Tudo Sobre o Festival do Rio 2024
E a maratona carioca de cinema está de volta de 03 a 13 de outubro com quase 300 filmes, exibindo premiados dos principais festivais e com repescagem até dia 16/10
Por Fabricio Duque
A máxima popular diz que a repetição torna tudo muito mais normalizado. Mas sinto informar que na prática a “parada é outra”. Eu faço a cobertura do Festival do Rio há quinze anos, desde que fundei o Vertentes do Cinema em 2009, e mais cinco como frequentador-público, e, sim, nunca me acostumei. A cada edição, busco acreditar, quase numa ingênua utopia, de que “darei conta” de tudo. De que controlarei melhor minhas emoções. Ledo engano. A ansiedade é mesma: o corpo chega a paralisar e fico como uma “barata tonta” tentando colocar alguma ordem em todo o caos recebido. Sim, quem acha que o Festival do Rio é fofo e tranquilo está completamente equivocado. É literalmente o contrário. Já escrevi muito sobre essa “crueldade” de nos “obrigar” a escolher entre centenas de filmes. Chega a ser sádico.
Na edição 26, em 2024, que acontece de 03 a 13 de outubro, o Festival do Rio continua a mexer com meus sentimentos: fico mais agitado, mais tonto, mais cobrado para “ter que” ver tudo, cobrir tudo, estar em todos os lugares ao mesmo tempo, com ou sem “dedos de salsicha”. E ainda que muitos filmes já saiam da lista de prioridades por terem sido assistidos em outros festivais, como de Roterdã, Berlim, Cannes, por exemplo, ainda assim essa agitação persiste, pululante e dominante principalmente no aumento da frequência cardíaca. É, talvez seja mesmo uma questão de cinefilia: impulso, animação demais e um certo egoísmo competitivo de “ver primeiro, antes de todo mundo” a obra cinematográfica (igualzinho a uma cena de “Os Sonhadores”, de Bernado Bertolucci, que “jovens turcos” sentam na primeira fileira do cinema para “receber antes dos outros” as imagens de uma filme).
Por mais que Ilda Santiago, a diretora executiva do Festival do Rio, tenha dito, em uma das mesas sobre festivais da Mostra de Gostoso do ano passado, que reduziria o número de filmes para que o público pudesse sentir mais a experiência. Pois é, isso não foi cumprido. O Festival do Rio 2024 traz às telas mais de 290 filmes. Uma “insanidade megalomaníaca”?
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“São aproximadamente 300 obras. O grande destaque deste ano são os documentários, que estão se sobressaindo na programação, principalmente os biográficos e da competição, bastante acirrada. E o grande desafio do Festival do Rio 2024 é sempre buscar uma sintonia com o que há de mais contemporâneo, que vem dos principais festivais de cinema do mundo; extrair o melhor do cinema brasileiro (a seleção entre longas e curtas foram mais de 500 filmes). Esse é sempre um desafio muito grande para a curadoria: selecionar os filmes brasileiros que participarão do festival. E ao mesmo deste festival que aponta para o futuro, que ratifica o melhor do contemporâneo, é um festival que tem um pé e uma preocupação muito grande com o passado, com a preservação e o restauro, que está manifestada nas homenagens dos 40 anos de “Paris Texas” (com cópia nova), por exemplo, e também uma mostra dedicada somente aos filmes brasileiros restaurados pelo segundo ano consecutivo no A Cinemateca é Brasileira, com o subtítulo “Resistências Cinematográficas”, porque são filmes que têm como tema em comum o Brasil socialmente ativo (e se questionando) dos anos sessenta, como “Eles Não Usam Black-Tie”, e ainda temos o “Brincando nos Campos do Senhor”, de 1991, em cópia restaurada 33 anos depois. E para terminar, o Festival do Rio volta a sua excelência desde 2014. O festival está se recuperando com o apoio da Shell e da Prefeitura. Esses últimos anos 2021, 2022, 2023 e 2024 são anos de ascendência e de retorno ao patamar de um festival internacional realizado no Brasil merece ter”, disse Ricardo Cota, um dos curadores do Festival do Rio.
