acontecimentos vão ganhando proporções magnânimas, mas… é como se estivéssemos assistindo a uma DLC (um conteúdo extra para jogos eletrônicos que é baixado pela internet, expandindo o jogo base com novas missões, personagens, itens, mapas ou histórias, sendo pago ou gratuito) do segundo filme. Essa expansão retoma os conceitos estabelecidos nos dois primeiros, apresenta uma nova vilã, que se junta ao velho vilão, com os mesmos conflitos, as mesmas questões e resoluções, sem nenhum encaminhamento para o fim — o que gera uma frustração renovada a cada ida ao cinema. A sensação é a de uma história que apenas adiciona elementos, pouco interessada em elaboração, apenas para provocar novas sensações e percepções por meio de imagens elaboradas etc.

Essa narrativa que “debate” colonialismo, capitalismo, meio ambiente e outras temáticas torna-se cada vez mais cansativa, pois tudo precisa ser exposto de forma superficial para que esse universo possa ser ampliado, nunca plenamente desenvolvido. Alguns personagens podem até ser esquecidos, mas são relembrados de vez em quando. Alguns conflitos chegam a parecer sem sentido, mas o filme os retoma rapidamente para que o espectador consiga acompanhar. É tudo tão meramente imagético que algumas questões se tornam mais problemáticas, como a própria adição da vilã Varang: sádica, insana e visualmente “macabra” (ao menos é assim que o filme procura estabelecer seu retrato), que ri enquanto atira, sente prazer em assassinar de forma brutal e sempre recorre a meios que a distanciam dos “crentes” Na’vi de Pandora, que acreditam na deusa Eywa. Ou seja, trata-se de um retrato que o cinema já realizou anteriormente… Ela recorre às “magias”, provocadas por ervas naturais, e constrói todo um jogo entre o visceral e o sensual para explicitar sua insanidade incontrolável. Seus seguidores parecem ter perdido qualquer capacidade cognitiva, e a representação desses vilões está mais associada ao vodu e a um paganismo caricato.

Nesse sentido, “Avatar: Fogo e Cinzas” já demonstra um outro interesse da franquia, voltado ao lado do “culto” e das divergências de representações e crenças. Aliás, a sequência em que Varang explica o motivo de não seguir a deusa Eywa é de uma superficialidade constrangedora. E, quanto mais essa franquia avança, mais fica claro que todas essas temáticas e questões políticas ali apresentadas jamais serão desenvolvidas em um nível crítico que ultrapasse a obviedade: dinheiro e poder, além de um olhar particularmente eurocêntrico sobre a colonização, ainda que se proponha a compreender a representação do lado do oprimido.

É claro e evidente que o espetáculo visual é garantido em “Avatar: Fogo e Cinzas” e que todos os estímulos funcionam em alguma medida, especialmente na introdução dessa nova tribo apresentada, o “povo das cinzas”. No entanto, a sensação de retomar tudo o que foi apresentado em Avatar: O Caminho da Água, com adições pontuais de informação e uma nova personagem — tal qual uma DLC de um jogo da franquia Far Cry — torna essa nova entrada verdadeiramente frustrante. Ao menos, há um desenvolvimento um pouco mais próximo das questões particulares enfrentadas por cada filho do casal protagonista, ainda que se trate de uma pincelada feita às pressas. Por fim, a atuação de Jack Champion, no papel de Spider, segue sendo comprometedora.

2 Nota do Crítico 5 1

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