Festival Curta Campos do Jordao

Uma Carta para Papai Noel

Institucional natalino

Por Vitor Velloso

Festival de Brasília 2023

Uma Carta para Papai Noel

Após assistir “Uma Carta para Papai Noel”, é possível afirmar que a carreira cinematográfica de Gustavo Spolidoro dá um filme. Sem saber exatamente para onde iria essa narrativa, mas definitivamente teriam diversos plot twists. Dirigindo o curioso “De Volta ao Quarto 666” (2008), o estranho, mas ousado “Ainda Orangotangos” (2007) e o complicado “Os Dragões” (2021), Gustavo Spolidoro faz de um currículo cinematográfico uma verdadeira montanha-russa, com direcionamentos opostos e com conceitos que realmente não dialogam. 

Realizado como um longa de Natal regular, “Uma Carta para Papai Noel” parece um filme publicitário que vende algum conceito empresarial por trás. Está claro que não se trata de um longa muito original, pelo contrário, parece só cumprir uma série de requisitos necessários para um projeto do gênero. Desde a produção industrial de presentes e a organização burocrática por trás do funcionamento da data, que inclui férias para os funcionários do Papai Noel, o filme parece estar mais preocupado em mostrar um bom velhinho high tech e descolado que um lado lúdico e sensível para as crianças presentes no cinema. É claro que possui algum grau de efetividade para o público alvo, aliás é trabalhando com símbolos, figuras, representações que o cinema de gênero funciona. Contudo, trata-se de um longa que não consegue esclarecer qual seu propósito na questão “Natal”, tornando tudo muito frustrante. 

Outro tópico comprometedor foi a cópia disponibilizada para a imprensa, que possui um grau de saturação no vermelho bastante irregular, fazendo com que roupas e texturas ficassem com um granulado inconstante. Pode-se imaginar a quantidade de vermelho que há em um filme de Natal. 

Entretanto, quando o assunto é desenvolvimento de personagens, a coisa fica ainda mais aguda, pois “Uma Carta para Papai Noel” insiste nas saídas fáceis como a representação quase maléfica do mundo adulto, a velha postura de subestimar as crianças e os efeitos especiais forçados para tentar criar algum grau de ambientação distinto para o projeto, mesmo sem orçamento para se destacar neste sentido. O resultado são algumas sequências realmente constrangedoras, com queda de quadros e modelos importados de propagandas institucionais. E este é um dos problemas do novo filme de Gustavo Polidoro, acreditar que a mera representação e simbolismo do que a propaganda diz ser o Natal, basta para transformar a película em algo com o “espírito natalino”. Não é bem assim. 

Por essas razões, o longa fica artificial, forçado e parece preparar alguma resposta para a figura cruel de Léia,  interpretada por Elisa Volpatto, e quando essa conclusão chega, a explicação e redenção não dão conta do recado e se há dois minutos entre um e outro, é muito. Toda a carga de rancor e decepção que sua personagem carrega, desaparece em uma resposta que a própria personagem dá. Desta forma, o filme assume uma postura insolente no desenvolvimento de seus personagens, levando em consideração apenas os dispositivos que vão empurrar a narrativa para o mais próximo possível de uma hora e meia de projeção. 

Diferente de alguns colegas que acreditaram que o Papai Noel high tech é um dos maiores problemas da obra, é possível afirmar que o maior problema da obra é não possuir alma para lidar com um tema tão sensível para as crianças. “Uma Carta para Papai Noel” nasce de uma carta real de uma criança para o bom velhinho, mas é cumprido no cinema como um funcionário bate ponto na empresa. Produto entregue. 

Em uma das cenas iniciais, vemos inteligência artificial e uma Alexa natalina reagir a um comentário de Papai Noel, interpretado por José Rubens Chachá, e quando nos deparamos com a atuação da Maria Noel, interpretada por Totia Meireles, podemos concluir que o descompasso entre a inocência do Natal e o filme institucional é mais complexo que parece e que não há uma boa vontade envolvida ali. 

1 Nota do Crítico 5 1

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