O Festival do Rio 2024 (dividido nas mostras Première Brasil, subdividida em Competição – o Troféu Redentor, Novos Rumos, O Estado das Coisas, Geração; Prêmio Felix 10 Anos; Clássicos Brasil Restaurado; A Cinemateca é Brasileira; Expectativa; Panorama Mundial; Première Latina; Midnight Movies; Itinerários Únicos; Clássicos e Cults), é assim mesmo: uma experiência desnorteante, de impacto físico-fisiológico, de reacender gatilhos orgânicos e emoções primárias. É uma jornada viva, vívida, que vai chegando até se instaurar completamente. É uma infestação cinéfila, de submissão receptiva, ao “brincar” com nossas vontades, vibrações, vulnerabilidades, predileções e idiossincrasias mais intrínsecas. “Nenhum grande nome do cinema contemporâneo ficou de fora e o público do Festival do Rio vai assistir, em primeira mão, aos lançamentos de Pedro Almodóvar, Jacques Audiard, Noémie Merlant, Andrea Arnold, Maite Alberdi, Paolo Sorrentino, Costa-Gavras, Oliver Stone, Takashi Miike, Ali Abbasi, Gianni Amelio, Michel Hazanavicius, Daniel Auteuil, Olivier Assayas, Abderrahmane Sissako e Bruce LaBruce”, o texto oficial do festival “ajuda” ainda mais a aumentar a ansiedade.
A Grande Gala de Abertura será com o filme “Emilia Pérez”, de Jacques Audiard, exibido na mostra competitiva oficial do Festival de Cannes 2024. E desta vez para encerrar o Festival do Rio 2024 dois filmes foram escolhidos: um nacional e outro internacional, respectivamente, “O Maníaco do Parque”, de Maurício Eça; e “Conclave”, de Edward Berger, este trazido do Festival de Veneza 2024.
Em 2024, o Festival do Rio celebra também os 10 anos do Prêmio Felix, que abrange os filmes de temática LGBTQIAPN+ que integram a programação do Festival do Rio. Os títulos são avaliados por um júri especial, que escolhe os vencedores nas categorias Melhor Filme Brasileiro, Melhor Filme Inter-nacional, Melhor Documentário e Prêmio Especial do Júri. Há também O Laboratório Universitário de Preservação Audiovisual da Universidade Federal Fluminense (LUPA-UFF) que apresenta filmes inéditos de seu acervo em uma nova edição do Cine Memória Lupa, que este ano homenageia o ícone Ziraldo, falecido em abril. A sessão Resgate da Animação Promocional Brasileira, com curadoria de Fábio Mendes e Rafael de Luna Frei-re, promove um panorama da animação brasileira com filmes publicitários e institucionais. Unindo quatro blocos temáticos – Raridades em Preto e Branco, Acervo Kico Produções, Ziraldo Animado e Do Acetato ao Digital -, a exibição será seguida de debate com os curadores.
A mostra Cinema Capacete tem a proposta de mostrar e discutir outras formas de linguagem que quebrem, façam explodir e/ou discutam o audiovisual. Com uma curadoria especial do artista, Helmut Batista, criador do Capacete, o programa expande a capacidade dos olhares do público, trazendo outros universos visuais para a seleção oficial do Festival do Rio. Festejando mais de 25 anos de projetos, e onde o Festival do Rio abrigou em diversas edições uma programação especial, o Capacete apresenta, este ano, obras dos artistas Gabriel Lester (Países Baixos) – que estará presente para apresentar e discutir seus filmes -, Yael Bartana (Israel) e Amilcar Packer (Chile).
Há também programação no CCJF – Centro Cultural da Justiça Federal, que exibe gratuitamente os filmes: “Propriedade”, “Toda Noite Estarei Lá”, “Sem Coração”, “A Flor do Buriti”, “Mamonas Assassinas – o Filme”, “Levante”, “A Festa de Léo”, “Nosso Sonho”, “Saudade Fez Morada Aqui Dentro”, “Mussum, o Filmis”. Além do RioMarket, o encontro de mercado do Festival do Rio, que praticamente é outro festival, cujo compromisso é o de contribuir para o desenvolvimento da indústria audiovisual nacional e internacional. A sua 26ª Edição acontecerá de 3 a 12 de outubro de 2024, no Armazém da Utopia – Orla Conde, Armazém 6. Sim, o Festival do Rio 2024 é um festival de vários também inclusivos.
