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Tudo Sobre o Festival Curta Campos do Jordão 2023

Tudo Sobre o Festival Curta Campos do Jordão 2023

Cinema, Cultura e Araucárias, na Serra da Mantiqueira chega em sua 9ª edição com homenagem a Jeferson De e se consolida como um dos principais festivais de cinema, do Vale do Paraíba

Por Clarissa Kuschnir

Desde 2018, minha agenda da terceira semana de outubro é toda voltada para um dos festivais que mais veem crescendo no interior paulista. E é no alto dos 1.680km que fica o Espaço Dr. Além, ou o conhecido por muitos como o antigo Cine Glória (tombando pelo patrimônio histórico e cultural da cidade) localizado na turística Campos do Jordão, que pelo nono ano recebeu mais uma edição do Curta Campos do Jordão. E esse ano, o evento, que ocorreu entre os dias 23 à 29 de outubro, contou com uma programação extensa. Além das exibições de 108 curtas, que concorriam em diversas categorias ao Prêmio Araucária, as tardes e noites eram preenchidas com diversas sessões, e as manhãs eram culturais para os convidados, que puderam conhecer o Auditório Cláudio Santoro (palco de muitos Festivais de Inverno); o museu a céu aberto Felicia Lerner (que fica no mesmo complexo do auditório); o museu da Casa da Xilogravura e para a felicidade dos cinéfilos ali, o Cinema Paradiso – O Museu do  Cinema, localizado na vizinha e aconchegante cidade de São Bento do Sapucaí. E eu, como uma cinéfila apaixonada, posso garantir que é um lugar que respira cinema. É sem dúvida um lugar onde todos, que amam essa arte mais recente com um pouco mais de 100 anos, deveriam conhecer. Mas isso é uma história para uma outra pauta, pois o museu merece essa atenção.

Voltando ao festival, os mais de 108 curtas das mostras competitivas foram divididos nas categorias: animação, documentário, ficção, experimental e regional. A abertura contou com a exibição de ótimo e muito falado nos últimos meses, Retratos Fantasmas. O documentário dirigido pelo cineasta pernambucano Kleber Mendonça Filho (já tendo arrecadado mais de 80 mil espectadores, nos cinemas) foi o longa convidado para abrir o evento. E sem dúvida, é um deleite para a geração de cinéfilos que viveram os anos dourados dos cinemas de rua. Eu mesma tive o privilégio de frequentar várias salas em São Paulo, na minha infância. Sem contar que Kleber traz, para os fãs de seu cinema, várias curiosidades sobre o processo de seus filmes, ou seja, é o filme mais pessoal do cineasta, sem deixar de falar com o público em geral. E como o festival é de curtas, antes do longa os convidados puderam assistir ao curta “Recife de Dentro Pra Fora”, da veterana cineasta pernambucana Katia Mesel (que esse ano também fez parte do corpo de jurados do festival ao meu lado, completando esse time com o roteirista Di Moretti). Inclusive, o curta que foi recentemente restaurado e digitalizado em 4k, faz parte de umas das passagens de “Retratos Fantasmas”.

“Eu me sinto muito à vontade nesse espaço, pois sou curta-metragista com todo orgulho. Minha trajetória toda é de curtas-metragens. São mais de 300 filmes. Eu só fiz um longa.  Sei das dificuldades de se fazer um festival e fico muito honrada de estar aqui assistindo essa glória. E é uma honra enorme fazer parte desse filme de Kleber. É um filme que fala da nossa cidade. Fala do Recife. Fala das salas de cinema que fecharam e isso ser entendido em outros espaços, outras civilizações e outras culturas é muito incrível. É um esmero que a qualidade da narrativa de Kleber seja entendida pelo mundo inteiro”, falou Katia ao apresentar seu icônico curta de 1997, que abriu também como convidado, essa edição do Curta Campos do Jordão. 

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O diretor artístico e um dos idealizadores do Curta Campos do Jordão Cervantes Sobrinho (e também um dos curadores do festival) abriu a primeira noite agradecendo aos colaboradores, instituições e estabelecimentos que apoiam o festival.  E sim, os festivais do interior precisam desse apoios e desse trabalho de equipe para acontecerem. E isso, o Curta Campos do Jordão faz com muito profissionalismo, levando o cinema independente para a cidade. 

Sem contar que esse ano o festival realizou uma mostra itinerante três semanas antes, com o chamado “Cinema Peregrino” nas cidades vizinhas de: Pindamonhangaba, no Projeto Mãostiqueira; no Parque da Lagoinha em Campos do Jordão; em São Bento do Sapucaí, e em Tremembé. 

