A Vingança de Jairo
De Lima Barreto a Jairo Pinilla
Por Vitor Velloso
Ao ler a sinopse de “A vingança de Jairo”, dirigido por Simón Hernández Estrada, grande parte dos leitores irão se perguntar “quem é Jairo Pinilla?”, a resposta é simples mas com mais camadas que parece. O longa parte da ideia de resgatar a memória ao povo colombiano, Jairo, um cineasta de horror que era prometido como “o novo Spielberg” e fez mais bilheteria que qualquer cineasta na história da Colômbia. Mas vai explicar ao público porque uma figura tão imponente não é citada sequer nos livros de cinema.
Jairo comanda o filme, ocupa de ponta-a-ponta a estrutura narrativa, o jeito despojado, agressivo e pouco modesto de ser, chama atenção do espectador, já nos primeiros minutos. Com isso, é fácil se afeiçoar ao diretor, sentimos sua paixão vibrar na projeção, ao passo que somos apresentados à trechos de filmes dele, como: “Funeral Siniestro” (1977), “Triángulo de oro – La isla fantasma” (1983) e “Extraña regresión (1985)”. Ao observarmos seus longas é fácil concluir que a qualidade de seus projetos não é um grande chamariz, pelo contrário, os apelidos que eram dados a ele, transitavam entre “imbecil” e “Ed Wood colombiano”, mas isso não tira o encantamento que o espectador terá durante a sessão, pois o carisma de Jairo é comovente e seu discurso acerca do processo de fazer cinematográfico é bastante inflamado. O realizador é capaz de fazer cada etapa de seu filme, apenas não o faz por inviabilidade (segundo ele mesmo).
Sua batalha contra a Focine (Fondo Nacional Del Cine), é o que define a derrocada de sua carreira, pois após algumas incongruências nos registros do órgão estatal e do cineasta, a Focine levou todos os negativos dos filmes de Jairo de sua casa. A dor que o diretor sente de não ter seus rolos em sua posse, é notória, e essa é uma das narrativas que acompanhamos, a outra é a produção de seu último filme, onde ele promete que entregará à seus fãs uma película incrível e com o domínio do 3D nunca visto antes. E através dessa personalidade forte, o espectador é capaz de rir com frequência no cinema, normalmente pelo grau de tosqueira de seus longas anteriores, mas também pelo temperamento explosivo.
É admirável como Simón, possui um carinho pelo seu protagonista, não à toa por muitas vezes teremos um ensaio de filme intimista, pois ele apresenta os discursos, as cenas, entrevistas de mestres como Luiz Ospina, na tentativa de transmitir esse tom de paixão ao espectador. Acompanhando ele até a reunião com a Focine, gravando ligações telefônicas entre Simón e Jairo, sua filmagem etc. É interessante que esse pacto firmado entre os dois é dado quase diante da câmera, logo no início do filme, onde vemos todos sentados e uma conversa acerca do que ocorrerá dali para frente se inicia.
A montagem de “A vingança de Jairo” consegue enxugar bem sua duração até uma estrutura necessária, perdendo brevemente o ritmo próximo ao fim, mas que até aquele momento mantinha um dinamismo extremamente bem vindo. Essa abordagem bastante veloz compreende muito bem uma problemática que poderia surgir no projeto, que é o tom anacrônico da narrativa, por reverenciar excessivamente um período etc.
Existe uma certa recusa ao se despedir aqui, parece ter medo de realizar o último corte, o que dá uma noção de extensão desnecessária às vezes, mas possui um momento bastante peculiar, ao conseguir lançar seu filme no cinema, Jairo sai da sala para fumar um cigarro, ele não fala nada, Simón também não, e a cena acaba. Esse pequeno recorte pode dizer muito sobre os dois, principalmente acerca da recepção do público ao corte final e decisão de não mostrar dali para frente é louvável.
“A vingança de Jairo” é um retrato apaixonante sobre cinema e a dificuldade que é ser diretor de cinema na América Latina, mas nunca deixa a peteca cair na questão formal, muito menos em seu discurso.