Curta Paranagua 2024

Vermelho Monet

Protótipo, sem título

Por Vitor Velloso

Festival Cine PE 2022

Vermelho Monet

Dirigido por Halder Gomes, que possui trabalhos como “Cine Holliúdy” (2013), “O Shaolin do Sertão” (2016) e “Os Parças” (2017), “Vermelho Monet” é uma investida distinta do padrão conhecido do diretor, que procura traçar um drama de caráter artístico sobre “paixão, tesão, desejo, obsessão e arte”. Ao menos é como o filme procura se apresentar ao espectador, como um emaranhado de palavras-chave do que seria uma discussão pretensiosamente artística de alto padrão intelectual, debatida no cenário europeu, transitando entre tantas línguas que a torre de babel de vinhos e discussões intelectuais se multiplica no seu caráter internacionalizante. 

Sem dúvida é um filme de distribuição limitada, que visa um público bastante particular, que abrange tantas pseudo-ideias, que sua faceta poliglota deixa de traduzir qual sua verdadeira intenção. Já em seus primeiros minutos, “Vermelho Monet” esclarece o tom da obra, com música clássica, entre o corpo de uma modelo nu e a raiva do artista Johannes, interpretado por Chico Diaz, com o resultado de seu esforço artístico. Essa primeira cena, construída em planos detalhes e uma montagem que parece fazer esforço para não permitir que o espectador contemple o cenário caricatural do pintor, não poderia deixar passar uma alusão cinematográfica, onde a sombra do personagem é projetada na tela, enquanto sua obra é exposta ao público, e destruída. Não obstante, o filme parece dialogar com todo tipo de estereótipo que a grande mídia construiu de um artista plástico, que como um reflexo da própria limitação, encontra um desenvolvimento dramático conturbado que está mais interessado em ser sedutor em seus diálogos proto-intelectuais e na irascível reação do artista com sua crescente acromatopsia. Em alguma medida, o esforço em demonstrar ao público como funciona a visão de Johannes, no sentido literal, apenas reforça um caráter da obra de procurar uma formulação estética que possa criar contraste em si, isto é, diferenciação na representação e possibilidades imagéticas. No fundo, é de profundo desagrado que haja a intenção de atrair o espectador para um universo onde nada possui uma verdadeira relevância dramática, com exceção da superficialidade exposta nos diálogos mal resolvidos, que expõem mais o filme que os personagens em si. 

Não por acaso, a constante necessidade de utilização de efeitos que emulam o traço de um pincel na tela e toda uma mínima exposição de como funciona o mercado artístico, o padrão de gostos, a “alta cultura e sociedade”, a falsificação, desejos reprimidos, memórias, sexo, tesão, paixão e cor. Porém, nenhum desses tópicos é minimamente levado adiante, funcionando apenas como gatilhos para desenvolver cenas isoladas, em uma narrativa que de tão pretensiosamente óbvia, possui ares de sátira. Talvez o momento mais explícito dessa verve de “Vermelho Monet” seja o diálogo entre Florence, interpretada por Samantha Heck Müller, e Antoinette, interpretada por Maria Fernanda Cândido, que apesar das trocas de olhares com nítido desejo, parecem abraçar o caráter mais intelectual de varanda possível, com Antoinette falando de grandes pintores, da necessidade do desejo e paixão na arte, e a outra, em tom jocoso, proferindo frases como “Portanto, é alquimista! Capaz de transformar merda em arte”, segundos depois Antoinette declara que “Coubert era mais Xvideos” e Florence quase cospe seu vinho, aparentemente impressionada com a franqueza do comentário de Antoinette. Vale mencionar que não conheço o trabalho de Samantha, mas seus gestos de espontaneidade não conseguem convencer o espectador. 

Se toda essa suposição e pretensão de um mundo artístico altamente intelectualizado e irascível fragiliza “Vermelho Monet”, pode-se dar crédito à direção, e direção de fotografia, por oferecer o disparo fatal. Justamente por se agarrar ao tipo mais clichê e burocrático, com seus diálogos embaralhados de maneira pretensiosamente fragmentados, por insistir em uma estética que procura sedução nos cenários que apresenta, sem conseguir criar nenhum tipo de dramaticidade para seus personagens e fazer com que o tesão e a paixão, tão citadas ao longo da projeção, sejam tão assépticos que o espectador saia da sessão esgotado, como se saísse de um ritual de alta sociedade que cita que “a arte existe porque a vida não basta” para tentar justificar aquilo que o espectador acabou de presenciar por duas horas e vinte. 

1 Nota do Crítico 5 1

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