Na Première Brasil, o jurados deste ano terão trabalho, especialmente pelo desenho de sua curadoria. O Júri da Competição Principal é composto pela atriz argentina Mercedes Móran (a Presidenta), que está em “A Procura de Martina”, de Márcia Faria, em competição na mostra Novos Rumos, seguido da produtora francesa Emilie Lesclaux, que criou, ao lado de Kleber Mendonça Filho, a CinemaScópio; a produtora e fundadora do Festival de Santiago, Gabriela Sandoval; a diretora de “Diálogos com Ruth de Souza”, Juliana Vicente; a editora de som Maria Muricy; o produtor Marcello Ludwig Maia; e o diretor francês Yann Le Quellec. E escolherão os vencedores da lista que incluí: as ficções “Baby”; “Betânia”; “Enterre seus Mortos”; “Kasa Branca”; “Lispectorante”; “Malu”; “Manas”; “O Silêncio das Ostras”; “Os Enforcados”; “Retrato de um Certo Oriente” e “Serra das Almas”. Os documentários: “3 Obás de Xangô”; “A Queda do Céu”; “Alma Negra, do Quilombo ao Baile”; “Apocalipse nos Trópicos”; “Mambembe”; “Quando Vira a Esquina” e “Salão de Baile”. E os curtas: “A Arte de Morrer ou Marta Diptero Braquícero”; A Cabana”; A Menina e o Pote; “A Natureza”; “Jogo de Classe”; “Linda do Rosário”; “Minha Mãe é uma Vaca”; “O Tempo é um Pássaro”; “Procura-se uma Rosa”; “Queimando por Dentro”; “Stella do Patrocínio e a Gênese da Poesia”. Ufa! Quem disse que é fácil ser jurado, nã é mesmo?
Já o Júri da Novos Rumos, temos o roteirista Lucas Paraíso (de “Os Outros” e “Sob Pressão”), como Presidente; o diretor brasileiro Ricardo Aves Jr.; a gerente do CineSesc Simone Yunes; e a diretora Natara Ney (de “Espero que Esta Te Encontre e que Estejas Bem”), que “rebolarão” para escolher entre os longas “A Procura de Martina”; Ainda não é amanhã”; Avenida Beira-Mar”; Centro Ilusão”; Continente”; Incondicional – O Mito da Maternidade”; O Deserto de Akin”; e “Paradeiros”, e os curtas: “Carne Fresca”; Corpo Aberto”; E Seu Corpo É Belo”; Fenda”; O Céu Não Sabe Meu Nome”; Pequenos Traficantes Brancos: “Ressaca”; e “Vollúpya”.
E o Júri Prêmio Felix – 10 anos é composto pelo editor de moda Rogério Espirito Santo (como Presidente); a cineasta Alma Flora; e a atriz Indira Nascimento, que escolherão entre os curtas “Carne Fresca”; “Corpo Aberto”; “E seu Corpo é Belo”; “Ponto e Vírgula”; “Queimando por Dentro”; “Vollúpya”, e entre os longas: “A Herança”; “Avenida Beira-Mar”; “Baby” e “Salão de Baile”.
Sim, outro desafio que o próprio Festival do Rio 2024 continua nos “oferecendo” é, logicamente, ter que escolher os filmes. É óbvio que não se consegue assistir tudo. Mas a “pegadinha” é que as sessões dos próprios filmes brasileiros “batem” com horários, e com a necessidade de se deslocar. Por exemplo, é impossível, fisicamente, por conta do trânsito e do tempo reduzido, alguém conseguir sair de Botafogo às 21:00 e chegar a Gávea antes das 21:45. Sim, dois filmes importantes. Eu confesso que nunca entendia essa dinâmica e logística na hora da montagem da programação. Pois é! Como faz? E sim, para tentar um pouco amenizar a agonia dos cinéfilos-leitores mais desesperados, trago a seguir uma lista-cotação dos filmes vistos em outros festivais e também do que iremos assistir.
