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10 filmes para comemorar o Dia da Europa

10 filmes para comemorar o Dia da Europa

Uma lista selecionada com obras de dez países europeus

Por Fabricio Duque

Hoje, 09/05, é o Dia da Europa. E nós do site, apaixonados pelos filmes europeus, listamos os dez mais. Uma obra de cada país. E que recebeu nota máxima em nosso site! Deixamos de lado a França, Itália, Espanha, Portugal, Inglaterra, Rússia e focamos na Estônia, Luxemburgo, Dinamarca, Romênia, Turquia, Islândia, Suécia, Hungria, Macedônia e Áustria.

ESTÔNIA

Risttuules

NA VENTANIA (Risttuules, 2014, Estônia, 87 minutos, de Martti Helde, Crítica AQUI)

Uma das características intrínsecas da cinematografia é a possibilidade de experimentar novas maneiras de se contar uma história. Ao sair do senso comum e surpreender o espectador com a invenção técnica-narrativa, o filme galga sua maestria qualitativa. “Na Ventania” é um desses exemplos que potencializa uma precursora poesia obra artística na percepção visual de quem assiste. O longa-metragem do estoniano Martti Helde (que já “nasce” cultuado por causa deste ser sua estreia na direção) transcende a própria ambiência nostálgica-cósmica de fotografia preto-e-branco que objetivou empregar com a forma de encenar seus atores como estátuas vivas em um grande encenado teatro-museu realista sobre o holocausto da ocupação soviética na Estônia, Letônia e Lituânia em quatorze de junho de 1941, cujos vítimas foram deportados para “ajudar” a política de Stalin: a “limpeza étnica dos povos nativos nos Países Bálticos”, durante a Segunda Guerra Mundial (e assim seguindo os passos-ideais de Adolf Hitler).

10 filmes para comemorar o Dia da Europa

LUXEMBURGO

Dust

(Dust, 2009, Luxemburgo, 91 minutos, de Max Jacoby, Crítica AQUI)

Um retorno ao bucolismo não evoluído tecnologicamente. Na verdade, em “Pó”, eles utilizam a máxima do psicanalista francês Jacques Lacan, que vê o Eu como instância de desconhecimento, de ilusão, de alienação, sede do narcisismo. É o momento do Estádio do Espelho. Eles “exterminam” os outros de suas mentes, conservando apenas lembranças, para a sobrevivência do eu sozinho, neste caso gêmeos. Inferimos que o outro não morreu literalmente, mas que o que se apresenta no filme é o aprisionamento de um mundo. A câmera transporta quem está do outro lado da tela a compartilhar essas ideias e sentimentos interiorizados. Quando um outro ser aparece na vida deles, o inicio do amadurecimento acontece. A crueldade, sofrimento, egoísmo, culpa e raiva são experimentadas.

10 filmes para comemorar o Dia da Europa

DINAMARCA

Melancholia

MELANCOLIA (Melancholia, 2011, Dinamarca, 136 minutos, de Lars von Trier, Crítica AQUI)

A fim de captar a essência contextual, há a necessidade de observância das referências que pululam na tela. O inicio de “Melancolia” apresenta o prólogo explicativo e epifânico (lembrando “Anticristo”, seu filme anterior). Com trilha sonora de “Tristão e Isolda”, de Wagner, as imagens traduzem o abstrato do que se sente na alma. Melancolia não é depressão. É um sentimento que parece em muito, mas há diferenças. A câmera apresenta-se com lentidão editada, como se alguém tivesse dificuldades de andar por estar presa. A textura da imagem apresenta uma pintura expressionista (quase animação – com fotografia saturada ao brilho excessivo). O realismo fantástico cria a magnitude da ação. Pode-se inferir homenagem a Stanley Kubrick e “2001, uma odisséia no espaço”. A metafísica deixa a imagem acontecer, aprisionando a quem assiste. A próxima parte: Justine. Mostra a tomada área de uma limusine – que passa por ruas desertas e curtas, depois com câmera próxima, lembrando o estilo Dogma 95 revisitado.

10 filmes para comemorar o Dia da Europa

ROMÊNIA

TERÇA, DEPOIS DO NATAL (Tuesday, After Christmas, 2010, Romênia, 99 minutos, de Radu Muntean, Crítica AQUI)

O cinema romeno tem a característica de abordar temas polêmicos com naturalidade. Os seus personagens convivem com maniqueísmos. O certo e ou errado são elementos coniventes para preservar o desejo que sentem sobre as coisas e pessoas. “Terça, depois do Natal” enfoca a infidelidade, tratada como cotidiana, em simples ações do dia-a-dia. A omissão da culpa deve-se à crença do próprio querer. A narrativa ajuda a criar a atmosfera pretendida, com seus planos longos de suas cenas. As idiossincrasias extrapolam o corte do momento, deixando que o espectador observe como realmente tudo acontece. O roteiro deixa-se acontecer. Não há limites cinematográficos, metaforizando com a quebra do próprio argumento de sua história. Há a resignação da escolha. Escolhe-se o individualismo. Quando não há paz interior, a necessidade da mudança se faz presente. E é escolhida de forma direta, seca e rápida. A naturalidade das imagens fornece o olhar do intrometimento da vida alheia.