E como o ano passado o festival manteve todas as sessões dos curtas concorrentes no formato online. Ou seja, as sessões de cada dia ficavam no ar durante 24 horas para que os filmes pudessem estar ao alcance nas telas de todo o Brasil e com votação popular, pela internet. E toda essa programação (seja presencial ou online) gratuita.    

Retratos Fantasmas
“Retratos Fantasmas”, de Kleber Mendonça Filho

Entre as sessões dos curtas das mostras competitivas, o festival trouxe também uma mostra para convidados (com filmes que por algumas razões não puderam estar na competitiva, mas com títulos apurados em qualidade técnica e em linguagem). Um dos destaques dessa mostra foi o média-metragem “Teatro BR”, de Alonso Barros, talentoso diretor, bailarino e coreógrafo do teatro musical, que assina seu primeiro trabalho no audiovisual, que tem no elenco nomes como Totia Meirelles e Jarbas Homem de Mello. E sem dúvida, o filme é um espetáculo na tela em imagens, interpretações e números musicais. Como todos os anos, o festival manteve firme as oficinas para as escolas, e os debates com os realizadores. 

Dos curtas vencedores, o maranhense “O Jogo da Navalha”, do cineasta Roberto Pereira levou o troféu Araucária de melhor ficção nacional, pelo júri oficial. Com o tema capoeira, o filme apresenta a navalha como um instrumento e símbolo dos capoeiristas, muito antes do surgimento do berimbau. E até hoje, a cidade é um dos redutos de navalhistas do nosso país. 

Para melhor direção o júri escolheu Big Bang, de Carlos Segundo, que com roteiros muito criativos, tem se tornado um dos cineastas mais premiados do Brasil e do mundo.  O filme, que foi rodado no interior de minas gerais, e que tem como tema o nanismo, recebeu o prêmio de melhor curta no Festival de Locarno, entre outros importantes prêmios, em diversos festivais. Para melhor roteiro o curta escolhido foi para o documentário “Por Trás dos Prédios”, do alagoano João Mendonça. O filme mostra o descaso do governo anterior que durante a visita na cidade, coloca tapumes para esconder uma ocupação na cidade.

Big Bang
“Big Bang”, de Carlos Segundo

Na categoria experimental e com tema sobre o feminicídio, porém belo em imagens e muito poético, o curta “Como Água Que Sobre a Água Corresse”, da cineasta Lúcia Bronstein, levou o Prêmio Araucária. Já a animação “Ciranda Feiticeira”, do veterano e pioneiro na animação pernambucana Lula Gonzaga, que teve como parceiro de direção seu filho Tiago Delácio, foi escolhido como o melhor curta na categoria. Para melhor documentário, o troféu Araucária foi para “Deus Não Deixa”, de Marçal Viana. Com o tema LGBTQIA+, o diretor apresenta um personagem em busca do autoconhecimento, que vive o conflito entre buscar a religiosidade na igreja evangélica e assumir sua identidade sexual.

E como todos os anos, a categoria regional vem crescendo com filmes de cidades do Vale do Paraíba. E esse ano, a sessão de filmes surpreendeu em qualidade e criatividade. Tanto que o curta escolhido abordou como tema uma interessante personagem da cidade de Jacareí que conserta guarda-chuvas. Sim, ela conserta esses objetos que muitos de nós jogamos fora, pois achamos que é mais fácil comprar outro do que consertar. Mas a dona “Marta – Consertadora de Guarda Chuvas”, como é chamado o filme de Dannyel Leite é ótima no ofício, que não parece nada fácil. E o filme merecidamente foi o vencedor do Prêmio Araucária.

Já o voto do público nessa mesma categoria foi para Empathy”, de Marcos Rangel de Paraibuna. E para curta nacional, o filme escolhido pelo público foi “Um Lugar Chamado Zumbi”, da cineasta Carolina de Cássia. O filme, que foi rodado no Rio Grande Norte, fala sobre as muitas histórias (que realmente tocam nossas emoções) sobre os moradores da praia do Zumbi. Além desses prêmios, o júri oficial escolheu o curta documentário “Orgulho Não é Junino”, de Dimas Carvalho, que ganhou tradução e legendagem da empresa Centauro. E sim, é um prêmio importante para que nosso filmes possam atravessar oceanos.

A HOMENAGEM

Jeferson De

A homenagem dessa 9ª edição foi para o renomado e premiado cineasta Jeferson De (“Doutor Gama“, “M8 – Quando a Morte Socorre a Vida“, “Correndo Atrás”, “Bróder“) que já tem uma longa história com o festival. Além de ter participado como júri em edições passadas, Jeferson, que inclusive nasceu muito próximo de Campos, na cidade de Taubaté, também foi um dos primeiros oficineiros do festival e incentivadores da continuidade do evento que hoje, se tornou um os principais da região e do Brasil. 