LISTA COTAÇÕES DOS FILMES ASSISTIDOS ATÉ AGORA
5 CÂMERAS-ESTRELAS
“O Quarto ao Lado”, de Pedro Almodóvar (Prêmio Leão de Ouro de Melhor Filme do Festival de Veneza 2024) – Mostra Panorama Mundial
“As Aventuras de uma Francesa (Yeohaengjaui Pilyo)”, de Hong Sang-soo (Grande Prêmio do Júri do Festival de Berlim 2024)
“Os Enforcados”, de Fernando Coimbra (lista atualizada: assistido na Mostra Première Brasil: Competição Longa-metragem Ficção)
“Meu Bolo Favorito (Keyke Mahboobe Man)”, de Maryam Moghaddam e Behtash Sanaeeha (Prêmio Ecumênico e Fipresci da Crítica do Festival de Berlim 2024) – Mostra Panorama Mundial
4 CÂMERAS-ESTRELAS
“O Aprendiz (The Aprrentice)”, de Ali Annasi (Competição Principal do Festival de Cannes 2024) – Mostra Panorama Mundial
“Baby”, de Marcelo Caetano (Prêmio de Ator Revelação para Ricardo Teodoro na Semana da Crítica do Festival de Cannes 2024) – Mostra Première Brasil: Competição Longa-metragem Ficção
“Língua Estrangeira (Langue Étrangère)”, de Claire Burger (Competição Principal do Festival de Berlim 2024) – Mostra Panorama Mundial
“Lula”, de Oliver Stone (Seleção oficial do Festival de Cannes 2024) – Mostra Panorama Mundial
“Mad God”, de Phil Tippett (Seleção oficial do Festival de Locarno 2021) – Mostra Midnight Movies
“Retrato de um Certo Oriente”, de Marcelo Gomes (Seleção oficial Festival de Roterdã 2024) – Mostra Première Brasil: Competição Longa-metragem Ficção
“Semana Santa (Sāptāmâna Mare)”, de Andrei Cohn (Mostra Forum do Festival de Berlim 2024) – Mostra Expectativa
“Tempo Suspenso (Hors du Temps)”, de Olivier Assayas (Competição Principal do Festival de Berlim 2024) – Mostra Panorama Mundial
“Tesouro (Treasure)”, de Julia von Heinz (Mostra Berlinale Special do Festival de Berlim 2024) – Mostra Panorama Mundial
“Trilha Sonora Para um Golpe de Estado (Soundtrack to a Coup d’Etat)”, de Jonah Grimonprez) – Mostra Panorama Mundial
3 CÂMERAS-ESTRELAS
”Architection”, de Victor Kossakovsky (Competição Principal do Festival de Berlim 2024) – Mostra Panorama Mundial
“Betânia”, de Marcelo Botta (Mostra Panorama do Festival de Berlim 2024) – Mostra Première Brasil: Competição Longa-metragem Ficção
“Bird”, de Andrea Arnould (Competição Principal do Festival de Cannes 2024) – Mostra Panorama Mundial
“Black Tea – O Aroma do Amor”, de Abderrahmane Sissako (Competição Principal do Festival de Berlim 2024) – Mostra Panorama Mundial
“Caminho da Vida (Shambhala)”, de Min Bahadur Bham (Competição Principal do Festival de Berlim 2024) – Mostra Expectativa
“Dormir de Olhos Abertos”, de Nele Wohlatz (Prêmio Fipresci da Crítica na Mostra Encounters do Festival de Berlim 2024) – Mostra Première Latina
“A Garota da Agulha (Pigen Med Nálen)”, de Magnus Von Horn (Competição Principal do Festival de Cannes 2024) – Mostra Panorama Mundial
“A Mais Preciosa das Cargas (La Plus Précieuse Des Marchandises)”, de Michel Hazanavicius (Competição Principal do Festival de Cannes 2024) – Mostra Panorama Mundial
“No Céu da Pátria Nesse Instante”, de Sandra Kogut – Mostra Première Brasil: O Estado das Coisas Longa-metragem Ficção
2 CÂMERAS-ESTRELAS
“Emilia Pérez”, de Jacques Audiard (Competição Principal do Festival de Cannes 2024) – Filme de Abertura
“Gloria! Acordes Para a Liberdade (Gloria!)”, de Margherita Vicario (Competição Principal do Festival de Berlim 2024) – Mostra Panorama Mundial
“O Império (L’Empire)”, de Bruno Dumont (Prêmio do Júri no Festival de Berlim 2024) – Mostra Midnight Movies
“Três Quilômetros Para o Fim do Mundo (Trei Kilometri Până la Capatul Lumii)”, de Emanuel Parvu (Competição Principal do Festival de Cannes 2024, Prêmio Palm Queer) – Mostra Panorama Mundial
“Parthenope”, de Paolo Sorrentino (Competição Principal do Festival de Cannes 2024) – Mostra Panorama Mundial
“A Procura de Martina”, de Márcia Faria (lista atualizada: assistido na Mostra Première Brasil: Novos Rumos Longa-metragem Ficção)
1 CÂMERA-ESTRELA
“A Quem Eu Pertenço (Mé el Aïn)”, de Meryam Joobeur (Competição Principal do Festival de Berlim 2024) – Mostra Expectativa