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TURQUIA

A ÁRVORE DOS FRUTOS SELVAGENS (Ahlat Agaci, 2018, Turquia, de Nuri Bilge Ceylan, Crítica AQUI)

Assistir a cada nova obra cinematográfica do turco Nuri Bilge Ceylan é receber uma completa análise antropológica da essência humana, quando conversas e silêncios são contemplados para traduzir desejos, vontades, provocações e ou apenas projeções soltas e vagas, muitas das vezes provenientes do tédio do equilíbrio do existir. É um exercício filosófico porque nos mostra que o indivíduo social é estimulado pelo movimento da própria vida e que se estagnado liberta frustrações e resignações. Exibido na mostra competitiva oficial a Palma de Ouro do Festival de Cannes 2018, “A Árvore dos Frutos Selvagens” é sobre o sentimento mais puro e primitivo do verdadeiro querer do ser humano, que convive em condicionadas zonas de conforto; precisa lidar com as iminentes, urgentes e decisivas mudanças; e aceitar que há sentimentos e deveres que não podem ser reconstruídos. Em um pouco mais de três horas de duração, o longa-metragem consegue suspender o tempo narrativo para que assim possa ser possível uma maior integração e imersão.

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ISLÂNDIA

Hrútar

A OVELHA NEGRA (Hrútar, 2015, 92 minutos, de Grímur Hákonarson, Crítica AQUI)

“A Ovelha Negra”, do diretor Grímur Hakonarson, representante da Islândia na mostra competitiva do Un Certain Regard do Festival de Cannes 2015, e que foi o grande vencedor ao prêmio, utiliza a narrativa naturalista bucólica que encontra “abrigo” na cinematografia estética de Bela Tarr. A trama apresenta a vida simples de uma comunidade interiorana pautada pela criação e competição de animais, neste caso, ovelhas, e pelos silêncios cúmplices. A história foca na relação de dois irmãos, que se “relacionam” por ‘picuinhas’ e invejas amigáveis (e saudáveis para eles), como uma forma de respeito às idiossincrasias opinativas das causas e efeitos do passado. Aqui, desenvolve-se pelo acaso a fim de gerar a redenção. Uma “tragédia-doença-infecciosa” acontece e entre regras burladas, adaptações sociais (bilhete entregue pelo cachorro), tédio do tempo, diversões básicas e resignadas (o quebra-cabeças), a vida deles vai se transformando e adquirindo confrontos por paralelismos radicais.

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HUNGRIA 

DANAÇÃO (Kárhozat, 1987, Hungria, 116 minutos, de Bela Tarr, Crítica AQUI)

“Danação”, de 1988, muito próximo da queda do muro de Berlim, que se desenvolve em um ambiente inóspito, chuvoso, enevoado, friorento e apocalíptico do leste europeu, é apresentado por uma fotografia em preto-e-branco, coloração esta que pausa a nostalgia do passado fazendo com que sintamos a carga palatável e concretista no presente. No nosso presente. Como se viajássemos ao tempo levando apenas nossa sinestesia. A obra é um estudo de caso, um retrato, uma parábola realista e extremamente atual sobre um país desesperançoso, de moradores fantasmas mais à moda um “Asas do Desejo”, de Win Wenders, que “Um Homem Sem Passado”, de Aki Kaurismäki. Esses seres ficcionais estão à margem, fora dos próprios corpos em uma epifania etérea versus um vazio desistente versus uma loucura versus uma aguçada verdade observada versus um descanso libertador e fantasioso de sapatear como “Cantando na chuva”. “Há varias formas de escapar”, diz-se. Sempre existe um caminho, uma ideia, uma ideologia e ou algo defensivo que aprisione para proteger.

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MACEDÔNIA

Honeyland

HONEYLAND (2019, Macedônia, 90 minutos, de Ljubomir Stefanov e Tamara Kotevska, Crítica AQUI)

Se eu pudesse resumir “Honeyland” em uma única frase, esta seria “respeite a natureza e ela o respeitará de volta”. Isso porque a ligação com a terra e os animais é algo praticamente onipresente na vida de Hatidze, uma apicultora que vive quase completamente só em sua casa de pedra, na Macedônia do Norte. Suas únicas companhias são sua mãe, seus cães e gatos e, claro, suas abelhas. Embora, à primeira vista, o foco do documentário seja a singela rotina da senhora, mostrando a colheita do mel e seus diálogos com a mãe, o resultado de três anos de filmagens realizadas pelos diretores Tamara Kotevska Ljubomir Stefanov logo se torna algo mais, uma obra rica – e até poética – sobre quão impactante a interferência do homem no meio-ambiente pode se tornar. É algo único, comovente e incrivelmente pessoal. “Metade para mim, metade para vocês” recita Hatidze enquanto recolhe o mel das abelhas. Fica nítido para o espectador o cuidado da senhora com todo o ecossistema ao seu redor, já que não apenas há o cuidado na colheita do mel – deixar metade do melado para que a produção continue normalmente –, mas um visível respeito e carinho por todos.

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ÁUSTRIA

A FITA BRANCA (Das weiße Band, 2009, Áustria, 145 minutos, de Michael Haneke, Crítica AQUI)

Filmado em preto-e-branco, aborda o retorno a pureza e a inocência pela imposição de vontades dos que possuem o poder para ensinar. Os enquadramentos são perfeitas fotografias em movimento, com uma luz espetacular. Cada cena é artesanalmente produzida, despertando um perfeccionismo metódico. Os diálogos são diretos, prepotentes por uns. Por outros existe uma emoção reprimida pelo medo e o respeito imposto pela dominação de quem pode. A câmera espera e observa as ações. Não cria suposições, e sim mostra por elementos cinematográficos usando os próprios personagens. “É preciso sofrer para ficar bonita”, diz-se. O sofrimento é aceito e esperado. Há nuances para expor o lado introspectivo e as claras para mostrar a vergonha de uma sociedade hipócrita que causa culpa de sempre estar entre o limite do certo e errado por pequenos detalhes. A opressão escolhe o silêncio e a frustração.

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