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UglyDolls

Tudo de novo

Por Vitor Velloso

UglyDolls

Se a simplicidade é o trunfo de alguns filmes, para outros pode ser um problema a ser enfrentado na base de sua produção dramatúrgica, a partir da necessidade de criar as amarras concretas às situações do roteiro (ônus de produtos mercadológicos). Talvez seja este um dos principais problemas de projetos que investem massivamente em um público alvo bastante jovem, mas invertendo a ideia de produção, pensando primariamente o público através da temática e a narrativa em si fica de pano de fundo, e à imagem fica o papel de seduzir o espectador. “UglyDolls” não é exatamente um projeto novo na indústria, nem visualmente, muito menos tematicamente, ele apenas utiliza diversos recursos estilísticos que foram bem sucedidos ao longo dos últimos anos, inclusive “Trolls” e parte de uma premissa minimamente social para que alguns temas/conceitos possam ir sendo introduzidos às crianças de maneira didática e não agressiva. Questões como a necessidade de provação, o bullying, a autoaceitação, a uniformidade de um padrão plástico e intelectual do que é “perfeição”, e claro, como estes modelos são vendidos através de uma indústria fálica e fúnebre.

Dirigido por Kelly Asbury, “UglyDolls” busca trabalhar uma questão de relação através de características comuns de seu mundo, ou personagem, ele consegue conceber a diferença primordial entre o mundo dos protagonistas e dos antagonistas, a partir da funcionalidade do espaço-tempo em quadro. Nós vemos a diferença formal em retratar os dois, ainda que diversas vezes se utiliza o clichês para tal. Visualmente é bastante convencional, colorido, com uma fisicalidade hiperbólica, expressões contundentes etc. As diversas possibilidades estéticas que poderiam ser trabalhadas aqui foram esquecidas na finalidade de fixar aquilo que mais importa em quesitos mercadológicos, o público, ou seja, nada de grandes feitios técnicos ou visuais, manter-se no seguro é sinônimo de sucesso.

Um dos pontos importantes que podem ser abordados ao nos referirmos ao longa, é a questão do choque entre as duas civilizações, ambos não se conheciam, primeiro contato, a dramatização maior surge através dos “perfeitos”, pois, os protagonistas apesar de sentir as divergências são capazes de seguir seu caminho sem maiores escândalos. O mesmo, claro, não pode ser dito dos engomadinhos, que se assustam correm e fazem algazarra ao ver que a uniformidade com a qual estavam acostumados, foi rompida. É um dos pontos fortes aqui, como se cria essa relação, essa base no roteiro, por sua vez uma problemática, através de um tema tão desonesto do ponto de vista histórico. Ao mesmo tempo, parte de seu desenvolvimento prova que não há espaço para discussões maiores nestes filmes, infelizmente, no máximo um verniz do debate, ou mesmo uma flexibilização política que irá sustentar uma superficialidade no ecrã. Agora, não é possível saber se o recuo quanto estas questões, se deu a partir de um medo coletivo de fracasso mercadológico, ou por subestimar excessivamente a inteligência das crianças. Compreenda, não que as mesmas deveriam estar à frente de debates políticos, de uma colonização massiva, por vias físicas ou culturais etc. mas que de fato elas são mais capazes que a indústria acredito, isso sim.

Ao revermos os antigos longas da Disney de animação, “Dumbo”, “`Pinóquio”, “Bambi”… podemos perceber a confiança que uma geração em desenvolvimento poderia ser levada à uma experiência que não se mantinha na moral e que era compreendida da maneira como deveria. O que ocasionou inclusive o imperialismo monstruoso do Mickey pelo mundo. Não que “UglyDolls” seja necessariamente um projeto com problemas incorrigíveis, mas a falta de inovação e de coragem em determinadas abordagens, que eles propõe ao longo da projeção, acaba tornando o longa mais medíocre do que deveria. Pois possui a coragem de entrar em assuntos realmente polêmicos, se tratarmos de uma questão social, que pode ser aplicada ao racismo (a partir de uma construção mínima que o fenômeno do preconceito ele é fruto de uma construção em sociedade) e diversas outras abordagens, mas acaba abandonando todas elas no meio do caminho, entregando-se ao maquinário industrial Hollywoodiano e perpetuando o status quo canhestro de uma série de produções que prefere manter-se em uma zona de conforto datada e esteticamente falida, que buscar inovações dentro do próprio mercado.

2 Nota do Crítico 5 1

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