“Muito obrigado ao festival Curta Campos do Jordão, ao Paulo, ao Cervantes e a cada um que está aqui nesse momento. É extremamente importante esse reconhecimento. Eu confesso que é meio estranho eu estar em plena atividade audiovisual nesse momento. Eu estou dirigindo uma novela na TV Globo, além de continuar fazendo filmes. É estranho eu ser homenageado, mas eu aceito essa homenagem em nome de todas as pessoas que vocês viram, aqui na frente da tela e a todas as pessoas que me antecederam aqui antes. E quando vi a vinheta pela primeira vez eu pensei, sou eu lá. Então me senti super-representado”, disse Jeferson, que ainda complementou que foi indo para a escola na sua cidade, no bairro do Quiririm, que ele viu Mazzaropi filmando, e que muitas vezes deixou de ir estudar para ficar assistindo aos set do filmes do “jeca tatu”.

CONFIRA A LISTA COMPLETA DOS VENCEDORES  DO FESTIVAL CURTA CAMPOS DE JORDÃO 2023

O jogo da Navalha

JÚRI OFICIAL

Melhor Curta de Ficção:  “O Jogo da Navalha”, de Roberto Pereira – São Luís (MA)

Melhor Direção: Carlos Segundo por “Big Bang” – Natal (RN)

Melhor Roteiro: “Por Trás dos Prédios”, de João Mendonça – Macéio (AL)

Melhor Curta Experimental Nacional: “Como Água Que Sobre a Água Corresse”, de Lúcia Bronstein – São Paulo (SP)

Melhor Curta de Animação Nacional: “Ciranda Feiticeira”, de Lula Gonzaga e Tiago Delácio – Olinda (PE)

Melhor Documentário Nacional: “Deus Não Deixa”, de Marçal Viana – Nova Iguaçu (RJ)

Melhor Curta Regional: “Marta – Consertadora de Guarda-Chuva”, de Dannyel Leite

Prêmio Centauro de Tradução e Legendagem: “O Orgulho Não é Junino”, de Dimas Carvalho – Campina Grande (PB)

JÚRI POPULAR

 Melhor Curta Regional: “Empathy”, de Marcos Rangel – Paraibuna (SP)

Melhor Curta Nacional: “Um Lugar Chamado Zumbi”, de Carolina de Cássia – Campos dos Goytacazes (RJ)

Festival Curta Campos do Jordão 2023

Festival Curta Campos do Jordão é organizado e produzido pela Associação Cultural Cineclube Araucária de Campos do Jordão em parceria com a Secretaria Municipal de Valorização da Cultura, com o apoio do Conselho Municipal de Turismo, da Secretaria Municipal de Turismo e Desenvolvimento Econômico, do Campos do Jordão e Região Convention & Visitors Bureau e das empresas Natureza Maluca, Webz Comunicação Digital, VideoMidia Produção e Edição de Vídeos, GWG Telecom e Centauro Comunicaciones. A sua 9ª edição, acontecerá entre os dias 23 e 28 de outubro de 2023. Acesse aqui o site do festival!

O FCCJ é um projeto especial que tem por objetivo abrir espaço para a difusão da produção audiovisual na Região da Mantiqueira, no estado de São Paulo e em todo o território nacional, além de estimular a criatividade e promover a revelação de talentos, através da produção independente de filmes de curta-metragem e do contato direto entre realizadores de obras audiovisuais de todo o País com os participantes dos programas de formação desenvolvidos pela Associação Cultural Cineclube Araucária juntamente com a Secretaria de Valorização da Cultura da Prefeitura de Campos do Jordão, com vistas à busca de novos horizontes profissionais, sobretudo entre os jovens artistas locais e das Regiões: Mantiqueira, Vale do Paraíba e Litoral Norte do estado de São Paulo.

Iniciado a partir de uma série de Oficinas de Cinema promovidas pelo Cineclube Araucária em 2015, o Festival Curta Campos do Jordão cresce sensivelmente e amplia as suas fronteiras a cada nova edição. Em 2022, por exemplo, 570 obras provenientes de 24 Estados brasileiros, do Distrito Federal e de alguns outros Países foram inscritas para concorrer ao Prêmio Araucária de Cinema, nas várias categorias previstas no seu regulamento. Os 102 curtas selecionados foram assistidos por uma plateia que atingiu um total de 11.910 espectadores, entre presenças físicas e público virtual. Na mesma edição também foram oferecidos Oficina de Stop Motion para o público infantil, lançamento de livro, três bate-papos entre realizadores e convidados especiais, além de passeios guiados por pontos turístico-culturais importantes em Campos do Jordão.

Pix Vertentes do Cinema

  • Fiquei maravilhada com o relato dessa preciosa edição do 9 Curta de Campos do Jordão! Parabéns á toda equipe do Cine Club, e também a todos que puderam concorrer.

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